(Foto: Pedro de Oliveira)
Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
Posto sob os holofotes da corte da ONU em Genebra, Sérgio Moro já nem em sonhos se atreverá a prender Lula. Mas, nas últimas duas semanas, começando no dia 13 de outubro, tudo parecia apontar para a prisão do ex-presidente. Videntes até previam o dia e a hora. Desde o início dessa semana, contudo, a situação começou a se reverter com a crise institucional aberta por Renan Calheiros contra a Lava Jato. E anteontem, no dia 26, deu uma virada completa com o anúncio da decisão da ONU.
Os réus, agora em âmbito internacional, passaram a ser o juiz Sérgio Moro e o Judiciário brasileiro. O juiz, se condenado, ganha o estatus de criminoso internacional contra os direitos humanos. Embora internacional, o título soará um pouco diferente do recebido da revista Time nos EUA, que o declarou uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Não querendo passar da fama fabricada made in USA diretamente ao vexame, Sérgio Moro ficará cada vez mais prudente.
Desde o dia 13 de outubro, pelo menos, quando ele virou réu pela terceira vez (caso Taiguara), a prisão de Lula parecia iminente. Boatos foram espalhados, até prevendo que a prisão ocorreria no dia 15, uma segunda-feira. Nada aconteceu. No dia 19, com a prisão de Cunha, parecia mais próxima que nunca a detenção de Lula. Até cela VIP, segundo algumas fontes, já tinha sido reservada (talvez até decorada com bandeiras e flâmulas do Corinthians) na vizinhança de Cunha.
Por todos os meios, a mídia jogou lenha na fogueira para força a decisão de Moro de efetuar a prisão. Nada. Ele talvez tenha entendido que, como disse o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, ao prender Lula seu estrelado findaria com o PSDB e o DEM enterrando a Lava Jato no dia seguinte. Nos últimos dias, a mídia fez novo esforço concentrado para emplacar a assinatura de Moro em uma ordem de prisão contra Lula. Engendrou-se algumas denúncias imbecis: “Amigo” seria o codinome de Lula em planilha da Odebrecht; haveria uma outra cobertura, vizinha do apartamento de Lula, etc. Desde a segunda (24), contudo, a situação começou a ser revertida.
Na segunda-feira, abriu-se uma crise institucional entre o Legislativo e o Judiciário: o presidente do Senado, Renan Calheiros, reagiu com violência verbal contra a operação Métis e a prisão de policiais do Senado, descarregando sua fúria contra a Lava Jato e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que chamou de “chefete de polícia”. Senadores subiram a tribuna para discursar contra a violação do Senado e o atentado ao estado de direito. Entre os atos de exceção da Lava Jato, Renan citou a condução coercitiva de Lula, em 04 de março. A presidente do STF, Carmem Lúcia, tomou as dores dos juízes mas foi cobrada por não ter aberto processo no CNJ para investigar o juiz que autorizou a invasão do Senado.
Mostrando as unhas e os métodos violentos, a presidente do STF, marcou na quarta-feira dia 16 a data de julgamento de uma das ações contra Renan no Supremo.
Já a Polícia Federal, pressionada por Alexandre de Moraes – obedecendo certamente ordens de Temer, que precisa de Renan para aprovar a PEC no Senado – libertou todos os policiais presos, sem dar explicações. O último a ser solto foi o diretor, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, no dia 25. Para completar, o ministro responsável pela Lava Jato no STF, Teori Zavascki, no dia 26, suspendeu a operação Métis e transferiu o processo para o STF, uma clara vitória de Renan.
Teori também recusou (no dia 26), em decisão inédita, a delação do ex-deputado Pedro Corrêa, (PP-PE), um dos pilares para a Denúncia-Show apresentada pela força tarefa da Lava Jato contra Lula no dia 14 de setembro. E que Sérgio Moro aceitou em 20 de setembro, quando tornou Lula réu pela segunda vez.
Em paralelo a isso tudo, a mídia dá sinais de cansaço. Um ceticismo desencorajado tomou conta dela. Elio Gaspari afirma, no dia 26, que não estranharia se ficasse provado, pela Lava Jato, que Lula assassinou Kennedy em 1963.
Para piorar o que já estava péssimo, vem a decisão da ONU de aceitar as alegações de Lula contra Sérgio Moro e os Procuradores da Lava Jato.
Se os EUA esforçaram-se para dar a Moro uma imagem internacional, pondo-o na lista dos mais influentes do mundo, adubando nele o delírio de poder e de legitimidade, que já havia sido plantada pela mídia oligárquica nacional, a decisão da ONU põe em risco todo esse prestígio. A coragem de Moro veio de sua sagração como cavaleiro com a armadura de cristal líquido nas telas da mídia. Posto, porém. sob os holofotes da corte da ONU em Genebra, despido dos trajes da sua dissimulação, e de seus atos violadores de direitos humanos, é muito pouco provável que ainda esboce qualquer iniciativa.
Este juiz, expulso do seu ninho de dissimulação, ficará como um pardal depenado tremendo ao relento. Muito dificilmente terá ousadia, ou insanidade suficiente, para levar adiante a missão que foi confiada às suas mãos vingadoras, aduladas com prêmios e homenagens. Se não prendeu Lula antes da decisão da ONU, agora mesmo é que não vai correr o risco.
Sobre a imagem de Moro, esculpida pela mídia, começa a pairar uma sombra apavorante, que ameaça tirá-lo da posição de “um dos homens mais influentes do mundo” para realoca-lo como condenado internacionalmente por violação de direitos humanos.
Essas duas semanas parecem ter enterrado o processo iniciado em 04 de março com a condução coercitiva de Lula para depor sob vara. Um novo ciclo se abre, e quem agora estará na berlinda é o juiz Sérgio Moro, os Procuradores da Lava Jato, e os Ministros do STF.
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