Em suas redes sociais a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) acaba de postar uma profunda análise sobre a situação da esquerda na eleição do Rio de Janeiro.
De acordo com Jandira, “esquerda sem povo e sem ampliação não vai muito longe, como a história das batalhas eleitorais do Rio nos ensina”.
Leia abaixo o texto na íntegra.
O recado das urnas no Rio e o comportamento da Esquerda
Por Jandira Feghali
A política se expressa de muitas formas e, neste momento pós eleições municipais do Rio, vale uma pequena reflexão. As urnas falam e falam bem alto. Porém os gestos também falam alto, pois refletem uma visão de presente e de futuro, direcionam estratégias, determinam aliados, a relação com eles e compromissos reais com o povo.
A vitória da negação da política e o comando da prefeitura do Rio em mãos conservadoras são um retrocesso. Lamento sinceramente a derrota de Marcelo Freixo, candidato apoiado por nós do PCdoB e demais forças de esquerda no segundo turno.
O palanque de Marcelo Crivella mostrou uma unidade de centro-direita, com lideranças religiosas e a expressão de uma visão atrasada de como “cuidar das pessoas”, por meio da negação da diversidade e pluralidade, características muito fortes na sociedade carioca.
O processo eleitoral ocorreu debaixo de um golpe institucional, da violação da nossa Constituição, da criminalização da política, com foco na eliminação da esquerda que governou o Brasil e em consequência dos direitos por ela garantidos.
Sinais de fascismo e Estado de exceção com envolvimento de agentes públicos dos três Poderes marcaram os últimos meses, contando com amplificação e consolidação da criminalização da política pela Grande Mídia, particularmente pelo sistema Globo de televisão, rádio, jornais e revistas semanais. Ao analisar este cenário, não concordo com os que acham que os erros da Esquerda foram a razão do golpe e da desesperança do povo, mesmo admitindo que existiram muitos erros.
Tudo isso tem exigido de nós uma demarcação clara de campo, a inserção da cidade que queremos neste contexto e o máximo de unidade possível do campo mais avançado e da Esquerda em particular. Todos sabíamos que no primeiro turno, o voto útil unificaria a opção do eleitorado à esquerda. Ficou claro que minha candidatura foi atingida por este movimento.
No segundo turno, porém, a unidade e a ampliação seriam fundamentais para enfrentar no Rio a onda conservadora que varreu o Brasil. Ainda que não ganhássemos a eleição, teríamos dado um grande passo em direção a uma perspectiva futura de unidade das esquerdas e do campo progressista. A soma não é apenas matemática, mas de forte simbolismo político.
No entanto, não dar visibilidade ao apoio do PT, da REDE e do PCdoB foi uma opção nítida da campanha de Marcelo Freixo, e a única alternativa que nos restou foi respeitar uma estratégia onde não cabíamos. Falando por minha candidatura, reafirmo meu compromisso no segundo turno, quando declarei apoio à candidatura do PSOL antes mesmo de terminada a apuração dos votos do primeiro turno.
Fizemos outras declarações públicas durante o processo, com vídeos, presença em atos na Cinelândia – como o de mulheres – com nossa tradicional militância presente na rua durante todo o tempo e de forma muito bonita. Mas é necessário dizer à sociedade que, se mais não fizemos foi porque entendemos o recado e respeitamos a decisão da candidatura de Freixo, que não buscou a nossa opinião, muito menos a nossa presença em demais atividades, imagens, TV e redes sociais.
Ao emitir uma “Carta aos Cariocas” para, tardiamente, atrair o eleitor de classe média mais ao centro, equivocou-se. Na minha opinião, seu conteúdo reforçou um movimento de “despolitização da política” fortemente presente no país, que acabou marcando as duas campanhas neste segundo turno e que pode ter contribuído para o altíssimo índice de abstenções. Isso foi visto, sintomaticamente, em maior grau na Zona Sul e bairros de classe média do que nos territórios populares.
