Charge: Vitor Teixeira/ Brasil de Fato
por Átila da Rold Roesler, no Justificando
Hoje, meu amigo do futuro, segunda-feira, dia 29 de agosto de 2016, vejo que a Presidente eleita fez bem em comparecer ao Senado. Demonstrou-se heróica, está serena e tranquila. Como disse e repito, sai do cargo, talvez, para entrar para a História. Ontem me perguntava se Dilma compareceria ao Senado para demonstrar coragem e confiança. Achava que nada de bom viria disso e o que resultado seria previsível. O resultado, talvez, de fato o seja; mas vejo que Dilma fez bem.
Sua presença incomoda, mostra que estamos diante um julgamento que nada mais é do que uma farsa, o que comprova que nunca vivemos num país democrático, mas arbitrário, em constante estado de exceção, apenas com breves pausas que nos convém chamar de Democracia. A imprensa mundial já desvelou o golpe ou a farsa que é esse impeachment [1], o qual objetiva tirar um programa de governo democraticamente eleito para colocar outro completamente diverso, qual seja, o de espoliar a Nação e o pobre povo brasileiro.
Mas você já sabe, meu amigo do futuro, qual será o resultado disso. De certa forma, eu não te invejo por isso. Ainda me resta um pouco de esperança. É claro que hoje ela se resume apenas a um fio, um devaneio que se esvai a cada fala no Senado Federal. Dói ver um dos maiores juristas desse país, o professor Geraldo Prado da UFRJ, falar em defesa da Presidenta Dilma e constatar que quase ninguém está ouvindo [2]. Dá vontade de desistir do Direito ao assistir as perguntas formuladas pela “jurista” Janaína Paschoal às testemunhas de defesa sobre Venezuela, Cuba, comunismo, etc [3]. Aqui, um pesar que entristece profundamente. Fica evidente que não há crime de responsabilidade se uma das principais “juristas” da acusação invoca fatos completamente alheios ao processo de impeachment. É profundamente lamentável ver a Senadora gaúcha Ana Amélia Lemos comparar o processo de impeachment a uma reunião de condomínio [4]. Por isso, a cada minuto que essa farsa prossegue, minha esperança diminui, meu amigo, porque fica evidente que o golpe é contra o mais pobres [5].
Dilma tem coragem, e já sabemos disso. Primeiro torturada, ela resistiu. Agora, vítima de um golpe vergonhoso, permanece serena diante de ataques injustos, de impropérios vergonhosos, vítima de uma farsa que pretende fazer desaparecer 54 milhões de votos, sem ter cometido qualquer crime. Então, me pergunto: será que seus algozes teriam essa coragem? Provavelmente, não. Dilma será atacada, será posta na parede, será atacada por farsantes e golpistas que lhe farão perguntas imbecis sobre Venezuela, Cuba, crise, bolivarianismo etc. Mas provavelmente demonstrará uma coragem que inspirará toda uma geração.
Concluo essa carta, meu amigo do futuro, sem saber o que acontecerá. Para mim, basta saber que nunca foi contra a corrupção ou contra a crise – até porque esta é estrutural, visceral ao sistema econômico vigente – foi contra o voto, sempre o objetivo foi de tomar o poder e espoliar a Nação. Mas quero te dizer que se esteve ao meu lado defendendo a Democracia e a soberania do voto popular, não importa se perdemos ou ganhamos. Há derrotas que valem muito. Há vitórias que nos envergonham para sempre. Se a Presidenta eleita sair, entrará para a História. E quanto ao futuro? Só você sabe.
Átila da Rold Roesler é bacharel em Direito, pós-graduando em Sociologia e escreve no Justificando.com às segundas-feiras.***