por Sylvia Moretzsohn, em seu Facebook
O Fernando Brito foi muito elegante na sua crítica à ombudsman.
Na coluna de hoje, ela trata da polêmica decorrente do artigo de Rogério Cezar de Cerqueira Leite, que demole o juiz salvador da pátria.
Diante do protesto de Moro e de leitores que o apoiam, ela escreve que “a Folha acertou em publicar o artigo, em nome da pluralidade, mas talvez tenha falhado em não propor que o autor evitasse formulações que poderiam ser entendidas como estímulo à violência”.
Ousa dizer isso a propósito de um artigo escrito por um membro do Conselho Editorial do jornal. Um jornal que, como lembra o Fernando, acolhe gente como Reinaldo Azevedo e aquele menino fascistoide.
Na sequência, ela afirma: “É certo que o jornal tem responsabilidade pela qualidade do que seleciona para publicar, mas Moro erra ao querer a recusa pura e simples do texto em razão de seu conteúdo”.
Deve ter considerado um ato de suprema coragem dizer que o inatacável meretíssimo errou.
Não, não “errou”, simplesmente. Ele sugeriu que o jornal censurasse um artigo.
Só pra recordar, meses atrás, policiais federais da força-tarefa da Lava Jato conseguiram provisoriamente a censura de reportagens do jornalista Marcelo Auler.
Diante da ofensiva censória não pode haver meias palavras. Mas a ombudsman prefere sair pela tangente.
A pusilanimidade jamais conduziu a bom porto. Os resultados costumam ser catastróficos. Disso a história está cheia de exemplos.
Mas parece que a gente não aprende.
Como é covarde essa moça.
Sylvia Moretzsohn é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1981), com mestrado em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (2000) e doutorado em Serviço Social pela UFRJ (2006). É professora de jornalismo no Departamento de Comunicação Social da UFF e no Programa de Pós-Graduação em Justiça Administrativa na mesma universidade
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Segue abaixo o artigo de Fernando Brito, no Tijolaço:
Será que a ombudsman da Folha lê a Folha?
É costumeiro o “murismo” que se encontra atualmente nas manifestações da ombusdman da Folha de S. Paulo.
Sendo assim, não era de esperar que saltasse, com a indignação que deveria ser própria aos jornalistas, frente à manifestação censória de Sérgio Moro à Folha diante do artigo do professor emérito da Unicamp Rogério Cézar de Cerqueira Leite onde este traça um paralelo entre o juiz e o frade Jerônimo Savonarola.
Manifestação censória é um exagero? ” A publicação de opiniões panfletárias-partidárias e que veiculam somente preconceito e rancor, sem qualquer base factual, deveria ser evitada por jornais com a tradição e a história da Folha” é, objetivamente, uma sugestão – e sugestão da mais poderosa autoridade hoje neste país – de que não se publique aquilo que Sua Excelência julga ser assim.
Sob qualquer ponto de vista que se examine é, cruamente, censura.
Deixo que outro articulista da Folha, insuspeito de esquerdismo, Elio Gaspari, o explique: “Não foi uma carta, mas uma sentença” (…) “A publicação de opiniões panfletárias-partidárias […] deveria ser evitadas”. Como? Savonarola publicava seus sermões e queimava os dos outros.”
O que a “critica interna” do jornal faz é ainda pior.
Só mesmo uma mente atrofiada pelo exercício exclusivo da tal “cognição sumária” tão empregada pelo juiz Moro poderia ver na metáfora com as fogueiras da Inquisição – devo explicar o que é uma metáfora? – uma incitação à violência.
Infelizmente a Ombudsman endossa essa visão mesquinhíssima:
A meu ver, a Folha acertou em publicar o artigo, em nome da pluralidade, mas talvez tenha falhado em não propor que o autor evitasse formulações que poderiam ser entendidas como estímulo à violência.
Francamente, Dona Paula, fiquei em dúvidas se a senhora – como se brincava com os desatentos nos tempos em que comecei numa redação de jornal, “lê o jornal em que trabalha” (talvez deva explicar, dada a “cognição sumária”, que isto não é uma afirmação literal, mas uma ironia (“figura que se caracteriza pelo emprego inteligente de contrastes literariamente, para criar ou ressaltar certos efeitos humorísticos“, maiores informações no Houaiss)
E o que é humorístico?
É que a Folha, como é de seu direito – e gosto não se discute – publica figuras como Reinaldo Azevedo, que a si mesmo chama de rottweiler, e Kim Kataguiri, que usa a exposição de seu traseiro como forma de argumentação política.
E sua Ombudsman vem falar de propor que se evite “formulações que poderiam ser entendidas como estímulo à violência”.
O jornal, na sua visão, deve se rebaixar à “cognição sumária” dos comentaristas que inundam suas páginas com o “mata e esfola” atual e com a beatificação – beato talvez lhe seja pouco – do Dr. Moro?
Ou pelo menos, para lembrar aqueles tempos inquisitoriais, propor que se mexa aqui e ali num texto autoral para que ele ganhe o“nihil obstat” e, afinal, o “imprimatur”.
Em matéria de lembranças, porém, talvez seja mais útil recordar de outra mulher, Evelyn Beatrice Hall, biógrafa de Voltaire, autora da frase que é a ele frequentemente atribuída: “eu desaprovo o que dizes, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo”.
Sem “propostas” para dar uma “aliviada”…
Tania Silva
18/10/2016 - 13h59
A foto está errada. Essa aí é a antiga ombudsman, Vera Guimarães. A atual é Paula Cesarino…
cousinelizabeth
18/10/2016 - 11h56
É um caso claro de paúra. A colega jornalista, uma vez assumido o fabuloso cargo de “ombudsman”, resolveu ser mais realista do que o rei e aceitar a censura em nome de um patrão que talvez não a quisesse aceitar. Tudo isso para não correr o risco de perder o que lhes resta de leitores. Vamos convir que, a esta altura do campeonato, os fãs do Savonarola curitibano devem ser a grande maioria dos leitores da Falha de São Paulo (meros 160 mil exemplares diários, menos do que muito blog progressista).
Paulo Roberto Àlvares de Souza
18/10/2016 - 11h29
Como esperar alguma coisa que preste do “ombudsman” da folha? Só incautos e descerebrados.