(Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil)
Por Miguel do Rosário
Os desembargadores que votaram a favor de Moro, recentemente, num voto cheio de citações estapafúrdias, quase ao estilo “Marx e Hegel”, foram bastante precisos quando disseram que a Lava Jato podia adotar medidas “excepcionais”, ou seja, estranhas à jurisprudência brasileira e à Constituição. O próprio Moro, em palestra, também recente, para um punhado de fanáticos numa cidade do Sul, foi absolutamente franco, ao dizer que é era preciso tratar com “relativa excepcionalidade” a questão das prisões cautelares e a presunção de inocência.
Vejam o caso Palocci. Moro mandou prendê-lo acusando-o de fazer lobby para a Odebrecht. E menciona no despacho a Medida Provisória 406/2009, que beneficiaria a empreiteira. Em sua defesa, Palocci diz que votou contra a medida. Moro rebate que a afirmação é “carente de prova”. O juiz não se deu ao trabalho de conferir o painel da Câmara, que mostra o voto de Palocci. Moro diz ainda Palocci teria trabalhado para “prevenir” o veto presidencial a um benefício presente na medida. Lula vetou o benefício.
Palocci diz que não é o “italiano”, porque há mensagens, nos próprios autos, em que o nome de Palocci aparece ao lado de “italiano” (tipo: Palocci e o italiano estiveram aqui, etc), e há referências a uma pessoa próxima a Marcelo Odebrecht que era chamada também de “Itália”, e que esta seria a pessoa conhecida como “italiano”.
Abaixo, trecho do despacho surreal de Moro, em que o juiz parece ir na contramão dos próprios autos.
Tudo é muito absurdo. Moro mandou prender Palocci porque, entre outras razões, a PF não encontrou provas para incriminá-lo e isso seria sinal de que ele as escondia. Daí resolveu mantê-lo preso indefinidamente, porque… não se encontraram provas contra ele.
Ora, suponho que Palocci não seja santo, como pouca gente é, e que a PF agora vai vasculhar a vida dele de cima a baixo, para encontrar alguma filigrana que possa conectar a outra coisa, ou então, o que é o mais provável, deixá-lo apodrecer na cadeia, até que fique desesperado o suficiente para “delatar” Lula ou alguém mais do PT, porque Sergio Moro já deixou bem claro – João Santana e esposa que o digam, além do próprio Marcelo Odebrecht – que o sujeito só sai da Torre de Londres se disser alguma coisa que possa ser útil ao Power Point da Lava Jato.
Como a prisão de Mantega pegou mal, Moro imediatamente mandou prender Palocci. Algum petista graúdo tinha que ser preso às vésperas das eleições, para surtir efeito nas urnas.