Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
Pelo que Eduardo Cunha, cumprindo suas promessas de dar com a língua nos dentes, andou falando em entrevista ao Estadão, Moreira Franco, além de ser a massa cinzenta de Temer, é também a sua eminência parda. E essa eminência estaria, como ele diz, associada às irregularidades nas obras bilionárias do Porto Maravilha, e de outros projetos que levaram à falência atual do Rio de Janeiro.
Se for verdade, seria possivelmente a terceira vez que Moreira ajuda a afundar o Rio de Janeiro.
Nunca poderemos agradecer suficientemente à Folha de São Paulo/UOL pela longa e detalhada matéria, obra de um jornalista muito meticuloso, que levantou a ficha corrida e as aventuras pregressas de Moreira Franco. Isso foi feito um pouco antes da adesão irrestrita do jornal ao governo Temer. Uma passagem resume o essencial:
O governo Moreira Franco enfrentou acusações repetidas de desvios e concorrências marcadas. A mais famosa delas foi a licitação para a construção do sistema Marajoara, obra de ampliação do sistema de abastecimento de água da região metropolitana do Rio.
Em 1º de março de 1989, data da entrega das propostas das construtoras que participariam da licitação, o jornalista Janio de Freitas publicou anúncio cifrado em jornal carioca antecipando as empresas que seriam vencedoras. Confirmado o resultado que antecipara já na entrega de propostas, Freitas foi autor da manchete da Folha em 9 de abril de 1989: “Outra concorrência fraudada rende US$ 1 bi a empreiteiras”.
Depois de muitas reafirmações do governo estadual sobre a correção do processo, Moreira Franco acabou por anular a licitação.
Como se vê, a longa matéria da Folha traz interessantes fatos políticos. Muita coisa esquecida foi recordada nesse trabalho precioso que o leitor, querendo informar-se da qualidade do homem que é o braço direito de Temer, não pode deixar de ler.
O título da matéria, em si mesmo, já não é bem uma recomendação, pode até gerar prevenções e desconfianças contra Moreira, que não é pintado exatamente como modelo:
‘Camaleão político’, Moreira Franco é um dos nomes mais próximos a Temer
Uma das informações interessantes, é a de que FHC, teria dito, de acordo com a versão de ACM, que não poderia dar a Moreira cargo que tivesse cofre. FHC nega veementemente que tenha dito tal coisa, mas muita gente acredita que foi a conclusão sociológica mais acertada do ex-presidente.
Agora, com a algazarra feita por Eduardo Cunha, que começa a cumprir as ameaças que, pacientemente, anotamos e comentamos com o leitor em O Cafezinho, surge um mapa novo dos eventos. A informação de que Moreira Franco é sogro de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e de que é também o cérebro de Temer, levará muita gente a ligar os pontos.
Pois, somando 2 + 2, é bem fácil concluir que Moreira, o gestor dos mega planos de privatização articulados na correria por Temer e sua equipe, quase com a velocidade de quem assalta um banco, foi também o responsável pelo desenlace relâmpago do affair Cunha que já se arrastava há tantos meses. Foi a influência de Moreira sobre seu genro, Rodrigo Maia, que fez as coisas se acelerarem. Então Cunha, por vingança, começa agora a contar tudo sobre Moreira, também conhecido, segundo a matéria da Folha, como o “Anjo Mau”.
No dia 13, anunciou-se a ‘privatarização’ que, entre saques e destruição do patrimônio público, pretende movimentar 24 bilhões em 34 projetos de infraestrutura e inúmeras privatizações, concessões e permissões. Infelizmente, isso não foi discutido porque, no dia 14, quarta-feira, a Denúncia contra Lula calou todas as bocas. Mas agora Cunha canta a pedra em entrevista ao Estadão.
Levanta muitas suspeitas sobre Moreira, o braço direito de Temer, em relação a assuntos que envolvam cofre. O leitor também não pode deixar de ler essa matéria se quiser, ele mesmo, chegar a uma conclusão sobre se é, ou não, lícito que Moreira receba cargo que tenha cofre.
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Bajonas Teixeira
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