(Foto: GERARDO LAZZARI/RBA)
Padura, sobre o golpe no Brasil:
“(…) o que tem ocorrido e está ocorrendo no Brasil é doloroso, revoltante, assombroso e, ao mesmo tempo, instrutivo. Mas acredito que deve ser instrutivo sobretudo para os brasileiros. Porque se a gestão dos anos de governo do PT terminam por levar a resultados políticos e sociais em que se constata a existência de um país dividido, com um percentual notável de seus cidadãos esgrimindo posturas críticas contra o governo que mais fez e que melhor trabalhou para as grandes massas do país, a principal lição que devemos reaprender não é que os poderosos exerçam o seu poder e que a sua vingança política seja uma arma sempre à espreita. Isso sabemos todos, e todos assumimos como realidade. O que mais nos ensina, apesar de sua presença constante, é comprovar que a ingratidão humana pode ser infinita.”
Esse trecho faz parte de um artigo inédito de Leonardo Padura, destinado a uma coletânea organizada por cinco mulheres (Carol Proner, Gisele Cittadino, Juliana Neuenschwander, Katarina Peixoto, Marilia Carvalho Guimarães), intitulada Resistência Internacional ao Golpe de 2016, e antecipado aqui com exclusividade pelo Cafezinho.
Padura tornou-se famoso no Brasil pelo sucesso aqui de seu romance “O homem que amava os cachorros”, uma denúncia corajosa e pungente dos vícios autoritários do socialismo.
Sim, a Cuba de hoje tenta se modernizar estimulando a autocrítica: o livro de Padura ganhou o principal prêmio literário do país.
Padura, um crítico radical dos aspectos autoritários do socialismo, vive e trabalha em Cuba, país que ama e onde escreve com toda liberdade. Assim como a blogueira Yoani Sanchez, diga-se de passagem, cujos “prêmios literários” são dados pela extrema-direita americana.
“O homem que amava os cachorros” projetou Padura como um dos maiores romancistas do mundo, tornando-o candidato fortíssimo a um próximo prêmio Nobel de literatura.
Padura tem sido fã confesso dos avanços sociais obtidos pelos governos petistas, que combinam políticas públicas redistributivas, aumento da transparência dos gastos públicos, e aprofundamento do processo democrático.
Em suas visitas ao Brasil, Padura fez questão de visitar o Instituto Lula e posar ao lado do ex-presidente e da atual presidenta constitucional Dilma Rousseff.
Em entrevista ao Roda Vida, soube escapar com inteligência às tentativas dos entrevistadores (jornalistas reacionários da grande mídia) de fazê-lo criticar o regime político cubano: perguntado se havia muita pobreza em seu país, ele disse que havia visto mais pobres no caminho até o estúdio da TV Cultura do que em toda Cuba.
Eu publico abaixo uma tradução do artigo, feita por mim mesmo.
***
Uma nota de dor pelo Brasil
Por Leonardo Padura, especial para o livro (ainda inédito) “A resistência internacional ao golpe”
Tradução: Miguel do Rosário.
Um turista europeu vem à Cuba e, após uma semana na ilha, volta a seu país e diz a um amigo: “estive em Havana e em Santiago de Cuba; bebi rum, mojitos, daiquiris até não poder mais; passei pela via Malecón num automóvel americano de 1948; tirei uma foto diante da imagem de Che na Praça da Revolução; dancei uma conga em Santiago e… fiz amor com uma mulata cubana!… Já sei tudo de Cuba”.
Os cubanos temos uma grande experiência neste tipo de conhecimentos do país… e de outros juízos parecidos. Porque se o juízo do hipotético e típico turista europeu resulta superficial e inocente, o que mais nos incomoda, por suas consequências, é o de analistas que sentam cátedra por seu conhecimento da ilha desde seus pedestais estrangeiros e, mais ainda, se atrevem a ensinar aos cubanos que residem em Cuba como devemos viver, nos comportar, pensar. Inclusive, o que podemos dizer e como devemos escrever sobre nossa sociedade… E essas anatomias de uma realidade tão peculiar, e como é lógico em se tratando de Cuba, podem vir desde posições de esquerda ou desde posturas de direita… mas sempre oriundas de um sentimento comum de prepotência.
Talvez como reação alérgica a essas manifestações de intrusismo, que eu sofro como cubano, em geral não emito opiniões sobre as realidades dos países onde eu não vivo, trabalho, penso. Creio firmemente que para ter uma ideia de uma sociedade determinada e atrever-se a expressá-la publicamente é preciso ser parte dela, não como observador e sim como participante. Mais ainda, como sofrente.
