Por Tadeu Porto*(@tadeuporto), colunista do Blog Cafezinho
Na semana que se inicia com medidas duríssimas contra o mercado de petróleo brasileiro, domingo com a possível destruição da política de conteúdo local e hoje com um Plano de Negócios e Gestão que transforma a Petrobrás numa mera exportadora de óleo cru (garantindo a subserviência do petróleo brasileiro à tecnologia do capital internacional), Pedro Parente ganha de presente do Estadão um editorial que tenta vender à população, daquela maneira canalha e fictícia que parecem ser natureza da mídia tradicional, o ínicio de uma nova era na estatal, do “profissionalismo” e da “gestão”.
Bom, com todo respeito (e rima pra descontrair), nova uma ova. Nem mesmo o golpe que levou Parente a presidência é novidade na história da empresa.
Além disso, a imprensa ignora – por conveniência ou talvez esquecimento – que o ex-ministro do apagão já fez parte do quadro de conselheiros da companhia e que, em seu tempo de CA (inclusive como presidente) os resultados foram não só pífios, mas também desastrosos.
Não são apenas as letras maiúsculas do nome Pedro Parente que remetem às iniciais Plataforma Petrobrás, mas também o fato dele estar a frente do Conselho de Administração quando aconteceu a maior tragédia da história da companhia: o afundamento da Plataforma P-36, que destruiu a imagem da empresa, tirou a vida de onze pessoas e causou uma perda de produção inimaginável ao país.
E vejam só quanta irônia: pouco mais de um mês depois da Petrobrás de FHC ter entregado sua plataforma mais nova aos domínios de Davy Jones, Parente elogiou (isso mesmo, ELOGIOU!) a gestão do seu amigo Henri Philippe Reichstul “Não tenho a menor dúvida disso. Ele está fazendo um bom trabalho” . Que beleza de meritocracia, hein? Como que alguém é presidente de uma empresa que, acidentalmente (ou não), mata onze pessoas “está fazendo um bom trabalho”?
Vale ressaltar, ainda, que a incompetência de Parente na tragédia da Petrobrás tucana não fica só por aí: não podemos esquecer que ele faz parte do conselho que aprovou, por unanimidade, o nome PetroBrax feito para privatizar a empresa. Sem contar, ainda, os possíveis prejuízos bilionários nos contratos com as termelétricas que Pedro causou e não podem ser esquecidos (aliás, Cerveró delatou o filho de FHC por contrato com a Termorio, só para informação).
Portanto, a surreal conjuntura política do Brasil (golpes geralmente levam a essas bizarrices) permite que um período comprovadamente fracassado – como o de FHC na Petrobrás – faça um “novo” plano para a empresa, utilizando, inclusive, o mérito como um dos pilares desafiadores.
Ademais, o Estadão usa a sujeira da criminalização da política (que criou heróis bisonhos como Dallagnol e Janaína Paschoal que usam Deus para justificar atos de Estado num país laico) para tentar justificar o injustificável: colocar a culpa de uma das maiores crises do setor petróleo da história, que endivida todas petroleiras pelo mundo, na conta de um ou outro sindicalista que virou gestor, ignorando que os empregados de carreira como Costa, Cerveró, Barusco, Duque e Zelada, que estão presos, foram inimigos históricos dos sindicatos petroleiros.
Impressiona, ainda, o ódio que o editorial/opinião do jornal paulista tem da política de valorização dos funcionários e funcionárias da Petrobrás aplicada no governo Lula e Dilma [que deveria ser maior, diga-se de passagem, mas a elite nacional não consegue aceitar nem o avanço mínimo dos trabalhadores].
Os fatos são difíceis de se ignorar: a recuperação salarial perdida pelos sucessivos arrochos dos governos liberais; o investimento em capacitação e tecnologia que levaram aos expressivos resultados e recordes batidos em exploração, produção, perfuração e refino; a política de incentivos às empregadas e empregados para ter os melhores profissionais do país e ser a empresa do sonho dos jovens brasileiros; e, claro, a descoberta do Pré-sal, que chama a atenção do mundo inteiro nesse momento.
Fica difícil, nesse sentido, com todas os números dos últimos anos (que se resumem na subida da participação da Petrobrás no PIB nacional de 3% para 13%) ver a explosão da P-36; os vazamentos na Bahia de Guanabara e rios Barigui e Iguaçu; a PetroBrax; a destruição da indústria naval; a privataria tucana e a falta de infraestrutura energética que levaram ao apagão voltarem como um museu de grande novidades, gerido pela mídia mais reacionária e concentrada do planeta.
Sem contar, claro, nas suspeitas sobre essa uma possível “venda casada” entre o editorial do Estadão e as mudanças anunciadas por Parente (ocasionalmente acontecendo no mesmo dia), possibilidade que já foi verificada em outras ocasiões, como o vazamento da venda da NTS para o Valor, ex-jornal da atual assessora do Pedro, Leandra Peres [Levantar suspeitas, repito, afinal eu tenho certa convicção que essas coincidências são praticamente impossíveis de acontecer, mas não tenho provas para afirmar e, ao contrário da atmosfera insana que toma conta do país, procuro ter responsabilidade nas inferências que faço].
Pelo menos a internet me deixa a possibilidade de, carinhosamente, avisar ao Jornal O Estado de São Paulo que, se continuar essa política de desmantelamento da Petrobrás, a farsa vai se mostrar tragédia logo, logo e, dessa vez, serei um dos primeiros a apontar que o papel obsceno da mídia tem total peso nesse processo.
Afinal, espero não ler mais atrocidades como como da Folha de São Paulo que chamou o afundamento da P-36, e os vazamentos de óleo do ano 2000, de “Inferno Astral” do francês Reichstul, escondendo, vergonhosamente, o papel que a privatização tem na busca do lucro irresponsável.
*Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense