(Fotomontagem: A. Lacerda/V. Almeida/ EFE/AFP/ El País)
por Carlos Eduardo, editor do Cafezinho
A blogosfera política ferveu nestes últimos dias com os resultados das eleições e venho agora dar minha humilde contribuição ao debate.
Antes de tudo, esclareço que a avaliação se baseia no meu convívio pessoal, no debate político amistoso entre amigos, nada demais.
Sou nascido na Zona Norte do Rio de Janeiro e hoje moro na Zona Sul. Não faço o tipo alienado, que desconhece a cidade e frequenta somente os bairros mais ricos e elitizados. Meu círculo de amizades é bem amplo e variado, vai desde o Leblon e Ipanema até Glória, Santa Teresa, Tijuca e Grajaú.
Gente que fez engenharia, economia, direito, medicina, jornalismo, publicidade, cinema, história, teatro, produção cultural etc. As opiniões registradas são de jovens adultos com ensino superior, entre 24 e 39 anos.
Entre as diferentes tribos por onde passeio, o que nos une é o gosto pelo debate político. Esta talvez seja a única coisa que temos em comum, o prazer de compartilhar diferentes pontos de vista, sempre com respeito, ninguém briga por causa de política – graças a Deus esse tipo de comportamento fascista ainda não chegou ao meu círculo de amizades.
Posto isso, vamos às considerações.
No campo da esquerda, a maioria absoluta anunciou voto em Marcelo Freixo (Psol). No campo da direita, tive muitos amigos em dúvida entre Pedro Paulo (PMDB) e Carlos Osório (PSDB).
Um fato bastante curioso é a esquizofrenia do eleitor médio, o cidadão medíocre – não no sentido pejorativo, mas no sentido de comum, ordinário.
Em 2014, os deputados mais votados no Estado do Rio de Janeiro foram Jair Bolsonaro (PSC) e Marcelo Freixo. Coincidência, ou não, o mesmo se repetiu nestas eleições: Carlos Bolsonaro (PSC) e Tarcísio Motta (Psol) foram os vereadores mais votados.
Não tenho a intenção de menosprezar ninguém, mas percebo este tipo de comportamento no eleitorado comum, que no passado já votou em PSDB, PT e PMDB, mas hoje está desiludido com a política, e principalmente na classe média “antipetista”, influenciada pela mídia.
Por exemplo, em 2014 tive amigos “antipetistas” que no 1º turno votaram em Luiz Fernando Pezão (PMDB) para governador e em Marcelo Freixo para deputado estadual.
Já na esquerda esse tipo de comportamento é raro.
Todos com quem falei em 2014 anunciaram o voto em partidos como PT ou Psol no 1º turno e somente num eventual 2º turno, entre Luiz Fernando Pezão e Marcelo Crivella (PRB), optariam pelo primeiro, no “menos pior”, digamos assim.
Outro exemplo curioso ocorreu recentemente com um amigo que aprova a gestão de Eduardo Paes (PMDB), considera ótima, a melhor que já viu em toda sua vida no Rio de Janeiro.
Este mesmo amigo, “cansado de ver tanta corrupção do PT”, apoiou o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), porém, quando questionado sobre a roubalheira no PMDB, reconhecia os casos de corrupção, mas justificava seu voto em Pedro Paulo com o discurso do “rouba, mas faz” – um paradoxo.
Com o 2º turno definido, chegou a hora das previsões.
Um dado que me preocupa na campanha de Marcelo Freixo é a comparação de votos entre 2012 e 2016. Em 2012, contra Eduardo Paes, ele teve 914.082 mil votos (28,15% dos votos válidos).
Agora em 2016, temos uma queda: 553.424 mil votos (18,26% dos votos válidos).
A explicação para vitória acachapante de Eduardo Paes é simples: na época o PMDB ainda era aliado do PT e contava com algum apoio do PCdoB.
Mas a conta não fecha.
Os desempenhos de Marcelo Freixo, Jandira Feghali (PCdoB) e Alessandro Molon (Rede) no 1º turno somam 697.983 mil votos. Número menor que a votação de Freixo em 2012. Ou seja, sem parte dos votos da classe média, do eleitor medíocre e dos desiludidos que votaram em branco, ele não se elege.
Os votos em Flávio Bolsonaro (PSC) são carta fora do baralho, é dado como certo que migrarão em massa para Crivella.
