Por Theo Rodrigues, colunista do Cafezinho
A lógica eleitoral tem as suas leis. Uma delas diz o seguinte: o partido do governador do momento elege a maior quantidade de prefeitos no seu estado.
Colocada no teste da realidade, essa lei foi confirmada nas eleições municipais de 2016 no estado do Rio de Janeiro.
Em 2012, o PMDB do então governador Sergio Cabral foi o partido que elegeu mais prefeitos no estado – 21 ao todo. Em 2016, agora sob o governo de Pezão, elegeu 18 prefeitos no primeiro turno – e esse número ainda pode crescer no segundo turno.
A esse resultado deve ser somado outro: o PP de Francisco Dornelles, vice-prefeito que nos últimos meses assumiu interinamente a vaga de Pezão, também viu seu partido crescer e ser o segundo mais votado: dos 9 prefeitos de 2012 passou para 16 em 2016.
Esse campo político, PP e PMDB, mantém-se, portanto, como a principal força política do estado, não obstante a estrondosa derrota de Pedro Paulo na capital.
O PR de Garotinho também cresceu, passou de 6 para 7 prefeitos, embora em seu reduto original, Campos dos Goytacazes, tenha perdido a eleição já no primeiro turno para o jovem Rafael Diniz do PPS.
Aliás, o PPS também teve um sucesso eleitoral invejável. Partido que não havia eleito nenhum prefeito em 2012, neste ano passou a ter 6 prefeituras no estado.
Resultado inverso teve o PSC que saiu de 7 prefeituras para apenas uma neste ano.
O PSDB e o DEM mantiveram exatamente o mesmo resultado da eleição passada: duas prefeituras cada um.
Apesar da saída de Alexandre Cardoso e Glauber Braga, as emergências do senador Romário e do deputado Hugo Leal no PSB parecem ter sido suficientes para o partido crescer de 6 para 7 prefeituras. Esse número ainda pode aumentar se Rubens Bomtempo for reeleito no segundo turno de Petrópolis.
A derrota da esquerda
Com a exceção do PDT, que subiu de 4 para 6 prefeitos, a esquerda foi fragorosamente derrotada no estado.
O PT reduziu drasticamente de 10 prefeitos eleitos em 2012 para apenas um agora: Fabiano Horta em Maricá, reduto eleitoral do presidente do partido, Washington Quaquá.
Já o PCdoB, que na eleição passada havia eleito 3 prefeitos, dessa vez não elegeu nenhum.
O PSOL perdeu sua única prefeitura no interior do estado, Itaocara, mas levou ao segundo turno da eleição carioca Marcelo Freixo.
Do ponto de vista da renovação da esquerda no estado as duas derrotas mais lamentadas foram as de Brizola Neto (PDT) em São Gonçalo e de Glauber Braga (PSOL) em Nova Friburgo.
Com uma chapa puro sangue de esquerda, formada por PSOL, PCdoB, PCB e PPL, Glauber alcançou o segundo lugar em Friburgo. Se ainda tivesse tido o apoio do PT poderia ter vencido aquela eleição.
Em Niterói a eleição ainda será decidida em segundo turno entre Rodrigo Neves (PV) e Felipe Peixoto (PSB). No entanto, há uma nítida vantagem para a reeleição do ex-petista Neves.
O mesmo acontecerá na capital com a disputa entre Marcelo Freixo (PSOL) e Marcelo Crivella (PRB), onde uma leve tendência de vitória pesa em favor do candidato da Igreja Universal. No caso do Rio cabe ainda uma observação não trivial: cerca de 40% do eleitorado carioca simplesmente não participou da eleição, seja por ter votado nulo ou em branco, seja pela abstenção.
Em 2018, PMDB terá mais dificuldades na eleição para governador
A configuração do quadro municipal de 2016 é seguramente mais fragmentada do que foi a de 2012. Essa fragmentação muda o cenário para 2018. Se desde 2006 o PMDB vinha vencendo com certa facilidade as eleições estaduais, na próxima eleição terá mais dificuldades em fazer o sucessor de Pezão.
Eduardo Paes, que se apresentava até então como um imbatível candidato ao governo do estado pelo PMDB, saiu dessa eleição nitidamente fragilizado com a derrota de Pedro Paulo.
O mesmo ocorreu com a esquerda, notoriamente com as derrotas do PT e do PCdoB, e com Garotinho que perdeu em seu reduto eleitoral.
Um quarto campo político, quem sabe formado por PDT, PSB, PV, REDE e PPS, parece ser cada vez mais plausível no estado do Rio de Janeiro.
De todo modo, o resultado final do segundo turno carioca ainda precisa ser consolidado para que as peças finais desse interessante xadrez político sejam colocadas.
Theo Rodrigues é sociólogo e cientista político.
Fonte: o gráfico é da UOL Eleições.