(Gilmar Mendes. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, afirmou ontem, em depoimento ao TSE, que a empresa pagou R$ 1 milhão em propina à chapa Dilma/Temer na eleição de 2014. O depoimento foi prestado no curso das ações que pedem a cassação da chapa vitoriosa nas eleições, propostas pelo PSDB.
Quanto ao conteúdo do depoimento, mais do mesmo.
É a tentativa de criminalizar apenas as doações à campanha de Dilma, que não resiste a uma simples análise lógica.
Perguntado sobre a diferença entre a doação à campanha de Dilma e à de Aécio ontem, Otávio disse que ‘no caso de Aécio não houve pedido em troca de contrapartida’.
As doações feitas ao PT foram propina mas as feitas ao PSDB foram de coração, ideológicas. Risível.
O valor doado pela Andrade Gutierrez ao diretório do PSDB foi, inclusive, maior que o valor doado diretamente a campanha da Dilma.
O interessante aqui é analisarmos a postura de Gilmar Mendes, o atual presidente do TSE, com relação às ações que podem cassar a chapa Dilma/Temer.
Em janeiro, quando o impeachment de Dilma estava ainda sendo articulado, Mendes afirmou que o TSE provavelmente julgaria as ações de impugnação da chapa ainda no primeiro semestre deste ano.
A cassação da chapa via TSE era um dos caminhos possíveis para derrubar Dilma, já que o sucesso do golpe via parlamento era incerto. Por isso a pressa de Mendes para julgar as contas da campanha.
Agora que o golpe já foi consumado, Mendes afirma que ‘está ficando cada vez mais difícil’ julgar as ações até o fim de 2016.
Além de não haver mais a urgência da derrubada do governo petista, essa procrastinação do julgamento das contas da chapa Dilma/Temer serve muito bem aos interesses do PSDB.
Gilmar Mendes, indicado por FHC para o STF, é notoriamente o grande militante tucano no judiciário – no dia último dia 13, aliás, foram protocolados dois pedidos de impeachment de Gilmar justamente por seu partidarismo -.
Após a queda de Dilma, a cassação da chapa vitoriosa nas eleições ainda em 2016 não é mais um bom negócio para o PSDB, porque neste caso seriam convocadas eleições diretas para presidente.
Talvez para Aécio fosse um bom negócio, porque ele ainda tem o recall da última eleição a seu favor, apesar de ter caído vertiginosamente nas pesquisas e ser suspeito de envolvimento em diversos casos de corrupção.
Mas para os demais caciques do PSDB o melhor mesmo é deixar que o julgamento fique para o ano que vem, quando a cassação de Temer provocaria uma eleição indireta (mais uma), com o Congresso elegendo o presidente que ficaria no cargo até o fim de 2018.
As ações no TSE, das quais é Gilmar Mendes, como atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral, quem decide quando colocar em pauta, ficariam, assim, pendendo sobre a cabeça de Temer como uma ameaça permanente.
As rusgas entre os golpistas já apareceram. O PSDB e o DEM exigem de Temer uma agenda mais regressiva ainda, especialmente no campo econômico.
Ou Temer adota esta agenda integralmente (com a vantagem, para tucanos e demistas, de Temer ficar com todo o ‘crédito’ pelas maldades), ou pode sofrer o golpe dentro do golpe: ser apeado do poder pelos mesmos aos quais se aliou para derrubar sua companheira de chapa.