A aposta do Psol terá que ser feita em cima dos eleitores de Pedro Paulo, Carlos Osório e Índio da Costa – e principalmente naqueles que anularam o voto no 1º turno (24,28% dos eleitores).
Entre meus amigos de “direita” já pude perceber duas tendências: a primeira é anular o voto, o que não interessa em nada a campanha de Freixo; a segunda é optar no socialista, com o objetivo de frear o avanço da Igreja Universal e boicotar o ex-governador Anthony Garotinho (PR), que declarou apoio à campanha de Crivella.
Garotinho é uma unanimidade no meu círculo de amizades: sua rejeição na Zona Sul do Rio de Janeiro é enorme. De fato, não conheço ninguém que goste dele.
Isso explica porque nesta terça-feira (4), muitos eleitores do Freixo compartilharam nas redes sociais uma matéria do Globo sobre o apoio de Garotinho à campanha de Crivella, em troca de cargos na prefeitura.
A estratégia é inteligente, pode angariar alguns votos, mas por si só não basta.
Eleito e reeleito senador desde 2003, Crivella vem se candidatando há algumas eleições, sempre com uma quantidade expressiva de votos. Conquistou ao longo do tempo uma base fiel de eleitores, que acompanha e aprova seu trabalho.
Ele ainda dispõe de um diferencial que simpatiza com a classe média comum e o eleitor medíocre – aqueles que votaram em Pedro Paulo, Carlos Osório e Índio da Costa.
Diferente dos pastores preconceituosos e fanfarrões – como Marco Feliciano, Pastor Everaldo e Silas Malafaia – Marcelo Crivella manteve ao longo de sua carreira política um discurso moderado. Ele não ataca publicamente os homossexuais, as religiões de matriz africana e outras minorias. Também não vocifera contra o aborto, a legalização da maconha e coisas do gênero.
Claro que dentro dos templos da Universal o discurso deve ser diferente, mas no debate público a imagem que transparece é do evangélico moderado, e no fim das contas é isto que importa.
O grande desafio de Marcelo Freixo será vencer o preconceito que existe hoje na sociedade contra o Psol, visto por muitos como um partido anarquista, radical de extrema-esquerda, a favor do comunismo no Brasil, e outras baboseiras.
Freixo precisa seguir o exemplo de Crivella e construir para si um discurso moderado, capaz de converter a seu favor o eleitorado médio que tem pavor dos evangélicos, mas também é fortemente influenciado pelo “antipetismo” da mídia e pretende anular o voto.
Até porque, convenhamos, ele não tem outra saída.
Dos 51 vereadores eleitos, apenas 10 podem ser considerados de “esquerda”: a bancada do Psol, com seis vereadores e mais PT e PDT, com dois vereadores cada.
Para governar a cidade do Rio de Janeiro com um mínimo de tranquilidade, Freixo será obrigado a dialogar com PSDB, DEM e uma dezena de partidos de aluguel.
Isto não significa perder a identidade e cometer os mesmos erros do PT.
Porém, se for eleito e por um acaso os vereadores obstruírem de propósito os trabalhos da Câmara e da administração pública, em retaliação ao governo, desde já Marcelo Freixo precisa ter em mente uma estratégia de comunicação.
Caso contrário a grande mídia vai jogar a culpa de todos os problemas da cidade nas costas do prefeito, do mesmo modo que fizeram com Dilma Rousseff, quando a Câmara de Deputados comandada por Eduardo Cunha votou contra o ajuste fiscal e a favor das ‘pautas-bomba’, aprofundando ainda mais a crise econômica no país.
Bruno
11/01/2017 - 16h12
parei em PSDB e PMDB de direita. lixo de texto.
Miguel do Rosário
11/01/2017 - 18h05
O chorume bolsomito chegou aqui. PSDB e PMDB são direita sim. Bolsonaro não é direita. É lixo.
Tereza Brandão
05/10/2016 - 16h09
Prefiro mil vezes votar no Crivella a votar em uma extremista de esquerda que é seguido pela massa jovem iludida, com a situação crítica em que vive a nossa cidade.
vera vassouras
05/10/2016 - 12h49
É inacreditável que em um país que se diz democrata e republicano, o que implica EM SEPARAÇÃO ENTRE IGREJA E ESTADO, ou seja LAICO, seja admitido como candidato um REPRESENTANTE DE UMA IGREJA. E o silêncio predomina. Isso não é um hospício?