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Espiando o poder – Tempo de violência

[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)] Espiando o poder: análise diária da grande imprensa Foto: Marco Terranova Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho Houve um tempo em que a violência reinava nas páginas do Globo e tinha destaque também no Estado e na Folha de São Paulo, ainda mais se ocorresse no Rio. O governo federal […]

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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa

Foto: Marco Terranova

Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho

Houve um tempo em que a violência reinava nas páginas do Globo e tinha destaque também no Estado e na Folha de São Paulo, ainda mais se ocorresse no Rio. O governo federal era amigo, o estadual nem sempre e a realidade da cidade não diferia muito da atual, regulada, ainda, pela política de enfrentamento total ao tráfico de drogas. Em Brasília reeleições eram compradas, vendiam-se as estatais a preço de banana, em oferta tucana, mas a preocupação maior era outra, muito mais importante, com a própria vida ameaçada pela ação nefasta dos bandidos que invadiam até as primeiras páginas. Agora, sem mais a necessidade de derrubar um governo eleito pelo voto, com o mercado celebrando nas editorias de economia a “força” do governo no Congresso na aprovação da PEC 241, parece estar de volta o tempo da foto aí de cima, do Marco Terranova, Prêmio Esso não só de fotografia como de jornalismo, em 1999. Depois do tiroteio com mortos e feridos na Zona Sul carioca, aberto nas maiores fotos das três capas de ontem, os jornais de São Paulo destacam em chamada de primeira página a despedida de José Mariano Beltrame do cargo de secretário de Segurança Pública do estado, que no Globo é a manchete.

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“De saída, Beltrame diz que UPPs ainda são desafio”, afirma o jornal carioca em letras garrafais, sobre a foto de Marcio Alves em que policiais militares, que mais parecem fuzileiros navais no Iraque, atravessam calmamente uma rua da sempre movimentada Copacabana. Em meio ao vaivém de pessoas comuns, civis levando suas vidas, alguns bem ao lado deles, atravessando na faixa de pedestres, os policiais têm as roupas camufladas em cinza, fuzil na mão e pistola no coldre. Um deles conduz pela coleira um cão farejador. Estão aí, entre nós, fazendo parte da paisagem e zelando pela paz depois do caos da véspera nos dois bairros turísticos, Ipanema também. Provocado pelo ataque à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da região, o tiroteio de anteontem com três supostos bandidos mortos e dois policiais feridos, a julgar pela manchete, não tira o otimismo do jornal com o projeto que mobiliza hoje, na capa, três de seus principais colunistas.

Para resolver “o nó da segurança” exposto logo no título de sua página 3, em que os candidatos à Prefeitura do Rio Marcelo Freixo (PSol) e Marcelo Crivella (PRB) discutem o tema, Ancelmo Góis diz que “não há outro caminho”. Zuenir Ventura expõe a “tragédia urbana” de Ipanema e, no meio deles, Miriam Leitão alerta para “os riscos nas UPPs”, alertados antes, claro, por Beltrame, que na abertura das cinco páginas sobre sua saída, todas sob o mesmo “fim de um ciclo” acima da manchete, posa de herói após missão cumprida. Para comprovar a eficiência do projeto hoje em crise, o jornal destaca com gráfico e dentro da matéria, em corpo maior, colorido, o índice de 51,35%, taxa de queda de homicídios dolosos no estado de 2006 a 2015. Não se sabe  se consta nessa taxa, feita com base em dados da Polícia Civil do estado, o caso do pedreiro Amarildo de Souza, que teve morte presumida decretada pela Justiça após seis meses de buscas  por seu corpo, depois que ele desapareceu dentro da UPP da favela da Rocinha.

Virando a página, a primeira meta do novo secretário, Roberto Sá, “é reforçar o policiamento nas ruas”, e duas páginas adiante o governador licenciado Luiz Fernando Pezão caminha de cabeça baixa em Brasília, na foto de Givaldo Barbosa. Pezão se diz muito preocupado com a saída de Beltrame, mas reconhece o cansaço inevitável dele após quase 10 anos no cargo, iniciados em janeiro de 2007, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomava posse para seu segundo mandato, após vencer o mensalão, a vanguarda do golpe. No Rio de Janeiro assumia Sergio Cabral, que ganhou apoio incondicional da grande mídia para, com a UPP, resolver enfim o eterno problema da segurança pública. E resolveu, pelo menos de acordo com a grande mídia, que cobriu as operações de ocupação das favelas, sobretudo a do Complexo do Alemão, em tom de vitória final.

