A posição do Podemos diante da consumação do golpe no Brasil
1 de agosto de 2016
No site do Podemos
Tradução: Miguel do Rosário.
Hoje, após muitos meses de incertezas e tramoias legislativas, o Senado brasileiro votou pelo impeachment da presidente da república do Brasil, Dilma Rousseff.
Nosso compromisso com a democracia se manteve, se mantém e se manterá sempre firme, e temos claro que há uma máxima que dá pouca margem para interpretação: na democracia, os mandatos se conquistam e se substituem nas urnas.
No dia de hoje, uma instituição em que cerca de 60% de seus membros sofrem processos por corrupção, destituiu uma presidente da república, eleita democratica e legitimamente há somente dois anos por 54 milhões de brasileiros e brasileiras.
A engenharia legislativa e as peripécias parlamentares vergaram a vontade democrática do povo brasileiro e é responsabilidade da comunidade internacional não reconhecer um governo que preferiu chegar ao poder por esta via ilegítima, em lugar de esperar uma nova celebração eleitoral.
Resulta paradigmático que seja precisamente o governo ilegítimo e interino de Michel Temer o que já sacrificou três de seus ministros (sendo a última baixa, a de Henrique Eduardo Alves, envolvido no mesmo esquema de corrupção da Petrobrás que afeta tanto o próprio Temer como o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha).
Já declaramos em abril, quando se oficializou a infâmia do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, e o manteremos sempre. É imprescindível que se respeite a vontade do povo brasileiro ou que se substitua esse mandato pela única via democraticamente aceitável: vencer nas urnas.
Nós, do Podemos, exortamos o governo da Espanha a não reconhecer o governo brasileiro, por chegar ao poder de maneira ilegítima, como consequência da destituição da presidenta Dilma (observação do tradutor: o Podemos usa a palavra “presidenta”, com a).
Exortamos ao nosso governo a que não esqueça o compromisso com a democracia que deve ser o princípio fundamental da nossa política exterior. Por isso mesmo, reiteramos nossa petição que já fizemos em maio a Alta Representante, Federica Mogherini, pela qual solicitamos que a União Europeia mantenha o Brasil distante das negociações comerciais com o Mercosul.
Não podemos permitir que as tentativas de restauração conservadora na América Latina, que buscam pôr fim a uma longa década de redução das desigualdades, inclusão cidadã dos setores marginalizados e avanço da integração regional e soberania, ponham em xeque a democracia em nosso continente irmão.