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BRICS avançam sempre, um passo por vez

por Pepe Escobar, Russian Today | Tradução: Coletivo Vila Vudu A narrativa sobre os BRICS no eixo Washington/Wall Street só conhece dois vetores: o grupo dessas cinco potências emergentes – mais de 22% do PIB global, mais de 40% da população global – só pode estar ‘em crise’. Ou é descartado, como se fosse irrelevante. Aqui, a “Goa […]

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por Pepe Escobar, Russian Today | Tradução: Coletivo Vila Vudu

A narrativa sobre os BRICS no eixo Washington/Wall Street só conhece dois vetores: o grupo dessas cinco potências emergentes – mais de 22% do PIB global, mais de 40% da população global – só pode estar ‘em crise’. Ou é descartado, como se fosse irrelevante.

Aqui, a “Goa Declaration” (em ing. hoje, no website do Ministério de Relações Exteriores do Brasil! Em inglês?! E Temer, que é analfabeto em inglês, vai saber o que assinou… como?! [NTs]), resume os resultados do encontro anual dos BRICS realizado no fim de semana passado na Índia. Aparentemente, nada que impressione muito.

Mas o presidente Putin mais uma vez chama atenção para o contexto; esse é projeto de longo prazo; “elemento chave” no mundo multipolar embrionário, puxado por nações que não aceitam “pressão do poder” nem “assaltos contra a soberania” pelos suspeitos de sempre.

Economicamente, o prospecto para os BRICS não é tão ousado como há um ano. O cenário de médio prazo sugere fortemente estabilidade no preço das commodities. Até o FMI – no qual ninguém pode confiar muito – aposta em crescimento da Rússia (1,1% em 2017 (depois de recessão de 3,7% em 2015), e o Brasil talvez cresça 0,5%.

Sempre considerando o Grande Quadro, Putin respira fundo e mostra coragem – destacando a integração dos BRICS em mais de 30 equipes hoje operantes em nível ministerial, trabalhando em projetos comuns na política, na economia, em iniciativas humanitárias, de segurança e em projetos sociais, e os grandes avanços, como o Novo Banco de Desenvolvimento e o mecanismo proposto de $200 bilhões de moedas BRICS de reservas.

Brasil, o cavalo de Tróia?

Foi reunião cheia de perigos por todos os lados. Pela primeira vez o Brasil lá apareceu representado por Temer, o Usurpador – beneficiário da recente farsa institucional, parlamentar, ‘judicial’ e midiática que é o impeachment da presidenta eleita, e que se pôs imediatamente a empurrar o Brasil na direção de mostrar-se travestido de “paraíso” neoliberal, fortemente alinhado aos interesses de Washington – e muito distante da plataforma dos BRICS.

A presidenta deposta Dilma Rousseff tinha relação muito produtiva com o R e o C chaves no grupo BRICS – com Putin e com Xi Jinping da China. Sinal claro de que os BRICS sabem com quem estão lidando, é que Putin reuniu-se com todos os líderes dos demais países BRICS, exceto Michel Temer. Diz Temer que teriam falado, mas não pode ter sido conversa aprofundada, durante o jantar oficial, sobre as ditas “reformas” econômicas – abreviatura de “choque neoliberal em curso”.

Enquanto Moscou dedica-se a avaliar cuidadosamente para que lado se encaminham as oscilantes lealdades do Brasil oficial, Temer, o Usurpador, por sua vez, vende a fantasia de que o Brasil estaria de volta aos negócios. Não, não está. Basta rápido exame nos números, e vê-se o desemprego num pico histórico de 11,2%, taxas-monstro de juros (14,25% ao ano); a maior contração do PIB, de todos os BRICS em 2015 (3,8%); e a mais alta taxa de inflação acumulada em um ano (8,48%).

Negócios aconteceram, sim, mas em Goa. Rússia e Índia assinaram nada menos que 18 acordos, de energia a armas. O conselho comercial dos BRICS mais uma vez fala a favor de criar uma agência de avaliação de riscos para as potências emergentes, que corra por fora do cartel norte-americano.

E houve a reunião para promover o BRICS-BIMSTEC (onde BIMSTEC é sigla (ing.) de “cooperação técnica e econômica multissetorial”) entre o Sul da Ásia e o Sudeste da Ásia, unindo estados membros Índia, Bangladesh, Myanmar, Tailândia, Butão, Nepal e Sri Lanka. É uma espécie de extensão dos BRICS, ao estilo das Novas Rotas da Seda da China.

Em todas as discussões, é claro que o impulso principal dos BRICS continua a ser constituir uma arquitetura financeira alternativa confiável, que privilegie o mundo em desenvolvimento – setor no qual o sistema de Bretton Woods fracassou miseravelmente.