A história já diz. As vitórias eleitorais da Esquerda no Rio sempre estiveram respaldadas no voto popular, e grandes votações nas zonas norte e oeste. Foi assim nas eleições de Brizola para governador em 1982 e em 1990. Lula, por exemplo, sempre teve votações expressivas no Rio de Janeiro, desde a sua primeira campanha em 1989. Em 2002 e em 2006, teve média de 70% dos votos nas zonas norte e oeste, performance repetida por Dilma em 2010.
O PSOL, que optou por não receber o apoio de Lula em sua campanha, nunca conseguiu chegar perto deste patamar nas regiões populares desta cidade. Faltou povo no seu eleitorado, porque talvez falte construir pontes com os setores da esquerda que construíram lastro e raízes históricas junto aos setores populares. Como escreveu Sidney Rezende em seu portal, “ajudar a Direita a desconstruir os demais partidos de Esquerda, principalmente o PT, pode abrir estradas ao PSOL, mas pode afastar delas quem ainda acredita que a esquerda mais unida, ainda que com divergências, seja indispensável para merecer seu voto”.
E a segunda lição das urnas para o PSOL é que a ofensiva anti-PT e anti-esquerda desencadeada nestas eleições municipais atinge também o próprio PSOL. O partido perdeu as 3 eleições que disputou nesse segundo turno, e vai governar apenas 2 pequenos municípios em todo o país. Pau que bate em Chico, bate em Francisco.
O mapa da votação na cidade é eloquente e fala por si. Esquerda sem povo e sem ampliação não vai muito longe, como a história das batalhas eleitorais do Rio nos ensina.
A responsabilidade agora é de todos nós.
Olhar para o futuro e repensar o papel da Esquerda, dos movimentos sociais em conteúdo, gestos e forma de relação com a sociedade, particularmente o povo trabalhador e menos aquinhoado. No centro do nosso projeto deve estar a recuperação democrática, os direitos e o desenvolvimento do nosso país.
Os desafios são muitos e devemos trabalhar em unidade e frentes amplas que nos permitam recuperar nossa referência. Devemos reconhecer a lição que saiu das urnas e seguir apoiando e incentivando a juventude em luta nas periferias, nas escolas e universidades ocupadas, os trabalhadores e mulheres guerreiras, os artistas que se expuseram com riscos reais para suas carreiras.
Há muito que fazer para superar os nossos limites e visões que dificultam composições mais amplas no campo da Esquerda e dos setores progressistas. É preciso permitir acumular forças entre os que defendem, como nós, um futuro de politização, ampliação da democracia e vitória do nosso povo contra a dramática agenda de Estado mínimo em implantação por este governo
Souza
07/02/2017 - 20h41
Povo maluco o Brasil não existe esquerda ou direita oque existe é um lado só, o lado da corrupção…
Geraldo Jr.
01/11/2016 - 13h06
Na atual conjuntura, taticamente falando, a Katia Abreu demonstrou estar mais a esquerda do que parcela do PSOL.
Tendo claro que vivenciamos um GOLPE DE ESTADO, a unidade da esquerda era o caminho correto, politicamente falando.
Tendo esse foco, se Freixo fosse eleito, seria uma “porrada” na elite, a classe dominante.
Mas, mesmo se não fosse eleito, também seria uma vitória.
Pra quem?
Seria um salto na CONSCIÊNCIA POLÍTICA dos excluídos e Trabalhadores.
Porém, parcela desses grupos “puritanistas” não parecem compreender o
atual contexto, e acreditam que a verdade e o caminho, na política, é
único e exclusivamente deles. Tais atitudes são tão diferentes do
Fundamentalismo de Crivella.
Parabéns a reflexão de Jandira Feghali ! Texto: https://www.ocafezinho.com/…/jandira-feghali-esquerda-sem-p…/
Também torci pela vitória do Freixo. Mas com foco claro : Abaixo o
Golpe ! Cadeia pra elite ! Moro e Polícia Federal representam os
interesses da elite !
