O que a História dirá sobre as eleições de 2016?

Por Ricardo Azambuja, colaborador do Cafezinho

 

A última pesquisa eleitoral realizada pelo Ibope para a eleição de prefeitos das capitais brasileiras em 2016 diz muito sobre o momento que vivemos. Fora do contexto sócio político dos últimos meses, parece estar tudo como manda a democracia: uma eleição baseada no voto da maioria, dentro das normas constitucionais que regem o processo.

Porém, há uma camada grossa de verniz que esconde a realidade dos fatos. Um grande complô avariou recentemente os alicerces desta mesma democracia, de forma grave e intencional, destituindo do poder uma presidenta eleita por 54,5 milhões de votos e comprovadamente inocente dos crimes de responsabilidade a ela atribuídos. Esse grupo golpista foi além, com a ajuda dos meios de comunicação e judiciário, escancarou uma campanha contínua de desprestígio e culpabilidade do Partido dos Trabalhadores, o maior partido de esquerda no Brasil.

A intenção foi clara, tirar do poder uma esquerda boa de voto e que vinha crescendo nas urnas, utilizando o combate a corrupção de forma seletiva e unilateral, mas eficiente para angariar apoio de uma classe média embriagada por um moralismo hipócrita e seletivo. Ou seja, contra a ‘corrupção dos outros’. Para piorar, o grupo tem em suas fileiras vários integrantes envolvidos em diversos crimes e já demonstra seu propósito de desacelerar as investigações da Operação Lava Jato, que investiga um esquema bilionário de desvio e lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras, empreiteiras e políticos, antes que alcance seus aliados golpistas.

O resultado da última pesquisa do Ibope (no final da matéria) indica que o golpe foi bem sucedido, apresentando um declínio na possibilidade do PT de conquistar prefeituras importantes e um avanço das forças conservadoras. Mostra também um crescimento da extrema direita e de pequenos partidos de esquerda. A análise dos votos nulos e brancos após as eleições dará um panorama completo do momento político atual.

Lavagem cerebral

Quando a mente não consegue acompanhar ideias avançadas, ela tende a se acomodar a ideais ultrapassados. Essa dificuldade de se atualizar, de ser “uma metamorfose ambulante”, como cantava Raul Seixas, reflete uma ausência de capacidade crítica, uma acomodação do pensar. Também pudera, sem Educação de qualidade, escravo de uma mídia maniqueísta e envolto num ambiente de apartheid social, o povo se vê sem forças para exigir mudanças.

Neste contexto, temos uma realidade brasileira forjada pelos interesses de meia dúzia de proprietários de grandes redes de comunicação, por onde circulam informações mastigadas, digeridas por bocas que não questionam origem e conteúdo. Na verdade, somos regidos por antenas desde o surgimento do primeiro plim plim. Aprendemos a saborear um verdadeiro banquete de entretenimento tendencioso, muito pouco verídico, mas efetivo em estabelecer opiniões e gostos de consumo. Nem George Orwell imaginaria tanto poder.

O antídoto veio com a popularização da internet e a possibilidade de acesso a novos meios de informações. Mas o estrago feito aos mais frágeis à exposição de meio século de doutrinação midiota foi tão eficiente quanto a propaganda nazista de Joseph Goebbels. As redes sociais evidenciam o quanto de alienação foi imposto, mas também mostram reações contra o domínio da informação pré concebida. A luta verdadeira acontece nos blogs, com análises menos superficiais e mais críticas.

E a História?

Imagine ser acordado amanhã pela História? Sem o calor do momento, a certeza esmorece perante os fatos. Aconteceu o mesmo com ex-nazistas arrependidos, com as “bravuras” farroupilhas do general Davi Canabarro, até a História contar sua traição em conluio com o imperialista Barão de Caxias, que resultou na emboscada dos lanceiros negros, os melhores guerreiros entre todos os farroupilhas, assassinados covardemente por serem negros. Enfim, existem vários exemplos de deturpação histórica, principalmente quando o acesso às informações era mais limitado. Agora é diferente, está tudo registrado digitalmente. Temos redes sociais e blogs para evidenciar os fatos. A História tem mais recursos para legitimar ou condenar atos passados. Somos personagens ativos e passivos deste momento controverso da História do Brasil e seremos julgados por nossos filhos, netos e seus descendentes.

