Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Por Tadeu Porto (@tadeuporto), colunista do Cafezinho
Não consegui conter a explosão de uma lâmina d’água sobre meus olhos quando a presidenta Dilma mencionou, em seu discurso, o ataque a autoestima dos brasileiros e brasileiras que o governo usurpador quer implicar com uma pauta derrotada e injusta para aqueles que mais precisam.
Mas, a despeito das minhas lágrimas praticamente sincronizadas com a da presidenta, não foi a tristeza que me dominou durante todo o discurso dela, muito pelo contrário, foi um sentimento de inspiração e, sobretudo, de esperança acerca da difícil luta que iremos travar com a fina-flor do conservadorismo nacional.
A inspiração que encontrei está, justamente, na firmeza e na força das palavras da presidenta eleita, principalmente no que tange ao endurecimento – sem perder a ternura ou a razão – com que ela desenhou, para todo o país, que está sofrendo um golpe de Estado. Ademais, há de se destacar que Dilma apontou o dedo de maneira muito clara para os principais inimigos do povo e da democracia: a elite política e econômica, o parlamento capitaneado por um chantageador e a mídia hegemônica que bancou a atmosfera pessimista que culminou na tentativa de golpe.
Portando, ao indicar os antagonistas históricos que tentam destruir, não só a democracia mas também o pouco que avançamos nas política sociais, Dilma praticamente chamou a luta todos brasileiros e brasileiras que não compactuam com uma agenda aristocrata de retirada de direitos básicos (como a CLT e a previdência), liberdade de expressão popular e recursos essenciais para o avanço do combate a desigualdade social.
As palavras de Rousseff foram, nesse sentido, combustível importante e necessário para alimentar a chama da resistência (e quiçá da revolução, não custa nada sonhar) que será primordial na longa batalha que travaremos contra a plutocracia nacional por uma justa divisão de bens e riquezas no país.
Além disso, não posso deixar aqui de destacar a importância desse discurso histórico ter saído dos lábios – e do coração – de uma mulher, a primeira chefe de executivo da história do Brasil.
Sei que é complicado um homem escrever sobre a luta das mulheres, afinal nasci do lado opressor e ainda vivo dessa maneira mesmo tentando melhorar a cada dia, mas não posso deixar passar o simbolismo que representa a superação de Dilma vir, justamente, no mês que expressa tragédias históricas nacionais.
Vejam bem: tanto o suicídio de Getúlio quanto a renúncia de Jânio e a morte de JK, que marcaram para sempre a má fama do mês oito no Brasil, possuem uma característica comum: foram protagonizadas por homens. Portanto, é fascinante – e eu diria até poético – que agosto renasça como o mês da esperança graças ao forte e emocionante discurso de uma mulher sendo injustamente atacada por um golpe misógino, que fez culminar um executivo de traidores exclusivamente masculino.
E olha, só tenho a agradecer a Dilminha pela marca histórica alcançada, por pelo menos dois motivos: primeiro por que eu nasci em agosto e nunca gostei da fama azarada que o mês tem, pois apesar de ser agnóstico sou estranhamente supersticioso (a ponto de ter crescido com raiva do desenho “Ursinhos Carinhosos” pois o leão, meu signo, era muito covarde) e em segundo pois 2016 é o ano no qual nasceu minha filha e vou poder mostrar a ela, minha primogênita, tanto o discurso da presidenta quanto meu texto, evidenciando que papai sempre estava do lado certo da história: que lutou pela democracia e contra a elite golpista e conservadora que não aceitou perder a quarta eleição seguida.
A farsa do impeachment está chegando ao fim e o tempo sombrio para todos cidadãos e cidadãs brasileiras não acontecerá sem luta e resistência. Sendo assim, esse golpe pode até sair, mas a partir do primeiro dia vamos vender cara essa traição, insipirados nas belas palavras da presidenta.
Portanto, parabéns Dilma! Afinal, no discurso e nas respostas, na postura e na honestidade, na coragem e na temperança você lacrou, querida!
E pode ter certeza que não terá sido em vão.
Tadeu Porto é pai da Valentina e Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense