Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
A prisão arbitrária de Mantega, seguida de sua soltura, igualmente arbitrária, é só um balão de ensaio, uma sonda, para medir o grau de aceitação da arbitrariedade no país quando praticado da parte da Justiça, ou melhor, da parte de Sérgio Moro. Feito esse ensaio geral, o objetivo não é outro, nem poderia ser, senão a prisão de Lula.
Sérgio Moro, que ontem se apresentava no espaço em que costumam se exibir os palhaços Patati Patatá, numa palestra para 1.500 pessoas com ingresso entre R$ 60 a R$ 90, hoje transforma o país em um picadeiro.
O princípio que rege a prisão de Mantega, parece ser o seguinte: se eles engolem isso eles engolem qualquer coisa, e se engolem qualquer coisa, então está já na hora de prender Lula.
A passividade que se instalou desde o dia 14 de setembro, a desorganização da resistência que não mostra uma clara agenda de atos e eventos destinados a recompor a mobilização, que ao início do mês havia chegado a pôr 100 mil pessoas nas ruas, em São Paulo, tem que ser substituída pela decisão resoluta de resguardar o principal símbolo da esquerda: ocupar as ruas contra a prisão de Lula.
Se está cavando a própria sepultura quando se permanece apático diante de um grupo com objetivos muito bem definidos (a mídia, a FIESP, a FEBRABAN, etc.), que incessantemente adula e incita (com prêmios e homenagens) seus operadores (juízes, procuradores, ministros do STF), e comemora cada feito deles. A incapacidade de ação será fatalmente entendida como um ânimo apático de quem perdeu a capacidade de luta.
E para isso que a prisão de Mantega hoje serviu como laboratório, para averiguar a disposição de luta dos que estão ao lado da democracia.
A esquerda nesse momento, não se pode negar, deixou-se levar por certa apatia. Uma certa depressão, originada dos eventos recentes, em especial a denúncia contra Lula há uma semana, está se espalhando, como uma sombra ou um parasita que cobre e termina por matar a árvore. Na semana passada, entre a noite de sexta e a de domingo, tivemos uma apatia fúnebre, expressa numa baixa de atividade das redes, que, possivelmente, se deveu à expectativa traída. Esperava-se, de fato, um Lula vibrante, provocativo, até arrogante, numa atitude de Luta. Infelizmente, como se viu, não era aquele um bom momento para ele, nem a voz estava a seu favor.
Mas isso, não deveria ter um papel tão pronunciado. Não se pode esperar que uma única andorinha faça o verão da esquerda inteira, ainda mais quando as contingências da idade e da saúde cobram o seu preço. O que seria preciso é que os inúmeros segmentos unidos na resistência, inclusive aqueles de filiação partidária, tivessem um claro programa e uma liderança ousada capaz de ocupar as ruas.
O golpe é inteiramente midiático, e a resposta a ele deve se fazer com grandes manifestações, que é o único modo de dar repercussão na mídia, ou seja, de responder no mesmo idioma que o da Lava Jato. O juiz Sérgio Moro joga para a plateia, através da mídia, mas modula e monitora o tempo todo a reação desse público, revertendo então suas decisões para se adequar, quando a repercussão é negativa. Foi isso o que acabou de aconteceu, com a revogação da prisão de Mantega.
Houve muita revolta e críticas com a notícia de que o ex-ministro estava no hospital para acompanhar a cirurgia da esposa, que sofre de câncer.
Feito o enorme estrago, inclusive com consequências talvez devastadoras para essa mulher, internada com câncer em um hospital, onde o marido foi capturado como criminoso comum, pior, como um fugitivo, Sérgio Moro voltou atrás da forma mais desenvolta, com se tudo não passasse de uma brincadeira. Como se fosse um picadeiro.
A palhaçada, se perdurar o imobilismo e a passividade da resistência será, muito antes do que se espera, retomada com a prisão de Lula usando do mesmo grau de arbitrariedade e violência.
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