Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, que apresentou acusação contra Lula no dia 14 de setembro, recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Direito. O título foi entregue pelo reitor da Facinepe, grupo educacional privado que já honrou com o mesmo título outras eminentes figuras, como o bispo Edir Macedo e o apresentador Silvio Santos.
O reitor da entidade se tornou conhecido ao dar entrevista à Record, em março, defendendo a médica pediatra que, logo após a divulgação por Moro dos áudios de conversa entre Lula e Dilma, se recusou a continuar tratando de um bebê de um ano por ser filho de mãe petista.
Com o título, Dallagnol recebe a primeira homenagem pública depois de ter se tornado objeto nacional de escárnio e piada com o show de PowerPoint na apresentação da Denúncia contra Lula. O título serve, portanto, como uma espécie de resgate do inferno, ou de passaporte para retorno à mídia.
A denúncia da Lava Jato, todo mundo lembra, foi tão ridicularizada que, na semana seguinte, ao serem procurados pela Folha de São Paulo para uma entrevista, os procuradores mandaram dizer, através da assessoria de imprensa, que não estavam atendendo a mídia.
O oportunismo de autopromoção da Facinepe com este evento (vejam o detalhe na foto: “Divulgação/Facinepe”), usando inclusive instalações públicas do MPF, traz o primeiro alento ao procurador que coordena a força-tarefa da Lava Jato depois de quase um mês de ostracismo. Em matéria especialmente dedicada, a Folha destacou as palavras de louvor do reitor da Facinepe na justificativa para a honraria. Dallagnol se destacaria por seu “perfil jovem e audaz” e pela “grandeza de sua coragem”.
Foi dito ainda pelo reitor Faustino da Rosa Júnior, na cerimônia realizada na Sede do Ministério Público Federal em Curitiba, que “Suas ações provocaram transformações de cunho social e moral em toda a sociedade brasileira, e serão objeto de estudo no mundo acadêmico por muito tempo”.
É interessante lembrar, para fazer uma ideia da isenção do reitor Faustino da Rosa Júnior, que ele deu depoimento a Record em defesa da médica pediatra, Maria Dolores Bressan , que, em março desse ano, se recusou a continuar a atender um bebê de um ano, por ser filho de uma petista.
O fato ocorreu um dia após a divulgação dos áudios de conversa de Lula e Dilma, pelo juiz Sérgio Moro, momento em que a médica enviou para a mãe uma mensagem de texto informando que estava “declinando, em caráter irrevogável”, de continuar atendendo seu filho de 1 ano, como noticiou o Estadão.
Pois é. O reitor que premiou Dallagnol é o mesmo que defendeu a médica que, após uma ação de Sérgio Moro, repudiada por boa parte do mundo jurídico, se recusou a continuar atendendo um bebê de um ano. Todos os fios estão conectados. Resta saber se é mera coincidência ou mais que mera coincidência.
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Atualização 07/10/2016: Mudamos o título desse post e removemos trecho de seu conteúdo, que mencionava processo do Ministério Público do Mato Grosso contra a instituição, porque este processo no MP – que existiu, de fato – foi arquivado, segundo nos respondeu a própria Facinepe, em nota enviada ao blog.