(O bizarro powerpoint virou uma bizarra camiseta do MBL)
Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
A teoria dos procuradores que atuam na Lava Jato é bem conhecida: Lula foi o chefe de um gigante esquema de corrupção durante o seu mandato como presidente.
O powerpoint do enviado de deus Deltan Dallagnol não deixa dúvidas de que o culpado foi escolhido primeiro e agora buscam-se elementos para justificar essa escolha, em uma perversão grotesca do papel dos órgãos de investigação (Polícia Federal e Ministério Público Federal).
Se todos que acompanham minimamente política conhecem a teoria de acusação da Lava Jato, os delatores, ex-dirigentes de empreiteiras investigadas, obviamente também conhecem.
Agora vejam o que isso gera. Trecho de notícia da Folha, de ontem:
Ex-executivo da Odebrecht mais próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Alexandrino Alencar mudou a atitude em relação ao acordo de delação que está negociando com a Lava Jato e passou a entregar informações sobre a reforma do sítio em Atibaia (SP) frequentado pelo petista e as viagens que fez com ele para países da África e América Latina.
Alencar prestou dois depoimentos aos procuradores. No primeiro, em Curitiba, sua delação foi rejeitada porque os investigadores consideram que ele omitira fatos para preservar Lula.
Ele e seus advogados refizeram o roteiro a ser apresentado aos investigadores. Na terça-feira (18) ele voltou a falar com a força-tarefa, desta vez em Brasília.
Com a apresentação de novas versões sobre o sítio e as viagens, os procuradores já sinalizaram que vão aprovar os termos do acordo.
É como uma prova de concurso público em que não importa se o candidato respondeu corretamente, mas se respondeu concordando com a tese jurídica do avaliador.
O que temos aqui é justamente isso, uma tese jurídica baseada em muitos achismos e nada de provas.
Como estava ficando ridículo demais acusar o chefe do maior esquema de corrupção da história da humanidade com a tese de que ele recebeu uma reforma em um sítio (que não é dele) e um apartamento no Guarujá (no qual ele não dormiu uma noite sequer) em troca de favores milionários, os meganhas estão atirando para todos os lados para ver se encontram algo melhor, como um estádio de futebol de presente (risos) ou um ‘amigo’ na planilha da propina da Odebrecht, que só pode ser o sapo barbudo.
Os delatores sabem de tudo isso, e é claro que vão apresentar ‘novas versões sobre o sítio e as viagens’ para tentarem escapar da mão pesada de Moro. Quem não faria isso em seu lugar?
A nota do Instituto Lula sobre o caso diz que ‘a defesa do ex-presidente já entrou com pedido de investigação na PGR [Procuradoria Geral da República] sobre mudança de versões em duas tratativas de delação –as de Alexandrino Alencar e Léo Pinheiro [da OAS]– pelo risco de coação pelos investigadores para obterem versões contrárias ao ex-presidente, e pela perda do princípio da voluntariedade, o que tornaria tais delações nulas.’
Aceitar uma delação somente se ela corrobora a tese dos investigadores é evidente coação, e seria um escândalo em um país sério.
Mas um país em que o sistema de justiça é tão escancaradamente parcial, a ponto de ajudar decisivamente a derrubar um governo eleito, não pode ser sério.