Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
Em entrevista à Folha de São Paulo, em meio ao linchamento brutal do PT e de Lula pela Lava Jato em parceria com a mídia, Tarso Genro faz declarações serviçais no estilo que a mídia quer ouvir.
Repete sua atitude do início de março, quando dois dias após a condução coercitiva de Lula para depor no aeroporto de Congonhas, com a população democrática revoltada contra Sérgio Moro e a Lava Jato, deu entrevista também à Folha e afirmou que o “ciclo que levou PT ao governo está esgotado”.
Quando se espera que um político que teve sua história ligada ao PT, demonstre indignação e fúria, que ajude a levantar a resistência contra o golpe, Tarso Genro faz o teatro da moderação, pondera razões em avaliações medíocres, e dá uma versão dos fatos que só podem servir a disseminar prostração.
Hoje, ao ser perguntado como avalia a derrota e a rejeição ao PT nessas eleições, investe sem pudor na conciliação mais simplória, para, só ao fim, arranhar sem nenhuma vitalidade a verdadeira origem dos fatos. A derrota do PT, segundo ele,
“Representa, nesse sentido, o sucesso de um duplo movimento, patrocinado pela direita neoliberal e pelo oligopólio da mídia: de um lado, criminalizar a política, indicando que todos os políticos são iguais e que todos os políticos são corruptos, como forma de substituir os políticos pelos ‘técnicos do ajuste’. De outro, selecionando no ambiente político, como vítima especial desses ataques, o PT.” (negritos nossos)
Não é nada disso. O PT é o demônio para o qual converge toda a água benta e todas as cruzes e crucifixos que as elites têm em mãos. Essa é a terceira semana consecutiva de ataques intensivos e sanguinários, que se tornam ainda mais caluniosos na medida em que os outros partidos não são objeto desse bombardeio. Cadê as bombas contra o PSDB? Não existem. Então como falar que todos os políticos e todos os partidos estão sendo criminalizados?
Genro diz que tratam de “criminalizar a política, indicando que todos os políticos são iguais e que todos os políticos são corruptos”. Um absurdo essa frase. Primeiro, que o PT deveria ser medido pelo seu congênere, o PSDB. E o que acontece se fizermos essa comparação? Acontece que enquanto o PT é alvo de milhares e milhares de notícias negativas todas as semanas, sem falar das grandes operações e eventos espetaculares, o PSDB nada sofre.
Ao contrário. Toda mídia correu para exibir Aécio Neves – que coleciona denúncias – como o grande vencedor dessas eleições. Nenhuma palavra foi dita a respeito de qualquer investigação, de qualquer escândalo, e, muito menos, de qualquer calúnia, que o pudesse ter atingido.
A entrevista de Tarso Genro é uma declaração contundente, quase um documento, dos motivos pelos quais o PT chegou onde chegou, levado pelas mãos dos seus políticos de maior destaque. E de como, claro, no mesmo gesto em que avançaram pífias conquistas democráticas – no mesmo momento em que o país batia recorde na criação de bilionários – armaram os fundamentos (tal como o espírito policial criado com as UPPs), para a ascensão do fascismo que vivemos hoje.
Bolsonaro é um filho da UPP, não se pode ter dúvida quanto a isso. Em visita à UPP do Vidigal, em 2012, Genro pôde ouvir de Sérgio Cabral essas palavras de agradecimento e louvor:
“O governador Tarso Genro foi o grande precursor do apoio à nossa política de segurança. Como ministro da Justiça, apostou na nossa política de segurança. E a partir disso, a gente pôde realizar grandes parcerias com o Governo Federal. É um prazer trazê-lo aqui para mostrar um dos filhos dele, uma das UPPs que ele ajudou a construir – disse o governador Sérgio Cabral.” (Ver o VÍDEO no Youtube)
Esse homem, que ajudou a soltar sobre a população pobre do Rio de Janeiro – junto com Eike Batista, quem financiou parte do projeto das UPPs – a mais violenta repressão policial de todos os tempos, tudo aquilo que o PT condenou durante décadas, pergunta agora, em retórica agradável aos ouvidos da Folha, se o PT não se “envolveu em práticas que sempre condenou?” Não é curioso?
No momento em que era preciso denunciar com todas as forças a campanha massacrante contra o PT, visando prender Lula o mais rápido possível, não se poderia esperar desse ex-ministro da Educação, das Relações Institucionais e da Justiça da Justiça, outra coisa que a apresentação dessa espécie de delação premiada voluntária.
De uma só vez ele apresenta um testimonium paupertatis e uma certidão de óbito intelectual, ao tentar – embora tenha sido um dos políticos que mais altos cargos ocupou nos dois governos Lula –, lavar as mãos e entregar o ex-presidente de bandeja aos leões da mídia e da Lava Jato.
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