(Charge: Aroeira)
Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
Sérgio Moro definitivamente já teve dias melhores.
Sua carreira como herói nacional da luta contra a corrupção parece ter deixado o ápice para trás; as críticas à sua atuação romperam o limite dos círculos progressistas e pouco a pouco começam a aparecer também na imprensa familiar.
Começou com o artigo do físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, na Folha, no qual define Moro como um ‘justiceiro messiâniaco’ e portador de um ‘sentimento aristocrático, isto é, a sensação, inconsciente por vezes, de que se é superior ao resto da humanidade e de que lhe é destinado um lugar de dominância sobre os demais’.
‘Cuidado Moro, o destino dos moralistas fanáticos é a fogueira’, advertiu Cerqueira Leite, comparando o juiz ao frei dominiciano Savonarola, fanático moralista que morreu como morriam as ‘bruxas’ medievais.
Moro mandou uma resposta para a Folha, dando uma de censor ao afirmar que a publicação de opiniões como a de Cerqueira Leite deveria ser evitada pelo jornal, bem como dizendo que o articulista chegou a ‘sugerir atos de violência contra o ora magistrado’.
A tréplica do físico foi curta, grossa e no ponto:
Respondo aqui ao Juiz Sergio Moro, embora ele não tenha se rebaixado a responder a um simples plebeu, preferindo incitar a Folha a censurar meus artigos (Painel do Leitor, 12/10). Acusa-me o juiz de promover atos de violência. O fogo a que me refiro é o fogo da história. Intelectos condicionados por princípios de intolerância não percebe a diferença entre metáforas e ações concretas. O juiz ainda se esquiva de responder à principal acusação que lhe faço, a de que é absolutamente parcial e está a serviço das classes dominantes.
Kiko Nogueira apontou, no DCM, que a publicação da tréplica pela Folha indica que a lua de mel de Moro com a mídia está no fim.
O colunista da Folha Elio Gaspari também entrou na discussão, concordando com Cerqueira Leite: ‘A contrariedade de Moro produziu uma surpresa: há algo de Savonarola no seu sistema’.
O jornal Zero Hora, da RBS (afiliada da Globo no Rio Grande do Sul), publicou, no último dia 15, entrevista com um dos autores do livro Operação Mãos Limpas – A verdade sobre a operação italiana que inspirou a Lava-Jato, Gianni Barbacetto.
Na entrevista o autor diz verdades bastante inconvenientes para o herói de Curitiba:
Apesar de saber pouco sobre a situação brasileira, estou surpreso que apareçam acusações só contra o PT e seu líder Lula, porque parece-me que todo o sistema está envolvido pela corrupção.
(…)
Sim, na Itália houve, após a Mãos Limpas, uma mudança total do sistema político. Só depois percebemos que a mudança era apenas aparente e que a vitória de Berlusconi (que até então era um “novo” político), na verdade, garantiu uma certa continuidade do sistema anterior. No Brasil, porém, parece-me que desde o início o sistema continua como antes e será apenas Lula a pagar.
O detalhe cruel, para Moro, é que o ‘ora magistrado’ foi quem prefaciou o livro sobre a Mãos Limpas.
Até a Globo está dando as suas alfinetadas no juiz, talvez para deixar claro quem manda.
Em notícia de ontem, cujo título é ‘Moro dá 30 dias para que Justiça do Rio intime Cunha’, o subtítulo e o corpo da matéria trazem a informação de que a Justiça paulista teve prazo de apenas cinco dias para citar Lula e Marisa Letícia.
Não parece um blog sujo, ousando apontar a seletividade de Moro?
O ostracismo de Moro era previsível e é inevitável.
É exatamente o mesmo roteiro da novela criada em torno de Joaquim Barbosa.
Enquanto foi útil à direita ele também era um herói nacional, o ‘menino pobre que mudou o Brasil’, como constou numa capa bizarra da Veja. Quando passou a se manifestar contra a palhaçada do impeachment foi abandonado pela mídia conservadora, que passou a ignorá-lo completamente.
O destino de Moro será o mesmo, após terminado o serviço sujo da Lava Jato.
Como apontou magistralmente o físico Cerqueira Leite, no artigo que tirou Moro do sério, ‘seus apoiadores do DEM e do PSDB não o tolerarão após a neutralização da ameaça que representa o PT. (…) Só vai vosmecê sobreviver enquanto Lula e o PT estiverem vivos e atuantes. Ou seja, enquanto você e seus promotores forem úteis para a elite política brasileira, seja ela legitimamente aristocrática ou não’.