 

Pesquisa Ibope para prefeitos das capitais

O primeiro turno das eleições municipais de 2016, que elegerão em todo o país prefeitos e  vereadores, será realizado em 2 de outubro, primeiro domingo do mês. O segundo turno (somente nas cidades com mais de 200 mil eleitores) está marcado para 30 de outubro, último domingo do mês.

SUDESTE

Rio de Janeiro
(26/09)
Marcelo Crivella (PRB) – 35%
Pedro Paulo (PMDB) – 11%
Marcelo Freixo (PSOL) – 9%
Indio da Costa (PSD) – 8%
Jandira Feghali (PCdoB) – 6%
Flávio Bolsonaro (PSC) – 6%

São Paulo
(26/09)
João Doria (PSDB) – 28%
Celso Russomanno (PRB) – 24%
Marta (PMDB) – 15%
Fernando Haddad (PT) – 12%
Luiza Erundina (PSOL) – 4%

Belo Horizonte
(26/09)
João Leite (PSDB) – 33%
Alexandre Kalil (PHS) – 25%
Reginaldo Lopes (PT) – 4%
Eros Biondini (PROS) – 4%

Vitória
(17/09)
Amaro Neto (SD) – 34%
Luciano Rezende (PPS) – 31%

SUL

Porto Alegre
(23/09)
Sebastião Melo (PMDB) – 29%
Raul Pont (PT) – 17%
Nelson Marchezan Júnior (PSDB) – 17%
Luciana Genro (PSOL) – 12%

Curitiba
(19/09)
Rafael Greca (PMN) – 45%
Gustavo Fruet (PDT) – 16%
Requião Filho (PMDB) – 8%

Florianópolis
(16/09)
Gean Loureiro (PMDB) – 35%
Angela Amin (PP) – 27%

CENTRO-OESTE

Goiânia
(16/09)
Iris Rezende (PMDB) – 36%
Vanderlan (PSB) – 27%

Campo Grande
(16/09)
Marquinhos Trad (PSD) – 41%
Rose Modesto (PSDB) – 22%

Cuiabá
(16/09)
Procurador Mauro (PSOL) – 30%
Emanuel Pinheiro (PMDB) – 27%

NORDESTE

Recife
(26/09)
Geraldo Julio (PSB) – 39%
João Paulo (PT) – 29%
Daniel Coelho (PSDB) – 15%

Salvador
(19/09)
ACM Neto (DEM) – 69%
Alice Portugal (PCdoB) – 12%

Fortaleza
(14/09)
Roberto Cláudio (PDT) – 34%
Capitão Wagner (PR) – 28%

Aracajú
(15/09)
Edvaldo Nogueira (PCdoB) – 36%
Valadares Filho – 26%

Maceió
(14/09)
Rui Palmeira (PSDB) – 35%
Cícero Almeida (PMDB) – 28%

João Pessoa
(14/09)
Luciano Cartaxo (PSD) – 53%
Cida Ramos (PSB) – 29%

Natal
(12/09)
Carlos Eduardo (PDT) – 53%
Kelps Lima (SD) – 8%

Teresina
(12/09)
Firmino Filho (PSDB) – 48%
Dr Pessoa (PSD) – 31%

São Luis
(14/09)
Edvaldo H Jr (PDT) – 37%
Wellington do Curso (PP) – 31%

NORTE

Belém
(10/09)
Edmilson (PSOL) – 36%
Éder Mauro (PSD) – 24%

Manaus
(16/09)
Artur Neto (PSDB) – 42%
Marcelo Ramos (PR) – 20%

Rio Branco
(16/09)
Marcus Alexandre (PT) – 62%
Eliane Sinhasique (PMDB) – 27%

Palmas
(15/09)
Carlos Amastha (PSB) – 41%
Raul Filho (PR) – 21%

Macapá
(16/09)
Clécio Luis (Rede) – 27%
Aline Gurgel (PRB) – 18%

Porto Velho
(16/09)
Léo Moraes (PTB) – 21%
Dr Mauro Nazif (PSB) – 21%

Boa Vista
(16/09)
Teresa Surita (PMDB) – 74%
Sandro Baré (PP) – 6%

 

 

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