A imagem da pequena multidão de traficantes em fuga correu o mundo, a paz enfim reinou e a imprensa familiar pode voltar todas as suas baterias à luta política contra a democracia, abalando a economia. Cabral foi reeleito em primeiro turno e depois de 2013, em meio a guardanapos e outras denúncias mais, sumiu do mapa, mas seu projeto ficou. Mesmo combalido, alvejado por traficantes e denúncias de que a tal pacificação, na verdade, não é bem assim, a UPP ainda é a solução para o Globo, que ao lado do Pezão preocupado abre uma página inteira só com o que pode piorar, segundo o jornal, se a UPP não vingar. No alto, o “tráfico manda fechar o comércio de morros de Ipanema e Copacabana”, o “clima de medo persiste” no subtítulo e embaixo “bandidos em fuga invadem Gavea Golf e são detidos”. Ao lado, o “magistrado que lutou contra o tráfico no estado” deixa a Vara de Execuções Penais, de licença, ele que “recebeu reforço para sua segurança pessoal”. E na página seguinte, sobre assunto diferente, o governador em exercício do estado, Francisco “Dornelles envia projeto à Alerj para regulamentar calamidade”.

Há coisas mais importantes para se preocupar agora do que a política, pode vir a pensar o leitor, ainda mais com a previsão do mercado de que haverá queda nos juros “com aprovação de teto de gasto”, que a Folha chama na capa. Ao lado o jornal dá manchete caseira avisando agora, passada a eleição, que as mortes nas marginais caíram 52% com a redução da velocidade instituída pelo prefeito Fernando Haddad (PT). O Estadão vai de Lava Jato, destacando que o BNDES bloqueia verba de empreiteiras para obra no exterior. E nas páginas de dentro sobre a operação o Globo diz, num daqueles editorais menores, que “passados 31 anos da redemocratização, o estado de direito ainda é uma obra em construção no Brasil”. Algum reconhecimento tardio dos arbítrios da Lava Jato? Não, a declaração é motivada pela decisão da juíza Pollyana Kelly Alves, da 12a Vara Federal de Brasília, que quebrou o sigilo telefônico do jornalista Murilo Ramos, da revista Época, da Globo. A decisão foi provocada por pedido do delegado da Polícia Federal João Quirino Florio, acolhido pela procuradora Sara Moreira de Souza Leite. Murilo investigava vazamento de relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sobre contas secretas de brasileiros no HSBC.

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O pequeno editorial ocupa mais espaço do que a matéria logo abaixo dele sobre outro Coaf. Na “Máfia da Merenda em SP: lobista acusa assessores”, diz o título acima da matéria curta, informando no pé da página que Marcel Ferreira Júlio, principal nome da máfia acusa ex-assessores do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Fernando Capez (PSDB), de participar do esquema. Marcel seria o elo entre o governo paulista de Geraldo Alckmin PSDB) com a Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), suspeita de fraudar venda de suco para escolas estaduais. Ele disse “ter mais gente com poder” na fraude, mas negou em nova delação, segundo sua defesa, a participação de Capez. Mas quem, afinal, se preocupa com máfias de merendas escolares quando a violência ameaça grassar cada vez mais, como na foto de Michel Filho aí em cima, também prêmio Esso de fotografia, de 1995, tirada na Avenida Brasil, porta de entrada do Rio em meio à miséria e ao caos das zonas menos prestigiadas da cidade. A imagem mostra a ação de policiais em tiroteio contra traficantes, com o povo no meio, assim como a imagem que abre esse texto, feita na prestigiada, rica Praia do Leblon. Afinal de contas, a violência é para todos.

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Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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Comentários

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Antonio Marcos Carvalho

12/10/2016 - 21h02

Hackearam o Robobô!
https://www.youtube.com/watch?v=jTxH8a5hpJ0&feature=youtu.be


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