É por essa razão que durante dias, semanas, contive minha indignação e minha dor e não ousei expressar, em qualquer das tribunas jornalísticas que me são oferecidas, minhas impressões sobre os recentes acontecimentos no Brasil. E quando digo impressões, eu o faço com toda consciência da minha capacidade e o alcance do meu conhecimento, que apenas me permite mover-me nesse plano subjetivo.
Mas não haver expressado essas impressões não aliviou minha dor nem acalmou minha indignação. Porque se algo me provoca todo esse processo político que se desdobra no Brasil nos últimos meses, culminando com a abertura de um juízo político da presidenta constitucional Dilma Rousseff, é exatamente dor e indignação: na alma ou na consciência, onde quer que esteja o centro das convicções, dos afetos, das afinidades e até das fobias de um ser pensante.
Desde meu balcão cubano, tenho acompanhado com assombro como se formou a cadeia de acontecimentos que chegaram ao ponto onde chegaram: remover do poder a um presidente eleito pela maioria de seus cidadãos. Como se se tratasse de um velho filme de faroeste, ou de uma novela brasileira, eu assisti ao desenvolvimento do drama com a esperança de que, ao final, se fizesse a justiça. Todavia, com dor e ainda mais assombro, comprovei que as tramas da realidade podem ser mais complicadas que a de qualquer ficção e que na política dos grandes poderes, visíveis ou invisíveis, sabem operar com maestria. E que poucas coisas são tão fáceis de se realizar como a manipulação da verdade e, com ela, das mentes.
Independente das minhas afinidades sociais e afetivas, que certamente pesam na conformação das minhas impressões, o que tem ocorrido e está ocorrendo no Brasil é doloroso, revoltante, assombroso e, ao mesmo tempo, instrutivo. Mas acredito que deve ser instrutivo sobretudo para os brasileiros. Porque se a gestão dos anos de governo do PT terminam por levar a resultados políticos e sociais em que se constata a existência de um país dividido, com um percentual notável de seus cidadãos esgrimindo posturas críticas contra o governo que mais fez e que melhor trabalhou para as grandes massas do país, a principal lição que devemos reaprender não é que os poderosos exerçam o seu poder e que a sua vingança política seja uma arma sempre à disposição. Isso sabemos todos, e todos assumimos como realidade. O que mais nos ensina, apesar de sua presença constante, é comprovar que a ingratidão humana pode ser infinita.
Enquanto o processo contra a presidenta constitucional Dilma Rousseff avança em seus labirintos, o que mais me interessa saber, como o espectador interessado que sou, é se realmente a mandatária cometeu os pecados que se lhe atribuem. Como muitas pessoas no mundo, espero que ela não os tenha cometido, pelo bem do Brasil e da verdade. Mas também espero que, pelo bem do Brasil e da verdade, cada um dos culpados por corrupção, manobras políticas ilegais, manipuladores da verdade, se é que existem – e creio que existem – sejam julgados com o mesmo rigor que se impôs a Dilma Rousseff, e tudo que ela representa e que, se é possível, paguem o preço pelo que fizeram. Para o bem do Brasil e da verdade, que são duas realidades acima das convicções políticas e, com certeza, das minhas simpatias e afinidades.
Se algo assim acontecer, eu sentirei como se alivia a dor que hoje sinto pelo Brasil. E terei alguma esperança de que, no campo da realidade concreta, a Justiça não seja apenas o nome de um Ministério, mas um escudo para a verdade e uma medicina eficaz para as dores de consciência.
Kin Rocha
28/08/2016 - 20h16
Excelentes artigos. Parabéns.
é uma pena nosso povo ser desmemoriado, cego e surdo quando querem.
Messias Franca de Macedo
28/08/2016 - 19h13
#Barcelona: “Não ao golpe no Brasil”, gritavam os manifestantes em protesto, deixando mensagens impressas em papeis, por bancos da Av. Gaudi.
