Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
A Veja desta semana saiu com uma denúncia grave contra o governo golpista na capa.
Fábio Medina Osório foi demitido do cargo de advogado-geral da União na sexta-feira.
Logo na sequência a Veja deu capa para a demissão e publicou uma entrevista com Medina
Na entrevista, Medina afirma com todas as letras que a sua demissão aconteceu porque o governo quer abafar a Lava Jato.
Faz denúncias graves contra Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil: este teria orientado Grace Mendonça, servidora da AGU que assumiu o comando da instituição após a demissão, a protelar a entrega de informações sobre a Lava Jato solicitadas por Medina ao STF.
Medina disse à reportagem de O Globo: ‘Recebi orientações do ministro Padilha para não atuar nessa questão da Lava-Jato. Para ficar de fora dessas questões’.
Segundo o Estadão, um interlocutor de Temer disse que ‘Ele vai vender a versão de que é injustiçado, mas isso não é verdade. Ele cometeu uma série de erros, está saindo pelo conjunto da obra’.
‘Conjunto da obra’ pelo visto é a expressão do momento para quem não acha outro jeito de justificar suas ações: não havendo crime de responsabilidade cometido por Dilma, requisito para o impeachment segundo a Constituição, a expressão cretina também foi usada por congressistas para justificar o golpe.
Dois questionamentos surgem dessa reportagem da Veja.
O primeiro é: qual será a postura de Rodrigo Janot, dos procuradores que atuam na Lava Jato e do STF diante dessas denúncias?
Lula e Dilma estão sendo acusados de obstruir a Justiça pelo MPF com base em uma teoria estapafúrdia: Lula, o líder político brasileiro mais popular desde Getúlio Vargas, teria sido nomeado por Dilma para a Casa Civil para ‘fugir de Sérgio Moro’.
O ‘republicanismo’ suicida dos governos petistas não adiantou de nada: a inação de José Eduardo Cardozo, quando no Ministério da Justiça, diante das ilegalidades da Lava Jato resultou no impeachment e não evitou que o MPF acusasse Lula e Dilma de ‘obstruir a Justiça’.
Já as denúncias de Fábio Medina apontam ações concretas do governo Temer para evitar que a AGU colaborasse com a Lava Jato.
Somadas aos áudios de Romero Jucá afirmando que só a queda de Dilma poderia ‘estancar a sangria da Lava Jato’, temos um governo golpista que, ao contrário do eleito pelas urnas, dá mostras cabais de que quer parar a Lava Jato, não por conta das suas inúmeras e graves ilegalidades, mas para que esta não incomode os aliados enrolados.
Janot pediu a prisão de Jucá, Sarney, Renan e Cunha ao STF depois da divulgação destes áudios. Vejamos como se porta agora que as denúncias atingem o ministro mais poderoso do governo eternamente interino, Eliseu Padilha.
O segundo questionamento é: por que a Veja deu capa para uma denúncia dessa gravidade contra o governo que ajudou a alçar ao poder?
Sendo o panfleto político de extrema direita que é, nada sai na Veja sem que haja um objetivo político por trás.
A revista dos Civita atinge dois objetivos com a capa desta semana.
Um é agradar os seus aliados da Lava Jato, ao pressionar o governo a parar de tentar interferir na operação. Assim, a parceria absurdamente antiética entre setores da Justiça e da imprensa continua firme e forte, e a Veja garante a sua ração de vazamentos ilegais por mais um tempo.
Outro é fortalecer o aliado orgânico da mídia conservadora, o PSDB.
Muito embora o PSDB integre o governo golpista, as acusações de interferência na Lava Jato sobram todas para as figuras proeminentes do PMDB, que fica enfraquecido. A ideia parece ser também facilitar o caminho para um candidato tucano em 2018.
Mas a missão de eleger um tucano novamente para comandar o país não é das mais fáceis. Nem ‘Serra meigo’ ou ‘Aécio super-homem’ na capa da revista conseguiram fazer com que o povo esquecesse como são os governos do PSDB: desemprego alto, salário mínimo baixo, investimento público ridículo e venda do patrimônio do país.