O ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, disse em entrevista à Folha que cometeu “dois grandes erros” durante seu mandato: romper com o governo Dilma Rousseff e atacar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, autor das denúncias contra ele, aceitas pelo STF, que resultaram no seu pedido de afastamento.
“O confronto exagerado que estabeleci [com Rodrigo Janot] acabou chamando uma reação corporativa do Ministério Público. E, talvez, eu devesse ter ignorado o governo, não ter partido para o rompimento. Estava convencido que havia articulações para me constranger. O problema é que eu poderia ter continuado com a minha certeza e não ter reagido como reagi”, declarou o peemedebista.
Segundo Cunha, sua eventual cassação vai fortalecer o discurso de que Dilma foi vítima de um ‘golpe parlamentar’ e impulsionar o PT nas eleições de 2018.
Na entrevista, Cunha ainda pede aos colegas parlamentares que seu destino seja decidido pelo Supremo Tribunal Federal e lembra que cerca de 160 deputados — como revelou o Congresso em Foco — são alvos de investigações na mais alta corte do país.
“Falam que fiz ameaça quando disse que mais de 160 parlamentares estão sob investigação, com inquérito, processo. Se eles forem julgados pelo texto da acusação, não vai sobrar ninguém.”, disse.
Abaixo reportagem do portal Congresso em Foco.
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Romper com Dilma foi um grande erro, diz Cunha
Em entrevista à Folha, deputado afastado diz que cometeu dois “grandes erros”: além de romper com a petista, partir para o confronto com Janot. Peemedebista critica Temer e afirma que sua eventual cassação fortalece o discurso do golpe
Na última entrevista concedida antes do julgamento de seu processo de cassação, prevista para esta segunda-feira (12), o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) diz que cometeu “dois grandes erros”: romper com o governo Dilma e atacar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, autor das denúncias contra ele aceitas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e de seu pedido de afastamento do mandato.
“O confronto exagerado que estabeleci [com Rodrigo Janot] acabou chamando uma reação corporativa do Ministério Público. E, talvez, eu devesse ter ignorado o governo, não ter partido para o rompimento. Estava convencido que havia articulações para me constranger. O problema é que eu poderia ter continuado com a minha certeza e não ter reagido como reagi”, declarou o peemedebista em entrevista à repórter Daniela Lima, da Folha de S.Paulo. Segundo ele, sua eventual cassação vai fortalecer o discurso encabeçado por petistas de que Dilma foi vítima de um golpe e “turbinar” o PT na disputa eleitoral de 2018.
Na entrevista, Cunha pede aos colegas que seu destino seja decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e lembra que cerca de 160 deputados, como revelou o Congresso em Foco, são alvos de investigações na mais alta corte do país. “Falam que fiz ameaça quando disse que mais de 160 parlamentares estão sob investigação, com inquérito, processo. Se eles forem julgados pelo texto da acusação, não vai sobrar ninguém.” Para ele, os deputados precisam “julgar sabendo que amanhã serão julgados”.
O ex-presidente da Câmara afirma que é um “absurdo” ter o mandato cassado sob a acusação de mentir. “Ser cassado sob acusação de mentir? Como se todo mundo só falasse a verdade? Se menti ou não menti, será resolvido quando o Supremo decidir [o caso]. Se for condenado, terei mentido. Se não for, não terei”, disse.
Cunha também faz análise pessimista do presidente interino, Michel Temer (PMDB). Para o peemedebista, Temer virou “refém” do PSDB e do DEM e poderá ser arrastado pela mesma crise de representatividade que encerrou precocemente o segundo mandato de Dilma. O deputado afastado conta, ainda, que vai escrever um livro sobre o impeachment. “Não espero perder o mandato mas, se acontecer, o livro vai sair mais rápido. Vou ter mais tempo.”
O deputado afastado afirma, ainda, não se preocupar com sua eventual morte política pouco mais de um ano e meio após assumir a presidência da Câmara. “Quem lida bem com política sabe que, já dizia Murilo Badaró, ela é a única atividade que você pode morrer e ressuscitar várias vezes. Já vi muita gente morrer e ressuscitar. Isso não me preocupa. Já vivi muitas coisas, já vi muita coisa acontecer. É como uma gangorra. Isso não me preocupa.”
Julgamento
Aliados de Cunha tentam esvaziar a sessão e empurrar o julgamento para depois das eleições. Outra estratégia, caso a primeira falhe, é tentar trocar a cassação por uma pena mais branda: a suspensão do mandato. Mas, ao todo, 336 deputados já confirmaram ao Congresso em Focoque estarão presentes à sessão que julgará o deputado peemedebista, réu da Operação Lava Jato em duas ações penais e acusado de quebra de decoro parlamentar. Dois parlamentares afirmaram que não poderão estar presentes por razões de saúde: Francisco Francischini (SD-PR), que acompanha o filho em um tratamento médico, e Toninho Wandscheer (Pros-PR), que se licenciou por motivo de saúde.
São necessários 257 votos (metade mais um) para cassar o parlamentar. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), só pretende colocar o parecer do Conselho de Ética em votação se estiverem em plenário pelo menos 420 deputados. Líderes de diversos partidos acreditam que esse quórum será atingido, seja pela pressão que os deputados estão recebendo nos estados para encerrar uma controvérsia que se arrasta desde o ano passado, seja em razão da ameaça – feita por Maia – de cortar os salários de quem não comparecer.
Na consulta feita pelo Congresso em Foco, os 512 parlamentares da Câmara, à exceção óbvia de Cunha, foram confrontados com a seguinte pergunta:
“Senhor(a) Deputado(a),
O Congresso em Foco pode confirmar o seu comparecimento na sessão deliberativa da Câmara dos Deputados marcada para as 12 horas do próximo dia 12 de setembro, na qual será julgado o processo de cassação do deputado Eduardo Cunha?”
Em poucos segundos, o deputado responde se confirma ou não sua presença na sessão do dia 12. Todos os gabinetes serão procurados também por telefone. O leitor pode acompanhar aqui a resposta de cada parlamentar.