Jean Wyllys: “como fica um processo de impeachment conduzido por um corrupto que agora é preso?”

Brasília- DF 14-07-2016 Sessão da CCJ que não aceitou os recursos do deputado Eduardo Cunha. Foto Lula Marques/Agência PT

CUNHA PRESO

por Jean Wyllys, em seu Facebook

Finalmente, muito tarde, muito tarde mesmo, o ex-deputado Eduardo Cunha foi preso em Brasília pela Polícia Federal nesta quarta-feira e sua casa, na Barra da Tijuca, foi alvo de operação de busca e apreensão ordenada pelo juiz Sérgio Moro. A ordem do juiz é de prisão “preventiva”.

Cunha, articulador político da bancada fundamentalista no Congresso Nacional, é investigado por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, e foi o principal organizador do golpe parlamentar contra a presidenta eleita Dilma Rousseff. Desde muito antes da votação do impeachment, havia provas mais do que suficientes (coletadas tanto pelo Ministério Público brasileiro quanto pelo Ministério Público da Suíça) para que Cunha fosse afastado do cargo, perdesse o mandato, virasse réu e fosse julgado e condenado. As provas eram fartas e incontestáveis!

Foi por tudo isso que o PSOL, apoiado pela REDE, entrou com a representação no Conselho de Ética que permitiu, depois de um processo absurdamente demorado, sua cassação. Foi por isso que eu denunciei quem era Cunha antes mesmo de ele ser eleito presidente da Câmara!

Porém, enquanto Cunha era “necessário” para a derrubada ilegítima do governo constitucional, nada foi feito. As provas foram ignoradas e ele continuou livre e presidindo a Câmara dos Deputados. Nós, parlamentares que defendemos a democracia e a ética na política, sabemos o quanto a presença de Cunha e sua atuação no cargo, boicotando o governo, atropelando a Constituição, as leis e o regimento da Casa, foi prejudicial para o país.

Agora é tarde. Mas eu pergunto ao Ministério Público e ao STF: como fica um processo de impeachment conduzido por um corrupto que agora é preso?

A prisão de Cunha não deixa de ser uma boa notícia para quem defende a honestidade, a transparência, a ética e a democracia. Eu confesso que fico muito feliz. Contudo, não posso deixar de advertir que a decisão, além de tardia, é questionável: se ele podia destruir provas (o que justificaria a prisão preventiva), já destruiu há tempos. A prisão preventiva fazia sentido quando poderia ter sido eficaz para a sua finalidade. Hoje, não passa de fogo de artifício.

Então, cuidado: que esta prisão não seja mais uma manobra para justificar posteriores arbitrariedades em outros processos, chutando em cachorro morto para distrair a atenção dos verdadeiros objetivos.

Que Cunha seja investigado, julgado e condenado – e ele merece, porque é um corrupto -, mas que isso seja feito respeitando seus direitos constitucionais, como deve ser em todos os casos. E que o povo brasileiro não seja tratado como otário. Essa jogada me lembra o que, no xadrez, é chamado de “sacrifício da rainha”, onde o jogador sacrifica a própria rainha para dar o xeque-mate no adversário. Qual é a prisão arbitrária que vem depois?

Eu quero Cunha preso, mas não irei aplaudir demais o estado penal arbitrário e sem limites, porque ele é um inimigo maior, mais perigoso e mais poderoso que o próprio Eduardo Cunha.

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