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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa
Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho
Em meio ao silêncio da grande mídia, partidários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciaram vigília em frente ao prédio onde ele mora, em São Bernardo do Campo (SP). Crescem os rumores sobre a prisão iminente de Lula. Crescem também os sinais de um possível endurecimento do Estado policial que já deixou de ser embrionário no País, dada a possibilidade de um ex-presidente ser preso devido a acusações sem provas, na base do powerpoint e da convicção. Existe de fato a justificativa jornalística para o silêncio dos jornais sobre o assunto, pois rumor, como se sabe, não é notícia. Por isso o Globo e a Folha de São Paulo nada falam nem de Lula nem da Lava Jato em suas primeiras páginas. Dão o recado nos editoriais, os dois jornais, ambos a pedirem celeridade nos julgamentos, mais rigor contra a corrupção em meio à “tendência cada vez maior de intervenção dos militares na vida nacional e, ao mesmo tempo, um desprestígio cada vez maior do poder civil”, como afirma o jornalista Luis Nassif em seu “xadrez das vivandeiras dos quartéis”. Enquanto isso, a marcha da crise econômica se anuncia nas manchetes e chamadas, dosadas pelas pitadas de otimismo que hoje incluem até o ministro das Relações Exteriores, José Serra, voltando a dar pitacos na economia sobre o abençoado, esperado corte dos juros.
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Embaixo da manchete em que, entre o arrocho e a repressão, o “governo quer criar prazo para adoção de crianças”, a Folha avisa na chamada que a “receita da União com impostos cai 7%” em setembro, em relação ao ano passado. A informação vem de estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) indicando “revés na retomada da atividade econômica”. Aliado ao recuo registrado em agosto, de 10%, o jornal ressalta, na página de dentro, que “os dados reforçam sinais de que a recuperação da atividade econômica ainda é muito fraca para confirmar a expectativa de que o país está perto de sair da recessão”. Em agosto havia dúvida se a greve dos fiscais havia influenciado o resultado, lembra José Roberto Afonso, um dos economistas responsáveis pelo estudo da FGV. “Esse efeito não cola mais”, diz ele.
Não existe retomada hoje no Brasil, a não ser nos discursos do governo Temer, e a manchete do Estado de São Paulo, em que os “bancos públicos têm juros mais altos que os privados”, mostra que tudo só vem piorando para quem tem menos. “O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal (CEF), que nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff mantiveram os juros mais baixos do mercado, já operam hoje com algumas das taxas mais altas”, diz a chamada para a matéria de Fernando Nakagawa. “As instituições estatais ajustaram gradualmente o juro cobrado dos clientes nos últimos meses, num movimento que alterou radicalmente o ranking de crédito do Banco Central”, completa o texto.
Ao lado, numa chamada menor, auxiliar, o Estadão informa em vermelho que “risco alto trava microcrédito”, porque “as altas taxas de inadimplência, hoje em 6,5%, ainda fazem os bancos pensarem duas vezes antes de liberar dinheiro a pequenos empreendedores”. E se no jornal paulista o otimismo fica só na última linha dessa chamada, com a “expectativa de retomada da economia”, no Globo ele vem maior, no título da chamada que traz José Serra de volta ao cenário econômico, embaixo da manchete na qual as “contratações para o Natal caem ao nível de 2006”.
Estudo da Federação Nacional das Empresas de Terceirização e de Trabalho Temporário mostra que o Natal deste ano vai gerar menos empregos que nos últimos nove anos. Logo abaixo, “analistas apostam em PIB maior e Serra diz que BC já pode cortar juros”. O ministro das Relações Exteriores aproveita a reunião dos Brics na Índia para voltar a emitir opiniões em assuntos da seara de seu colega, Henrique Meirelles. E diante dos sinais de que a crise só aumenta, Serra mostra otimismo em perfeita sintonia com o colunista da vez no Globo, George Vidor, que também tem chamada na capa para o texto sob o título de “Chegou a hora”, em que argumenta que “o ambiente da economia brasileira é todo favorável para que o Banco Central comece já a cortar os juros”.
Nos bastidores da política, seguem as negociações de paz e união entre o PMDB e o PSDB, citadas no sábado por João Domingos no Estadão, disfarçadas por Merval Pereira no Globo e hoje, de novo, abordadas no diário paulista por Vera Magalhães. “O novo eixo para 2018” é o título da coluna em que Vera conta que “Temer e FHC assentam bases para novo ‘eixo da estabilidade’. O propósito, segundo a jornalista “é construir as bases para aliança duradoura”, que não deverá ser lá muito popular diante da crise, dos cortes no social ao sabor das vontades do capital, e por isso deverá contar sempre, enquanto durar, com a força. Para aplacar os efeitos devastadores da recessão, doses cada vez maiores de repressão. E é aí que entram os militares.
“Qualquer ampliação de intervenção militar viria como retaguarda para um governo civil”, diz Nassif, no texto em que cita a “percepção generalizada da falta de legitimidade” de todos os seis grupos civis que participaram do golpe parlamentar contra a presidenta afastada Dilma Rousseff. São eles, segundo o jornalista, “o grupo de Eduardo Cunha, que logrou colocar Michel Temer na presidência; o PMDB liderado por Renan Calheiros e José Sarney; o PSDB, especialmente o de Aécio Neves; o Poder Judiciário comandado por Gilmar Mendes; os grupos de mídia; a Procuradoria Geral da República; a Lava Jato, colocada como um poder a parte da PGR; e grupos da Polícia Federal”.
