Por Bajonas Teixeira, colunista de politica do Cafezinho
Como dissemos no artigo que publicamos hoje mais cedo, A Ditadura do Micheleco, o governo que acaba de tomar o poder com a cumplicidade das elites, não pode existir sem violar a democracia. E não pode violentar a democracia sem martirizar os que se oponham a isso nas ruas.
Déborah Fabri, de 19 anos, perdeu a visão de um olho, mas não perdeu a coragem. Nem se deprimiu ou mostrou sinais de ter sido intimidada pela covardia do sub-encarregado de polícia que, ao sair, Alexandre de Moraes deixou em São Paulo como seu braço direito. Déborah postou agradecendo aos que se preocupam com ela:
“Oi pessoal estou saindo do hospital agora. Sofri uma lesão e perdi a visão do olho esquerdo mas estou bem. Obrigada pelas mensagens e apoio logo respondo todos!!!”.
A estudante tornou-se a primeira vítima, gravemente ferida, apenas alguns horas após confirmada a usurpação do cargo de presidente da república por Michel Temer. Ela foi a primeira vítima depois do placar de ontem, mas não será a única.
Por que eles atiram nos olhos?
Como testemunhou a jornalista Giuliana Vallone, que foi alvejada também num olho pela repressão em São Paulo, em junho de 2013, o tiro no olho nem aconteceu casualmente nem foi obra do acaso. Foi proposital e calculado. Por quê?
Os olhos são o lugar do testemunho. Os olhos veem, registram, e permitem contar uma história. No caso, essa história é a da truculência e da perversidade que, para ser completamente truculenta e perversa, deve permanecer na obscuridade, oculta aos olhos da opinião pública.
Cada rua, para essa repressão, deve se transformar numa masmorra instalada abaixo da linha de visibilidade, num porão, numa câmara de tortura.
O ideal, é que todas as ruas, os lugares de visibilidade e da formação da vontade política nos momentos de crise, sejam convertidos em Casas da Morte, como a sinistra Casa da Morte de Petrópolis montada pela Ditadura Militar.
Agora, na nova ditadura, a Ditadura do Micheleco, numa época em que cada um sai às ruas portando, além dos seus olhos, olhos coletivos e tecnológicos, ou seja, os olhos das câmeras frontais dos celulares, o horror à visibilidade só pode ser magnificado.
Contra a vontade da repressão, a visão perdida de Déborah Fabri, uma heroína dos novos tempos, nos ajudará a ver. Ela iluminará os instintos de carrascos, torturados e perversos, e nos mostrará quem são os bons discípulos dos torturadores Brilhante Ulstra e Sérgio Fleury.
O desejo do golpe é o de cegar o olho onipresente da opinião pública, reduzir tudo à escuridão e às trevas. Mas o bom combate da democracia, já não é de hoje, sabe se adaptar e recobrar a clarividência como um combate nas trevas.