Paralelamente, os BRICS continuam insistindo em mudar o sistema velho – viciado – de dentro para fora: “Conclamamos as economias avançadas da Europa a cumprir o compromisso que assumiram de garantir dois lugares no Conselho Executivo do FMI. A reforma do FMI deve fortalecer a voz e a representação dos membros mais pobres do FMI, incluindo a África Subsaariana.” Mas não vai acontecer já. Semana passada o FMI anunciou que adiara para 2019 os prazos para completar a revisão das quotas.

É crucial para os BRICS “condenar intervenções militares unilaterais e sanções econômicas que violem a lei internacional e as normas internacionalmente reconhecidas de relações internacionais.”O recado aos suspeitos de sempre é bem claro.

Vale o mesmo para o apoio dos BRICS ao acordo pós-Irã nuclear, a favor do uso civil da energia nuclear: “Reforçamos a importância da previsibilidade no acesso à tecnologia para expansão da capacidade em energia nuclear para uso civil, que pode contribuir para o desenvolvimento sustentável dos países BRICS.”

Diferentes dos suspeitos de sempre, os BRICS apoiam firmemente a OMC como “pedra fundamental de um sistema multilateral de comércio baseado em leis, aberto, transparente, não discriminatório e inclusivo.”

Assim também, a inevitável oposição entre os BRICS e as ‘parcerias’ TTP TTIP promovidas pelo governo pato manco de Obama: “Observamos o número crescente de acordos comerciais bilaterais, regionais e plurilaterais , e reiteramos que esses acordos devem ser complementares ao sistema multilateral de comércio e encorajamos as partes a doravante alinharem seu trabalho na consolidação do sistema multilateral de comércio, sob a OMC, respeitando princípios de transparência, inclusividade e compatibilidade com as regras da OMC”. 

Dado que as ‘parcerias’ TTP e TTIP atropelam a OMC, os BRICS insistem que o atual sistema da ONU atropela a própria ONU. Daí a necessidade de “ampla reforma da ONU, inclusive do Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais representativo, mais efetivo e mais eficiente.” Implica, de crucialmente importante, que “RC” – unidas numa parceria estratégica – concordam que Brasil, Índia e África do Sul devem “desempenhar maior papel na ONU”.

Esvaziar o Circus Maximus

Pode-se dizer que o poder dos BRICS na atual conjuntura geopolítica tem a ver só com “RC”. Por isso em Goa o premier Modi foi o anfitrião, mas as escolhas mais consistentes foram, como não deixariam de ser, de Putin.

Não é surpresa. A Guerra Fria 2.0 está a pleno vapor – com a Rússia, não a China, alvo da mais ensandecida demonização. Daí que Putin tenha-se manifestado sobre “como os EUA não cumprem compromissos assumidos, o que seria indispensável que fizessem para resolver questões da política mundial. Em vez disso, EUA escolhem uma política ‘contraproducente’, de sanções (…) Tudo sugere que, se não aceitam acordos e não cumprem compromissos, o único objetivo dos EUA seria ditar ordens. Esse estilo constituiu-se ao longo dos últimos 15-20 anos nos EUA, e até hoje não conseguem superá-lo.”

Acrescente-se a isso a surpresa zero que as recentes ameaças do vice-presidente Joe Biden provocaram em Putin: “Ninguém pode esperar coisa alguma de nossos amigos norte-americanos. O que [Biden] revelou que fosse realmente novidade? Já não sabíamos que funcionários dos EUA espiam e ouvem por trás das portas de tudo e todos? (…) [Washington] gasta nisso bilhões de dólares”, nesses serviços secretos que espionam “não só seus potenciais oponentes, mas também os aliados mais próximos.”

E por vim, a conveniência, para o eixo neoconservador/neoliberal, de manter sempre à mão um coringa russo: “Inventar que o Irã e alguma ameaça nuclear iraniana não deu certo. [Inventar] a Rússia [como o pior inimigo] parece mais interessante. Na minha avaliação, essa específica carta está sendo jogada agora, ativamente.”

Para além dos BRICS, as tendências são claras. Investidores internacionais não têm interesse algum, interesse abaixo de zero, pela Europa moribunda de tanta austeridade (arrocho) e de medo. A China permanece como um ímã, com Tencent e Alibaba, por exemplo, liderando a fatia chinesa, de 47% do comércio eletrônico global. Rússia e Brasil mais dia menos dias voltarão a ser novamente“atraentes”. Devagar, um passo de cada vez, os BRICS fazer avançar seu jogo de poder, mediante ou o Novo Banco de Desenvolvimento, ou a nova agência de avaliação de riscos para economias emergentes – imune ao Circus Maximus da Histeria do governo dos EUA na av. Beltway, Washington.*****

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