Por Tadeu Porto (@tadeuporto), colunista do Cafezinho
“Esse senado não tem moral para julgar Dilma” é uma frase que saiu da boca da senadora Gleisi Hoffman e foi direta para as páginas dos livros de História [aliás, nada mais justo que tal obviedade seja dita por uma mulher, devido ao caráter misógino do golpe].
Calheiros deve ter percebido que a expressão da senadora paranaense é, além de muito fortuita, totalmente verdadeira. Por isso, perdeu as estribeiras hoje ao pedir o microfone na seção do impeachment, coisa que não é muito comum em se tratando do alagoano. Até mesmo porque, como bem destacou Fernando Brito no Tijolaço, Renan praticamente confessou o crime de achacar o STF em prol da própria Gleisi e seu marido, Paulo Bernardo.
A gente espera ver uns energúmenos como Caiado, Aécio, Magno Malta ou Mário Couto perdendo o controle da situação, mas Calheiros raramente comete o pecado do destempero. Mesmo com o pedido de prisão decretada pelo seu “arqui-inimigo” Rodrigo Janot, o presidente do senado vem sendo bastante ponderado em suas colocações, tanto nas seções da casa até nas declarações para imprensa.
O que fez, então, Renan pegar tanto ar (como bem dizem nossos queridos amigos nordestinos) com a colocação, repito, totalmente coerente da senadora petista?
Para mim, é relativamente simples: o pmdbista sabe da enrascada que se meteu ao defender e presidir uma tragédia para a história desse país como é esse golpe parlamentar e tenta, mesmo que inutilmente, maquiar o processo de ruptura institucional que a democracia brasileira está vivendo.
A cada dia que passa fica mais provado que o impeachment é golpe. Ademais, Temer não consegue achar sustentação alguma para defender o pouco que tem de popularidade, nem na sua base aliada e muito menos no meio da população. Apenas empresários confiam em Michel e mesmo assim, pois esperam dele medidas altamente impopulares incapazes de passarem pelo crivo das urnas.
Por essas e outras, penso ser uma missão impossível provar para a história que esse impedimento não é um golpe de Estado. Em primeiro lugar, pois a parte técnica do julgamento – a perícia do senado e o parecer do MP – foi jogada as favas por um relator totalmente suspeito e comprometido em salvar seu amigo, Aécio “o mais vulnerável” Neves. Em segundo, porque a compra de votos pelo impeachment se escancara exponencialmente e esses favores vão aparecer cada vez mais, como é o caso absurdo do filho do senador Perella compor o ministério dos esportes. Em terceiro, as declarações como a do próprio Temer “Ela viajaria para denunciar o golpe” e “essa questão do impeachment no Senado …. Depende da avaliação política” e de ministros como o Kassab “Vivemos um semi-parlamentarismo” jogam por terra a tese republicana de afastamento por crime de responsabilidade e desenha, pra qualquer um ver, que o impeachment virou um tipo de eleição indireta.
E, claro, Renan não é tolo. Ele pode ter suas controvérsias com os incansáveis Renangates, mas bobo ele não é. Muito pelo contrário, ele sabe muito bem que Temer e Cunha e vice-versa e que, ao contrário do que apontou Jucá, o ex-presidente da câmara não está nada morto (longe disso, Cunha parece ter encontrado a pedra filosofal).
Portanto, Calheiros, a essa altura do campeonato, sabe muito bem que o futuro de quem votar a favor do golpe é tão fácil de prever quando a trajetória de uma maça de 20 gramas que se desprende, com velocidade inicial nula, de um galho a 3 metros do chão (não há força de atrito no local). Ou seja, os golpistas irão cair, cair e cair até se espatifar no nível mais baixo que um cidadão pode atingir: o de inimigo do povo e da pátria.
Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense