Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
O que acontece com quem ousa contrariar a Lava Jato? O ministro Marco Aurélio Mello, que em março e abril foi voz solitária no STF denunciando as violências e abusos da operação, é um bom exemplo. Seu caso é chocante e ilustra muito bem o poder da mídia e da Lava Jato no Brasil hoje. Vejamos.
No mesmo dia da condução forçada de Lula para depor no aeroporto de Congonhas, em 04 de março, Marco Aurélio questionou o procedimento e, com o peso de sua posição de ministro do STF, concluiu que era ofensivo ao estado democrático de direito. Ele disse que levar Lula daquela maneira para depor, quando bastava intimá-lo, equivalia a “conduzir debaixo de vara”, como se dizia antigamente.
Não demorou, e o ministro voltou à carga. Em 30 de março, Mello afirmou que “sem ‘fato jurídico’, o impeachment ‘transparece como golpe‘”. Portanto, dois pontos importantes: a Lava Jato feria o estado de direito (contra Lula), e os operadores do impeachment, conduzido-o sem provas, efetuavam um golpe (contra Dilma).
E, em 04 de abril, no programa “Roda Viva” da TV Cultura, Marco Aurélio avançou mais, até os métodos empregados para alcançar cooperação dos investigados. Disse que via “algo de errado no grande número de delações premiadas” sendo fechadas pela Justiça Federal na Lava Jato.
Depois de todas essas declarações, fartamente aproveitadas pelos críticos para combater a Lava Jato, o ministro do STF foi banido pelas elites do convívio social. Ninguém mais o procurou, mídia nenhuma foi atrás da opinião dele, sua figura afundou no mais cruel ostracismo. Foi um duro castigo por ter fornecido tanta munição aos inimigos.
Combalido e exausto pelo jejum das manchetes, sem vocação para faquir, fraco demais para resistir, quase uma sombra do que fora, depois de tamanha tortura dentro da masmorra dos sem-mídia, ansiando por luz igual aos detidos de Moro, Marco Aurélio entregou os pontos e resolveu contar até o que não sabia.
Quando Gilmar Mendes no mês passado, em agosto, na ânsia de defender Aécio e o PSDB, chamou de “cretino” o autor de uma proposta aplaudida pelo MPF, Marco Aurélio, querendo limpar sua imagem, em atitude humilde e serviçal, tomou posição inversa às que defendia em março e abril. Ao invés de criticar a Lava Jato, correu aos prantos para a mídia dizendo que preferia ver mil abusos (excessos), do que uma omissão:
“O Ministério Público vem atuando, e reafirmo o que venho dizendo: mil vezes o excesso do que a acomodação. E temos o Judiciário para corrigir possíveis erros de procedimentos”.
Isso lembra o clima dos expurgos na URSS em 1937-38. O próprio Stálin ensinava que era melhor rolarem alguns milhares de cabeças inocentes a mais (excesso) do que se deixar escapar meia dúzia de espiões (acomodação). Marco Aurélio também prefere o excesso à acomodação.
Eis aí o terror da Lava Jato. Ela representa o fetiche em torno do qual as elites brasileiras, de braços dados com a classe média, uniram-se com uma força nunca vista antes. Nesse campo de força, todas as ilegalidades serão perdoadas, todos os arbítrios (mil vezes o excesso!) serão incentivados. Ai de quem se oponha à Lava Jato!
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