Numa “empreitada em que a palavra de ordem foi o combate à corrupção”, seria esse, aliado ao medo em comum desses seis grupos de perder as eleições de 2018, as grandes razões para se correr em direção aos militares. Outro sinal disso, segundo Nassif, é a “perigosa” iniciativa da ministra presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, “de convocar militares para discutir segurança nacional”. “No plano institucional, a Ministra é tão despreparada que não se sabe se sua iniciativa foi apenas uma demonstração de ignorância sobre o papel dos militares, uma tentativa canhestra de se colocar no centro dos acontecimentos, de “causar”, ou se de fato foi mordida pela mosca azul de Brasília”, diz Nassif.
E se publica hoje, como única matéria relacionada à Lava Jato, a polêmica causada por uma das dez medidas contra a corrupção da cartilha de Deltan Dallagnol e dos procuradores de sua equipe no Ministério Público Federal (MPF), o Globo defende as medidas abertamente no editorial. “Teste de integridade divide agentes públicos”, diz o título da matéria em que o delegado da Polícia Federal Igor de Paula Romário, um dos que estão à frente da Lava Jato, critica a proposta que prevê que o tal teste seja obrigatório apenas para os policiais. “Não há como fazer, no ambiente de combate à corrupção, diferenciações. É obrigatório para uns e para outros é facultado”, diz Igor.
Sob o título de “contra a impunidade”, o editorial do Globo não fala em “lulopetismo” hoje. Fala em “governos lulopetistas” para defender o projeto do MPF, que “deve ser discutido pelo seu conteúdo e levando em conta o clamor do país contra a corrupção”. Ao lado, muy republicanamente, publica o contraponto de Luciano Bandeira, diretor da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ). “Estamos percorrendo o caminho do abismo com a flexibilização das garantias constitucionais”, diz o advogado. “Quando existe uma proposta que limita a capacidade de defesa do cidadão perante o Estado, não estamos falando de Justiça e sim de autoritarismo”.
Bandeira conclui, em seu texto, que “a transformação do nosso país em Estado policial, onde todos são culpados, até que provem o contrário, é um retrocesso absurdo”. A Folha não acha. No editorial intitulado “Ritmos desiguais”, pede julgamentos mais rápidos, menos recursos, menos chances de defesa para acusados. “Enquanto em Curitiba se decide com celeridade os casos de corrupção, investigações no STF se desenvolvem a passos lentos”, diz a Folha, sem deixar de citar a exceção à regra, com a naturalidade de quem não vê o menor problema no fato de que, apesar da lentidão que tanto critica, “na quinta-feita (13), o ex-presidente Lula (PT) foi transformado em réu pela terceira vez”, em tempo recorde nunca antes visto no STF, segundo a própria Folha.
Lula pode vir a ser preso ou não, tudo, afinal, pode permanecer na esfera dos boatos, mas Valdir Pereira da Rocha, aos 36 anos, teve decretada morte cerebral. Rocha foi um dos dez sujeitos presos pela PF há três meses, sob a suspeita de que teriam ligação com o Estado Islâmico (EI). A operação foi deflagrada a duas semanas da Olimpíada do Rio e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, convocou entrevista coletiva para dizer que “tudo levava a crer” que Valdir e seus supostos companheiros de grupo “jamais agiriam de maneira séria”. “A chance de ataques nos Jogos é mínima”, disse Moraes, à época. Seria “uma célula amadora”, completou o ministro. Transferido para a Cadeia Pública de Várzea Grande, em Cuiabá, Valdir foi espancado e teve morte cerebral.
Hoje não há mais nada sobre o caso nos três jornais, e na Folha o economista e filósofo Joel Pinheiro da Fonseca reforça o desagrado, o cansaço da população com a “política tradicional”. “A revolta antipolítica” é o título do artigo em que o autor cita o Brexit na Inglaterra, a candidatura de Donald Trump nos Estados Unidos e o fracasso das negociações de paz na Colômbia como provas desse cansaço. “A rejeição à política é a reação saudável de quem percebeu as limitações dessa via para resolver seus problemas”, afirma Joel. Logo abaixo, o jornal abre espaço para a missa de um ano da morte de Carlos Alberto Brilhante Ustra, assistida por cerca de 300 pessoas na noite de sábado, na Paróquia Militar de São Miguel Arcanjo e Santo, em Brasília.
Comandante do Destacamento de Operações de Informações (DOI-Codi) de 1970 a 1974, Ustra morreu de pneumonia aos 83 anos, no dia 15 de outubro do ano passado. Segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade, ao menos 45 presos políticos morreram ou desapareceram sob responsabilidade do DOI-Codi durante a gestão de Ustra na ditadura militar. E na missa, o coronel capelão José Eudes da Cunha, chefe do Serviço de Assistência Religiosa do Exército, disse que “Ustra foi um ‘herói’ que lutou pela justiça e pela paz, mas que acabou sendo incompreendido.”
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igor
17/10/2016 - 13h55
Meia dúzia de gatos pingados sustentados pelas tetas dos ditos partidos progressistas e seus tentáculos (UNE,MST,MTST, CUT, etc) que agora que a mortadela acabou estão sem rumo.
Antonio Carlos Lima Conceicao
17/10/2016 - 21h07
Acaba a mortadela, mas o caviar continua bem pago pelo dinheiro público na forma de centenas de bilhões de dólares de juros a meia dúzia de gatos pingados ricos, que não deixam nem as sobras para os pobres ou para a classe média “sabida”.