‘fOOOOOra Temer’
https://www.facebook.com/midiaNINJA/videos/vb.164188247072662/708522142639267/?type=2&theater
Messias Franca de Macedo
28/08/2016 - 18h26
… Ainda sobre servidores públicos fascigolpistas
Por que Diabos o ministro Ricardo Lewandovski não utiliza o poder de polícia do qual está investido para mandar prender os dois conspiradores réus confessos que seguem?…
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O JULGAMENTO DE DILMA: A CONSPIRAÇÃO DO GOLPE
No sétimo capítulo do livro sobre o julgamento de Dilma Rousseff, o escritor e jornalista Raimundo Rodrigues Pereira demonstra como o procurador Júlio Marcelo de Oliveira, desmascarado e reduzido de testemunha a informante, e o auditor Antônio D’Ávila, que confessou ter auditado o parecer que ele próprio preparou, participaram da conspiração golpista; ele lembra ainda que o ministro Ricardo Lewandowski “rebaixou a qualificação do depoimento de Júlio Marcelo e, dada a gravidade dos fatos confessados por D´Ávila, deixou aberta para a defesa a possibilidade, inclusive, de anular o seu testemunho”
28 DE AGOSTO DE 2016 ÀS 16:07
(…)
FONTE [LÍMPIDA!]: http://www.brasil247.com/pt/247/poder/252140/O-julgamento-de-Dilma-a-conspira%C3%A7%C3%A3o-do-golpe.htm
Messias Franca de Macedo
28/08/2016 - 18h26
Cada um ocupando uma solitária em penitenciária de segurança máxima – para que nenhum outro servidor público nunca mais ouse a violentar a democracia
http://www.brasil247.com/images/cache/1000×357/crop_0_114_1200_542/images%7Ccms-image-000514171.jpg
Sara
28/08/2016 - 13h36
Bando de alienados sem cérebro que cospem no prato que comeram, mas como diz o ditado
“O peixe morre pela boca”
Dilson Magno
28/08/2016 - 13h29
Quantos golpes ainda hão de vir antes que nossa população acorde a tempo para nunca mais ser manipulada…1889 De Goiás, o Capitão Felicíssimo do Espírito Santo Cardoso, bisavô de FHC, escreve um telegrama ao filho no Rio, caçoando da república recém-proclamada: “Vocês fizeram a república que não serviu para nada. Aqui agora, como antes, continuam mandando os Caiado”. (Cagados)…
http://veja.abril.com.br/blog/meus-livros/entrevista/avo-de-fhc-propos-fuzilar-a-familia-real-conta-laurentino-gomes/
FILHO DE JANGO COMPARA 2016 COM 64: “A HISTÓRIA É IMPLACÁVEL”
Ele lembra episódios como o aumento de 100% dado ao salário mínimo em 1954, quando Goulart era ministro do Trabalho de Getúlio Vargas e acabou perdendo o cargo. Foi o período do chamado Manifesto dos Coronéis, que reclamavam, entre outras coisas, do reajuste do mínimo. Destaca ainda a criação do 13º salário, em 1962, já no governo Jango.
Livro recente prova que Tiradentes não morreu na forca, por Sebastião Nunes
http://jornalggn.com.br/blog/sebastiao-nunes/livro-recente-prova-que-tiradentes-nao-morreu-na-forca-por-sebastiao-nunes
O historiador maranhense Austregésilo Cerqueira Nunes acaba de publicar colossal estudo (“O enforcado que deu no pé”, edição do autor, 666 páginas), com o objetivo de provar que o protomártir da independência brasileira não morreu enforcado. Muitos estudiosos vêm há anos debulhando o mesmo assunto, mergulhados nas densas brumas que cercam o mais famoso episódio de nossa história. Com efeito, tornaram-se transparentes, hoje em dia, vários tópicos obscuros da malograda conspiração. Sabe-se, por exemplo, que Cláudio Manuel da Costa não se suicidou, mas foi assassinado para não delatar gente graúda (ver Silviano Santiago “Em liberdade”, segunda parte).
Entre os figurões coloniais, é certo que o governador-general, Visconde de Barbacena, estava envolvido até o pescoço na conspiração, motivo pelo qual demorou tanto para denunciar o complô ao vice-rei, seu próprio tio. O principal delator, Joaquim Silvério dos Reis era tio-avô do intrépido Duque de Caxias. Que o poeta Tomás Antônio Gonzaga foi apaixonado e noivo de Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a Marília de suas comoventes liras, consta dos livros escolares. Mas quase ninguém refere a “Marília loura”, a outra, com quem teve um filho. Por falar em filhos, o poeta Cláudio tinha seis. O próprio Tiradentes, bom violonista e razoável cantador de modinhas, enterneceu inúmeras donzelas românticas de Vila Rica e do Rio de Janeiro, tendo pelo menos uma filha, Joaquina. Tudo isto é sabido por alguns e desconhecido por quase todos. Mas a grande polêmica, que toca fundo o orgulho nacional (se é que nos resta algum, depois do vexaminoso golpe de estado que vivemos hoje), está relacionada com a monumental farsa envolvendo carrasco, magistrados, militares, testemunhas e notável hipnotizador da época, com o objetivo de esconder a verdade sobre a morte de nosso herói maior.
