Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
Apavorado, como se nota na idiotia gritante da frase que grunhiu, Temer abriu as Paralimpíadas embaixo de uma estrondosa onda sonora de repúdio com as palavras: “Paralímpicos Rio 2016”. O que foi isso? Uma frase sem sujeito, sem verbo, sem corpo gramatical. Um atestado de indigência deixado à posteridade.
A matéria da Globo afirma que Temer pronunciou a seguinte frase: “Declaro abertos os Jogos Paralímpicos de 2016”. Não é verdade, como qualquer um pode ver e rever ali no link. O que ele conseguiu pronunciar foi apenas “Paralímpicos Rio 2016”. Um vexame extraordinário.
O mínimo que se poderia esperar, mesmo num caso de extrema covardia, seria algo como “Em nome do governo brasileiro parabenizo os organizadores dos jogos, dou as boas vindas aos atletas de todos os países aqui representados e declaro abertos os Jogos Paralímpicos Rio 2016”. Isso seria o mínimo, mesmo considerado um governo esmagado por enorme pressão hostil a sua existência.
Mas Temer conseguiu uma espécie de “efeito verme”, que se encolhe ao temer ser pisado, chegando a uma extrema contração mental como se revela em sua frase.
Na abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 no Maracanã, a presença de Michel Temer foi certamente a maior vergonha pública já passada por um presidente do Brasil e, não menos, o mais esmagador vexame que um presidente brasileiro já fez o Brasil oferecer ao exterior. Temer era o representante do estado brasileiro na abertura, e o responsável por declarar a abertura oficial. As vaias dirigidas a ele foram dirigidas diretamente à legitimidade do governo golpista instaurado com o impeachment aprovado no Senado.
A situação foi tão crítica que a Globo não pôde evitar, em matéria do G1 dar nomes aos bois: “Temer recebe muitas vaias e poucos aplausos na abertura da Paralimpíada”. Eis um caso interessante do ditado “Filho feio não tem pai”. A Globo, o verdadeiro dr. Frankstein pai da criatura, renega o rebento e o aponta como bastardo.
Mas quem vaiou Temer? O preço dos ingressos é um bom indicativo. Enquanto na abertura das Olimpíadas, esteve presente a classe média mais endinheirada, com ingressos já caros ficando ainda mais salgados com a atuação dos cambistas – segundo matéria do Estadão chegou-se a vender ingressos por US$ 8 mil (aproximadamente R$ 25,4 mil) – na abertura dos Jogos Paralímpicos, com ingressos a partir de R$ 100.00 reais, tudo indica que predominou o segmento de menores rendimentos salariais da classe média.
É isso que talvez explique que na abertura das Olimpíadas, em que predominou a classe média alta, as vaias tenham dividido o palco com os aplausos. Mas com o segmento da base da pirâmide da classe média, os mais pobres, o giro foi total, e as vaias ensurdecedoras estamparam em Temer, em seu rosto e na sua frase desestruturada, a marca muito visível da covardia.
Depois de ironizar os 40 que quebravam carros, depois que o seu ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, no mesmo dia 07, ontem, durante o desfile da Independência, ironizou as vaias da manhã dizendo que eram só “18 pessoas em 18 mil. A dimensão está boa”, chegamos à noite com um Maracanã lotado, talvez com mais de 70 mil pessoas, em vaia uníssona.
É possível que esse público indignado seja formado, em bom número, por aquela parte da população que ascendeu durante os governos de Lula, tendo acesso pela primeira vez aos bens modernos da sociedade de consumo. E, certamente, uma parcela expressiva desse público é de cidadãos da classe média baixa que repudiam as medidas econômicas de Temer, seu golpe na Previdência e nas aposentadorias, e sua associação íntima com a corrupção.
As vaias expressaram um repúdio muito convicto a Temer e tudo que ele representa. O que pode vir agora?
As vaias deixaram claro que a repulsa ao governo Temer é muito ampla e que uma outra aliança, oposta a das elites que o levaram ao poder, está se formando para derrubá-lo. Não será surpresa nenhuma se, a partir de agora, novos contingentes inundarem as ruas em manifestações de massa contra o governo usurpador. A trombeta do apocalipse parece que soou ontem para o governo Temer.