Ou basta o rico roubar, depois “dedurar”, pagar e ficar livre?!
Quase todos os corruptores, donos de empresas, milionários, não estão
na cadeia. Ganharam “Delação Premiada;Pagaram fiança ( são ricos, têm
dinheiros ) e estão livres. Grande Juiz, este, não é? E gente da
esquerda ecoando esses “elogios” vide Rede Globo …..
Dimas Trindade
01/11/2016 - 15h05
Há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há. Falou tudo. Isso é o PT. A Katia Abreu é esquerda e o Marcelo Freixo é direita. Então vamos ficar assim. Coloca todo os restante na esquerda: o PP do Maluf, o PRB do José Alencar, o PMDB do Temer, do Jucá e de toda a corja com quem voces privilegiam as alianças. Eu prefiro a direito do Freixo.
Puente Llaguno
01/11/2016 - 01h14
A questão é que o povo sem esquerda também não vai, por isso, ela nunca morre, pois os abusos da direita neoliberal sempre foi a abertura para alternativas ao que é pre estabelecido como o natural, e a esquerda tem nova oportunidade.
A esquerda sobreviveu no poder nos últimas eleições, porque a realidade afrontava o fatalismo e a preguiça da mídia com boas notícias, mas é só a situação econômica piorar, q a análise da situação fica mais complexa, principalmente para o povão, o operariado, etc, o que evidencia o real problema da esquerda, confrontar a narrativa dos fatos, quando essa se apresentar mais necessária e capisciosa.
O que algumas pessoas do PSOL precisam entender é que não vão conseguir implantar planos de governo e se manter confabulando com qq tipo de narrativa golpista para agradar a opinião pública manipulada, terão que contribuir com a quebra desse paradigma e não se aproveitar dele.
Vitor Rezende
01/11/2016 - 00h48
“Os desafios são muitos e devemos trabalhar em unidade e frentes amplas que nos permitam recuperar nossa referência”.
Cuidado com as frentes amplas, que estão amplas demais.
Jandira falou bonito mas não fez nenhuma auto crítica se quer, só falou dos erros do PSOL, que até concordo com alguns, mas não chegam nem perto dos erros do PT.
O PCdoB ajudou a colocar no poder as aves de rapina que ai estão, e ela nem tocou no assunto. Apontar os erros dos outros e esconder os seus é facil. Ela ajudou a eleger e tem as foto dela de mãos dadas no palanque com Cabral, Temer, Crivella, Paes, Garotinho.
Menos Jandirá, menos. O PSOL é novo, e vai levar borduada e vai ter que aprender. Pior é burro velho cair na conversa de Cabral, Pezão, Temer, Maluf e por aí vai.
Não dá para fazer unidade da esquerda, quando uma parte da esquerda escolhe Temer como vice e Maluf como cabo eleitoral.
Quer unidade com quem?
Aliança Nacional Libertadora
01/11/2016 - 10h15
Digamos que o PCdoB e PT, apesar do pragmatismo republicano no governo federal, tenham feito muito mais do que qualquer outro partido…..o PSOL é novo (uns 10 anos) e só o fez ser oposição sem realização. Lembro quando PT era que nem o PSOL lutando como nunca e perdendo como sempre deveriam aprender com os erros dos outros. E olha que o PSOL teve apoio explícito da Globo, Veja e Folha este ganho pelos ataques feitos ao PT algo esperado pelos psolistas aliás…….só disso já é de se desconfiar…..É surreal o PCdoB e o PT apoiar os jornadeiros de junho……apoio ideológico e não por confiança…..O PSOL sempre se disse “oposição” ao contrário de Crivella, o primeiro herdou os votos de Aécio….o segundo da Dilma… o Jean Willys atacando a candidatura da Jandira foi um escárnio……Ficam excitados em enterrar o PT se dizendo “Nova Esquerda” sem de fato ter governado algo de expressão para demonstrar sua capacidade de articulação ou administração e principalmente resiliência em servir de vidraça….
