Por Vitor Menezes*
O corte nos gastos é um mantra liberal-empresa
O outro lado dessa lógica é mais difícil de entender e demanda um humanismo profundo, uma visão de longo prazo, que compreende que as regras econômicas não bastam para medir todas as dimensões das relações sociais e, muito menos, prosseguir com um processo civilizatório. Tomado pela rudeza dos números, os tecnocratas não alcançam as possibilidades das mudanças culturais, políticas e de mentalidade em um curso maior da história.
Para um economista ortodoxo, por exemplo, é incompreensível
Em outros tempos, também deve ter sido incompreensível
O mais curioso é que, mesmo se tivéssemos que nos ater à dimensão econômica como medida última de todas as coisas — metodologia com a qual não concordo, mas, vá lá —, ainda assim o modelo de imposição do estado mínimo faria com que, em um País desigual como o Brasil, fosse reduzida à quase nulidade o fomento de uma economia que vinha crescendo de baixo para cima, nos comércios dos bairros, nas casas de materiais de construção populares, com a enorme ascensão da classe C, como demonstrou o economista não ortodoxo Marcelo Neri, em estudo da Fundação Getúlio Vargas. Além do aumento do acesso ao consumo de produtos, elevou-se o acesso a serviços, o mais icônico deles o das viagens de avião.
E ao contrário dos que acreditam que políticas sociais e de desconcentração
O grande desafio brasileiro, portanto, não é econômico, é cultural. É o de superar a mentalidade escravocrata que se incomoda que tanta gente passe a frequentar aeroportos, que não aceita que tanto os filhos dos pobres quanto os filhos dos ricos possam estudar em universidades públicas ou privadas bem ranqueadas, que pare de achar que é preciso cultivar desigualdades para manter a sensação de pertencer a uma elite. No fim das contas, ninguém sai vivo daqui — valei-me meu São Renato Russo — e não “é a economia, estúpido”, é o futuro da humanidade o que está em jogo.
*Vitor Menezes é jornalista. Texto publicado originalmente em “O Jornal – Terceira Via” de Campos dos Goytacazes (RJ)