(Foto: Mídia Ninja)
Por Miguel do Rosário, editor-chefe do Cafezinho
Muita calma nessa hora!
No dia 2 de outubro, daqui a exatamente uma semana, haverá o primeiro turno das eleições municipais.
A tensão aumenta em todo país. No Rio de Janeiro, a delicada costura entre Freixo (Psol) e Jandira (PcdoB), para que não se ataquem mutuamente, ameaça se romper, em função de um fator natural: os dois candidatos, por mais que tenham mantido um acordo de paz, disputam uma só vaga no segundo turno com Crivella (PRB).
É preciso, no entanto, lembrar a razão do pacto de não-agressão entre os candidatos. Seja quem for que passar ao segundo turno, Jandira ou Freixo, precisará do apoio do outro. Não apenas em termos de transferência de votos, mas também de um esforço militante que se tornará fundamental, considerando que o candidato de esquerda que passar ao segundo turno enfrentará uma agressiva e ultracapitalizada campanha conservadora.
Ingressamos agora no momento mais delicado da campanha, em que haverá necessidade de mantermos uma postura oriental, dialética, sábia.
Em primeiro lugar, parabenizemos os dois candidatos da esquerda carioca por terem preservado, até o momento, um clima de mútuo respeito.
O nosso colunista Theo Rodrigues assina um artigo, no post anterior, em que critica, com elegância e moderação, um post de Jean Wyllys no qual este faz críticas pesadas e injustas à Jandira Feghali.
O Cafezinho, que é sediado no Rio de Janeiro, e por isso dá uma atenção especial às eleições na cidade, tem tentado fazer uma cobertura a mais democrática possível. Entrevistamos candidatos de vários partidos, até mesmo o Carlos Roberto Osório, do PSDB.
Até o momento, todavia, preferimos não nos posicionar em relação a nossos candidatos aqui no Rio, para não abrir fraturas no pacto de não-agressão entre Freixo e Jandira, e também porque estávamos indecisos.
Como tantos cariocas, defendemos uma chapa única. Mas entendemos que não foi possível. Hoje vemos que talvez tenha sido melhor assim: termos candidaturas mais coesas em tornos de seus respectivos projetos e ideias.
O Cafezinho hoje é um blog com vários colunistas. Então agora vou me posicionar apenas pessoalmente, como cidadão e blogueiro.
Meu voto no Rio vai para Jandira Feghali.
Entretanto, faço questão de dizer que respeito mais que nunca Marcelo Freixo, candidato pelo PSOL. Esforçar-me-ei, como diria Mr.Fora Temer, para evitar que as escaramuças entre militantes atrapalhem a aliança entre os dois no segundo turno.
Não penso apenas nas eleições deste ano. Estou pensando mais longe: como construir uma aliança das forças progressistas, incluindo aí o centro progressista, para os próximos anos?
Os supostos “erros” de Jandira Feghali, como o de ter sido aliada do PMDB ao longo dos últimos anos, são também erros meus. Eu, como milhões de brasileiros, acreditei na possibilidade de uma aliança com o centro político, em nome da governabilidade (que não era ainda um palavrão) e do bem estar do povo brasileiro.
Nosso maior erro, de fato, foi não ter visto, a tempo, o centro político correndo para o outro lado do balcão. Centro é centro, por isso se chama assim: vai para onde o vento sopra.
Para vereador no Rio, meu voto vai para David Miranda, candidato pelo PSOL, por várias razões que não é o caso elencar agora. Leia a entrevista que fizemos com ele!
Para prefeito, acho que Jandira é a candidata mais completa nesta quadra tão difícil da nossa história política.
Freixo cometeu um erro neste primeiro turno: ele reduziu sua participação na luta política nacional, apequenando-se no papel de um candidato provinciano – e isso justamente no momento em que eleitor se encontra mais politizado do que nunca.
O grande tema dessas eleições, numa metrópole que deseja se manter influente e cosmopolita, é a questão democrática. Fugir disso é, na minha opinião, um erro fatal para o tipo de eleitor que eu quero ser.
A militância que apoia Jandira, contudo, não deve cair em provocações contra Marcelo Freixo. Me parece óbvio que a direita irá infiltrar gente para criar tensões entre as duas candidaturas, sobretudo para permitir a entrada de Pedro Paulo no segundo turno.
A mesma coisa vale para Jean Wyllys, deputado federal. Mesmo que discordemos, duramente, de algumas de suas posições, em especial em relação às eleições municipais no Rio, é importante preservarmos a nossa parceria de longo prazo.
A última coisa de que precisamos agora é de sectarismos. Também acho inoportunas, neste momento, altercações superficiais, levianas, envolvendo as “jornadas de junho” (do tipo: PSOL ajudou black blocs, etc), como é típico de setores da esquerda mais tradicional.
Há um setor numeroso da militância psolista que tem uma animosidade muito grande contra o PT. Mesmo assim, o PT, como uma legenda maior e com mais responsabilidade, não pode devolver na mesma moeda.
A esquerda tradicional precisa calçar as sandálias da humildade e fazer uma profunda autocrítica, não uma autocrítica moralista, vitimista ou indulgente consigo mesma, mas sim uma crítica criativa, arrojada, que inspire confiança tanto em sua própria militância, como nas ovelhas ideológicas desgarradas, que andam por aí novamente caçando um sonho, uma utopia, um projeto de país que não seja este inferno triste oferecido pelo governo golpista e pela grande mídia chapa-branca.