Foto: Mídia NINJA
por Marcelo Tadeu dos Santos
A polícia militar é um instituição perversa, que atua dentro dos marcos do autoritarismo que caracteriza a constituição do conservadorismo brasileiro. Ela forma seus agentes dentro de uma perspectiva de afirmação da violência como mecanismo eficiente de controle social, e sua prática cotidiana nas grandes periferias é marcada pela tirania que desrespeita o cidadão. No dia a dia, adotam um comportamento preconceituoso, afrontam direitos, desprezam a legitimidade do indivíduo e são conhecidos pelo descaso à integridade dos moradores dessas comunidades, espalhando o medo e o terror.
Nas manifestações, esses policiais têm demonstrado que o seu papel é o de agir como mecanismo de repressão e intimidação, se impondo através da lógica do medo que se ampara na violência desmensurada contra qualquer manifestante que ouse desafiar as medidas que estão sendo implementadas pelo governo ilegítimo do golpista Michel Temer. A natureza da corporação vem à tona, e nesse momento delicado, nos deparamos com uma instituição que exprime, através de seu comportamento, a natureza que determina (e legitima) a sua existência no marco da constituição histórica do Estado brasileiro.
As polícias militares atuam de acordo com a tradição autoritária de uma dada cultura política que se estruturou em torno de uma sequência de golpes e da repressão permanente aos movimentos sociais. Sua obrigação, em última instância, é garantir uma política de segurança que atende as demandas de uma elite política, econômica e cultural que faz do privilégio o fundamento da sua existência social. O aparato repressivo que se corporifica no alicerce das forças de segurança (especialmente as polícias militares) não atua de forma despreparada, como afirmam alguns dos críticos da repressão que vem tomando conta, de forma dramática, das manifestações de resistência ao golpe. O apelo (e apego) a violência é consequência da própria estrutura determinante da corporação, que surgiu para assumir o papel de uma instituição que entende o seu papel como responsável por impor lógicas de silenciamento daqueles que foram historicamente marginalizados e que ensaiam movimentos de rebeldia que não devem ser tolerados. É bom não se esquecer que nas periferias dos grandes centros urbanos as polícias (especialmente a polícia militar) sempre demonstraram um desprezo enorme pelos marginalizados, e sua forma de garantir “a ordem” está ancorado num conjunto de ações extremamente violentas, demonstrando um desprezo aos valores que determinam o funcionamento de qualquer sociedade minimamente democrática.
Esperar que a polícia militar seja uma polícia cidadã, que respeite os direitos humanos e esteja disposta a garantir o diálogo e a integridade dos cidadãos é parte de um discurso ingênuo que desconsidera o caráter excludente da nossa formação social, ou, então, faz parte de uma narrativa cínica, bem aos moldes do nosso liberal conservadorismo, que pretende acobertar a natureza autoritária e conservadora do Estado brasileiro com uma narrativa comprometida com a desqualificação das políticas de inclusão que valorizam o protagonismo dos excluídos.