Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho,
A esquerda deveria se mobilizar, mas prefere ficar zanzando pelo Facebook, clicando em emoticons de carinhas chorosas, com grossas lágrimas penduradas nos olhos, e fofocar sobre a possível data da prisão de Lula.
Como escreveu um grande historiador político sobre as guerras camponesas na Alemanha, triste do líder que tem como base massas de nível intelectual muito limitado.
Vamos aos fatos.
Anda circulando por aí previsões sobre quando será feita a prisão de Lula. Um blogueiro-vidente, que segundo os crentes costuma acertar, anunciou até a data, atribuindo-a a fontes fidedignas. A partir daí, espalhou-se um certo burburinho, naquele estilo bem brasileiro, em que até a tragédia passa a interessar mais pela fofoca que pelo fato.
Não se foca no fato, mas se foca na fofoca inspirada pelo fato. Por mais risível que seja, temos que admitir, isso é o Brasil. Ao invés de tagarelarem sobre a data dessa possível prisão, deveriam pensar sobre o que ela representaria.
Em primeiro lugar, o que significaria prender Lula? Na idade dele, e sendo mais que certo que nem seu caso não se cogita em delação premiada, pois nem ele faria nem a justiça proporia – esse prêmio está reservado aos grandes empresários e aos políticos efetivamente corruptos –, ser preso é sinônimo de apodrecer na prisão. Ou seja, a prisão significa pena de morte.
Seus perseguidores sabem muito bem disso. Mas eles visam com a prisão algo ainda mais grave.
Um homem político raro, capaz de abalar estruturas sociais arcaicas petrificadas como as brasileiras, além de sua condição natural, como ser vivo, e da sua condição social, de cidadão, possui outra mais elevada, a de símbolo, cujo prestígio e respeito atestam o seu legado histórico. Lula é o símbolo da democracia e das lutas sociais no Brasil, da possível mudança de uma estrutura social congelada.
Nesse sentido, Lula tem que ser morto para que a democracia e a mudança sejam mortas juntas com ele. Se trata, primeiro, de assassinar sua imagem e seu prestígio, para aniquilar sua função simbólica. A mídia tem se esmerado nesse trabalho dia e noite, incansavelmente, há no mínimo dois anos.
Esse trabalho da mídia foi, pelas mãos do Judiciário e do MPF, convertido em uma semiprisão domiciliar, e numa cassação de direitos políticos: Lula não pôde ser ministro da Casa Civil, bastando para isso o crime de Moro de divulgar áudios ilegalmente gravados; a Lula não é concedido defender-se no STF, porque este insiste que o direito de julgá-lo é de Sérgio Moro, em Curitiba; quando se cogitou seu nome para presidência do PT, bastou agir a Folha de São Paulo, em conluio com Tarso Genro, para detonar o projeto.
Se até isso está vedado a ele, poderia pretender, mesmo em sonho, disputar a presidência em 2018? É evidente que não. Muito antes disso, tem que ser tirado de circulação.
Um detalhe dá a dimensão do isolamento em que Lula foi lançado: apesar da duríssima perseguição de que é vítima, de estar todo o dia nas páginas e nas telas de incontáveis jornais e sites, ninguém chama Lula para uma simples e miserável entrevista. Não há o mínimo espaço.
Portanto, Lula já está condenado, em todos os sentidos. E não é sua prisão o que importa, mas o trabalho do carrasco que prepara sua execução. Diante disso, a questão que se põe é se ele acredita na justiça dessa justiça no momento de proferir contra ele a pena capital.
Quando por todos os meios a Justiça já proferiu uma sentença condenatória, quando boa parte dos seus direitos de cidadania já foi retirada – o que é o assassinato da sua cidadania –, quando não tem lugar na mídia embora seja em vida uma personalidade histórica, o fantástico seria crer que a prisão marque um divisor de águas.
A prisão será apenas o passo final de execução dos vereditos que já foram proferidos pela justiça e pela mídia.
O que espanta não é isso. O que espanta é ver que centenas de milhares de pessoas que poderiam sair às ruas ficarem em casa, de olhos fixos nas telas, curtindo com carinhas lacrimosas e compartilhando posts, memes, e outras baboseiras de pouco ou nenhum valor.
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