Hilario Muylaert
01/11/2016 - 10h54
Nobre, esqueceu de encaixar no seu comentário o primordial: o modelo de governança conhecido como “coalização executivo-parlamento” existente no Brasil.
O Psol, no Rio, elegeu 5 parlamentares, num universo de 51 ??? Nem 10% da “Casa”.
PT e PCdoB, tinham, também, algo parecido….talvez uns 20% das “Casas Legislativas”.
Dilma “peitou”, bateu de frente com o modelo, e ………..caiu…….foi derrubada
Na Câmara Federal, tínhamos uns 110 à 120 votos num universo de 513…. e perdemos….
O primarismo do Psol…..aliás…será apenas ingenuidade ????
Dado que não temos conseguido maioria nos parlamentos, como mudar o modelo de coalizão atual ??
Por óbvio, pelo próprio parlamento…. é que não será……..
E aí ??
Antonio Carlos Lima Conceicao
01/11/2016 - 15h36
Quando estava liderando as pesquisas em Porto Alegre, Luciana Genro foi perguntada em uma entrevista como administraria o município sem maioria parlamentar. Ela respondeu tal qual Marina e qualquer um que foge da pergunta: vamos fazer alianças programáticas. Difícil é descobrir o que pode haver de comum entre os programas de um governo popular e os interesses de um político de direita
Hilario Muylaert
31/10/2016 - 21h29
Há de se distinguir as origens de PT e Psol. O primeiro surgiu, basicamente, de 4 pilares: dos sindicatos do ABCD paulista, dos movimentos sindicais do serviço público, e estatais, da intelectualidade paulista, carioca, em geral, e de parte da Igreja progressista. Além de uma conjuntura de abertura política, anistia, etc….Não esquecendo que, à semelhança do Psol de hoje com relação ao PT, os petistas e a CUT viam o PDT-RJ e RS, e Brizola mais como “inimigos”, e como “entrave ao crescimento petista” do que como parceiros de esquerda.
Já o Psol não passa de uma espécie de dissidência de grupos, personalidades e políticos do PT, insatisfeitos por motivos diversos. Ou seja, o Psol nasceu do PT —- ao contrário do PT, que tem em sua origem muito mais vínculos com os movimentos organizados da sociedade, etc…
Para citar alguns como exemplo: Genro, H.Helena, Ivan Valente, Chico Alencar, Milton Temer, Erundina, etc…..
O Psol tem “baixar sua bolinha”, como sugeriu a deputada Feghali, e buscar construir um frente de esquerda, até porque a conjuntura nos é totalmente adversa.
Não é hora de disputa por hegemonia no campo da esquerda. Principalmente Genro e Freixo precisam ter “sua orelhas puxadas”.
Marcos Omag
31/10/2016 - 20h26
O PSOL é a parte do PT a qual o grande Leonel Brizola chamava de “UDN de tamancas”. E a UDN sempre foi avessa ao “povão”. Focalizar apenas as questões (importantes) das minorias e deixar o “povão” de lado ao não mostrar ao eleitorado as contradições do PRB no Congresso Nacional em relação ao discurso “cuidar das pessoas” de Marcelo Crivella foi um erro político grosseiro. O PSOL pagou caro por tal erro.
Dimas Trindade
01/11/2016 - 15h01
Voce falou bem. Fui PT; sou PSOL. O PSOL conservou as características do PT original enquanto o PT se aproximou do brizolismo. Concordo com sua análise mas entendo que a verdade está no meio. Em S. Paulo, onde vivo, os melhores quadros do PT foram sendo gradativamente afastados e seus espaços foram sendo ocupados pelo que há de pior no partido. Concordo que deva haver uma frente de esquerda mas ela não pode nem cair no elitismo purista nem no seu extremo oposto. Vejo na atual situação do PT em particular o resultado do afastamento do movimento social mais avançado mas também da exclusão da intelectualidade e dos setores mais ideológicos.