(Foto: Ricardo Stukert)
Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
Trabalho noturno e correria para produzir “ao menos uma” denuncia criminal contra Lula, uso de velhas fontes como material novo, humilhação diante da mídia – eis a nova fase da Lava Jato. Vejamos o que significa.
Os procuradores da Lava Jato, além de estarem morrendo de ódio e exasperados de ciúmes contra Lula, estão muito ressentidos com o desprezo que a mídia tem votado à equipe. Há um forte sentimento de abandono e desprestígio, a tal ponto que já aceitam posar como mendigos de mídia, humilhando-se numa coletiva convocada por eles mesmos e usada como um pires para recolher níqueis de projeção.
[Lembrete: Caro leitor, desculpe interromper a leitura, mas é preciso. Estou inaugurando o blog Máquina Crítica como mais um front de pensamento e debate. O convido para a entrar como sócio fundador, curtindo e ajudando a divulgar a página no Facebook. Continuarei publicando em O Cafezinho, mas vou dar atenção também à nova página. Obrigado!]
Quando Lula volta ao centro da cena com o impeachment de Dilma, quando se diz (falsamente, ao que parece) que foi ele quem negociou o fatiamento que preservou os direitos políticos da ex-presidente, e, ainda, quando figura com destaque na mídia durante a posse da nova presidente do STF, os procuradores, mortificados por ciúmes, começam uma correria tresloucada para finalizar processos criminais e convocam coletiva.
Eles querem sair do ostracismo e do desprezo que os levou ao porão da mídia, depois que falharam em dar a ela o que pedia: provas substanciais para incriminar Lula. É isso que explica a correria adoidada da Lava Jato estampada, até com certa ironia, na home da Folha de São Paulo/UOL.
A insanidade é tanta que os procuradores da Lava Jato esquecem que são agentes públicos e que, por isso, não tem direito de usar recursos públicos para produzir trabalho porco e gambiarras noturnas. A manchete estampada na home do UOL é clara, tanto para expor a pressa insana que tomou conta da operação, quanto para atestar a qualidade do trabalho que se pode esperar. Seu título é de nitidez cortante:
Lava Jato busca concluir ao menos uma denuncia criminal contra Lula
Ou seja, lido pelo inverso, sem preconceitos golpistas, a manchete seria essa:
Lava Jato não conseguiu ainda concluir sequer uma denuncia criminal contra Lula
“A força-tarefa da Operação Lava Jato tem buscado concluir nos últimos dias pelo menos uma denúncia criminal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os trabalhos entraram pela noite desta terça-feira (13).”
Bem, esse trabalho corrido, noite adentro, era comum na Lubianka em Moscou e na prisão de Moabit em Berlim, ou seja, nas prisões das polícias políticas de estados totalitários. Não é o que se espera de procuradores federais num regime de estado democrático de direito.
Desde quando, aliás, a pressa foi indício de trabalho bem feito? E da pressa ensandecida, o que podemos esperar?
Um leitor sem preconceitos, se pergunta de imediato como é possível que em dois anos, de buscas contínuas, inquirição de centenas de testemunhas, oitivas, vazamentos os mais desprezíveis, utilização de centenas de técnicos, peritos, advogados, analistas, dedos duros, denunciantes, e delações premiadas, a Lava Jato ainda não tenha concluído “ao menos uma denúncia criminal contra Lula”.
É mais incrível ainda quando já há muito tempo, vem sendo dito ao público, por membros da força tarefa da Lava Jato, que “Lula não podia não saber”. A única coisa consistente que se deduz disso, dessa exposição pública permanente sem fatos sólidos para sustenta-la, é que os procuradores fizeram acusações sem provas. As provas não existiam.
E continuam não existindo. É o que diz a matéria do UOL que deixa claro que não há nada de novo no front. Observem com quem a Lava Jato diz ter obtido “novos depoimentos” – com o ex-senador cassado Delcídio do Amaral e com Pedro Corrêa, o deputado condenado a 20 anos e 7 meses de prisão que fechou generosa delação premiada com a Lava Jato. Tirar algo novo de Delcídio e de Corrêa, seria como fazer suco com bagaços de laranja. Não há mais o que espremer:
“As investigações relativas a Lula entraram na reta final no mês passado, após a colheita de novos depoimentos, como do ex-senador petista Delcídio do Amaral e do ex-deputado federal do PP Pedro Corrêa.
Para a força-tarefa, as apurações e oitivas corroboraram suspeitas de que o ex-presidente era o proprietário de fato do sítio no interior paulista – o que Lula nega.
Um laudo da Polícia Federal já apontou indícios de que Lula e sua mulher, Marisa Letícia, orientaram reformas feitas no sítio.
Parte das obras, conforme revelou a Folha, teve participação da empreiteira Odebrecht. As obras no sítio custaram ao todo R$ 1,2 milhão, de acordo com a avaliação da PF, que também identificou objetos de uso pessoal de Lula e Marisa na propriedade.”
É absurdo que os procuradores sirvam esse prato requentado pela enésima vez, com descaramento incrível, e sem a menor inovação nos métodos destinados a agitar a opinião pública.
Mas por que essa investida agora? Exatamente porque Cunha foi cassado no dia 12 e, assim, mendigando um fiapo de atenção da mídia, os procuradores tentam pegar carona na onda que se formou. Tentar aproveitar a marola para surfar no assunto que, como até pouco tempo sonhavam, seria a coroação de toda a Lava Jato.
Este sonho impossível está cada vez mais distante. No desespero, parasitando o efeito Cunha, no que parece um pouquíssimo inteligente erro de avaliação, a Lava Jato ressuscita a perseguição a Lula.
Não é estranho que, numa operação que teria a mais alta significação para o país, chegando ao topo da hierarquia da corrupção na Petrobras, procuradores atuem em ritmo de correria, varem a noite de terça-feira para, já na quarta-feira, numa coletiva de imprensa, apresentarem os frutos do que seria a culminação de todo a Lava Jato? Mesmo o trabalho porco deve ter um limite, não? Tudo isso, para dizer o mínimo, não cheira nada bem.
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