Por que ainda dá para Haddad surpreender na reta final
por Renato Rovai, na Revista Fórum
Esta eleição não é para amadores. E tão pouco para profissionais. É a eleição dos búzios, dos videntes, dos amigos do desconhecido. Daqueles que têm interlocução com forças cósmicas e cujas vozes não se pode encontrar nos grupos de pesquisas qualitativas.
O número de indecisos nesta semana nas pesquisas espontâneas ainda se encontra na faixa dos 50% em muitas cidades brasileiras. Sendo que em algumas está acima de 60%. É algo absolutamente inédito para a semana de uma disputa municipal, quando os candidatos são pessoas que todos conhecem de no mínimo ouvir falar. Quando há carros de som passando a cada dez minutos por todas as ruas e gente distribuindo santinhos em todas as esquinas.
Isso só está acontecendo porque essa é a eleição do misto do desprezo com a raiva.
As pessoas, principalmente as do andar de baixo na escala social, estão absolutamente cansadas. Viram suas vidas piorar significativamente nos dois últimos anos e já não estão dando conta de lutar pra segurar a onda “enquanto eles brigam”.
Isso mesmo, para o andar mais baixo da escala social, a “briga deles é que está danando com a nossa vida”.
Ou seja, impeachment, golpe ou seja lá o que for é uma disputa de quem não se preocupa com o povo. De quem está querendo manter seu naco de poder.
Este sentimento feriu de morte o PT em várias cidades, em especial nos grandes centros urbanos do sudeste, com destaque ainda mais do que especial para São Paulo.
E não só, mas também por isso, Haddad patinou em índices de um dígito até esta semana e só chegou a 11% no Datafolha ou 12% no Ibope ontem.
É pouco, mas é simbólico. E os petistas que se animaram com esse voo de galinha não estão errados na avaliação.
Como Marta caiu e Erundina ficou ainda menor, há sim, uma possibilidade concreta de bases populares mais conscientes da periferia migrarem nos próximos dias para o petista. Como também pode haver um fenômeno semelhante nos setores médios que não aceitam um segundo turno entre dois reacionários de baixo quilate, Dória Jr. e Russomanno.
Se isso vier a acontecer, Haddad pode ver seu eleitorado praticamente dobrar nos próximos dias, ganhando uns 2 ou 3 pontos de Erundina e uns 5 ou 6 pontos de Marta. E, vejam que ironia, com a ajuda de Dória, pode ir para o segundo turno.
É Dória que está desidratando Russomanno na periferia. Foi Dória quem avançou no eleitorado de 1 a 2 salários mínimos. E se esse fenômeno se intensificar nos próximos dias o candidato do PRB pode vir a morrer na praia de novo nesta eleição.
Não é só em São Paulo que essa reta final pode vir a pregar peças como essa. Em muitos outros lugares os institutos vão ter que se explicar depois que as urnas forem abertas.
Serão acusados de manipulação, em alguns casos com razão. Mas em muitos não.
Essa é uma eleição completamente atípica. E por mais que pesquisas tenham um certo toque científico, não me parecem mais seguras neste momento do que consultar os búzios.