ROENDO A CORDA PUÍDA
As primeiras 50 páginas do livro são dedicadas a erudita introdução, que relaciona mais de 200 obras sobre a Inconfidência Mineira, prova da competência, ou pelo menos da dedicação, do autor. Mas logo no primeiro capítulo surge a nova versão, muito bem documentada, com diversas testemunhas oculares narrando como viram o hipotético enforcamento. Como não interessava a ninguém uma versão menos heróica dos fatos, tais depoimentos permaneceram durante mais de dois séculos confinados aos cafundós dos arquivos públicos.
Segundo quatro companheiros do alferes, que presenciaram de perto o hipotético enforcamento, a corda se rompeu no momento em que Tiradentes despencou, rolando o corpo para debaixo do cadafalso, de onde foi imediatamente recolhido pelos assustados amigos. Conduzido a uma casa próxima, constatou-se que nada sofrera na queda, já que a corda, embora grossa e áspera, estava inteiramente roída por ratos e baratas, e ainda apodrecida pela umidade e pela maresia dos porões cariocas.
Poucos dias depois, graças a documentos falsos, Tiradentes se tornou Joaquim José de Freitas, vivendo o resto da vida como barbeiro-cirurgião, dos mais requisitados, em São Luís do Maranhão, cidade que o acolheu como filho. Morreu aos 72 anos, cercado de netos e bisnetos, gordo e próspero, mas com imensa mágoa de ser apenas grosseira falsificação do herói que poderia ter sido.
HIPNOTIZADOR EM CENA
Sabe-se, com absoluta certeza, que a cerimônia foi assistida por centenas de cidadãos (homens, mulheres e crianças), além de policiais e autoridades, incluindo o capuchinho que absolveu o réu de seus pecados e deu-lhe a beijar a cruz. Como se explica então que Tiradentes tenha escapado ileso, diante de tal multidão, que esperava com sádico prazer o enforcamento? Esclarece nosso erudito historiador que, entre os amigos do alferes, havia um discípulo do famoso conde Cagliostro, recém-chegado da Europa, com quem estudara a fundo não só hipnose individual e coletiva, como ultra-enigmáticos arcanos da alquimia, sendo capaz de autênticos milagres, conforme demonstrou posteriormente nas províncias de Minas, São Paulo e Bahia.
Pois bem. Postando-se de frente para a multidão logo após o “enforcamento”, induziu tão profundo transe hipnótico coletivo que todos viram, com indiscutível clareza, a queda do corpo, o salto do carrasco sobre o corpo agonizante, os momentos finais da agonia e a descida do cadáver, despido e esquartejado ali mesmo.
EXPOSIÇÃO DOS DESPOJOS
Ora, se até aí a pesquisa pode ser considerada convincente, já que ninguém nega o hipnotismo, como se explica que o corpo esquartejado tenha sido exposto em vários pontos, inclusive em Ouro Preto, que teve a “honra” de receber a cabeça do protomártir?
Austregésilo não se deixa intimidar. Com apoio em farta documentação, demonstra que não foi Tiradentes o esquartejado. Nem foi entre as ruas Senhor dos Passos e da Alfândega que o fizeram após o falso enforcamento, mas muito depois e – sem sombra de dúvida – a um mendigo anônimo, que a polícia encontrou morto na porta da Igreja da Lampadosa e prontamente entregou aos esquartejadores. Argumenta mais o historiador: “Como seria possível, mesmo a familiares e amigos próximos, reconhecer o inditoso Tiradentes após três anos mergulhado no fundo de asquerosa masmorra de pedra nua e limosa, sem um único banho, com a roupa em farrapos, os cabelos ensebados, tendo por única companhia baratas, ratos, pulgas e percevejos asquerosos?” Trata-se de argumento irrefutável.
O HEROÍSMO DOS HERÓIS
Depois de mais de 500 páginas de depoimentos, análise, testemunhos e muita documentação da época, o autor encerra seu monumental estudo narrando os derradeiros anos de Tiradentes, ou seja, de Joaquim José de Freitas, em São Luís. Conta por exemplo que, freqüentemente, eram os parentes acordados com gritos terríveis do antigo alferes que, em sonhos, via-se conduzido à forca e efetivamente enforcado.
Em outras ocasiões, muito mais freqüentes, o encontravam soluçando pelos corredores, alta madrugada, a clamar que queria ser enforcado, que precisava provar quem era e que nenhum herói verdadeiro foge a seu destino de sofrimento e de glória.
Hoje, diante da avalanche de mentiras, vazamentos e falsas denúncias que nos empurram diariamente goela abaixo, nada há de espantoso nas descobertas do ilustre historiador.
Roberto
29/08/2016 - 23h26
você não deve entrar muito em sites mantidos por moradores de favelas, né?