O ex-presidente participou nesta quarta (24) do Ato Nacional em Defesa da Democracia e da Reforma Agrária, no Assentamento Itamarati, em Ponta Porã, MS (Foto: Ricardo Stuckert)
na AGPT
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No maior assentamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ( MST) no país, o conjunto Itamarati, em Mato Grosso do Sul, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta quarta (24) do Ato Nacional em Defesa da Democracia e da Reforma Agrária. Lula alertou que os golpistas querem entregar o país aos estrangeiros: “Eu vim aqui para dizer que não vão conseguir”, afirmou o ex-presidente.
Diante de milhares de trabalhadores e ao lado de João Pedro Stédile, coordenador do MST, Lula recebeu do deputado Zeca do PT (PT-MS), ex-governador, uma medalha de ouro em reconhecimento pelo fato de ter trazido as Olimpíadas para o Brasil. A medalha tem a seguinte inscrição: “Ao verdadeiro patrono das Olimpíadas do Brasil o reconhecimento do Assentamento Itamarati e do PT do Mato Grosso do Sul”.
João Pedro Stédile afirmou que o governo golpista ameaça conquistas obtidas durante o governo Lula, como o Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação escolar. “Nós todos dos movimentos sociais não descansaremos um minuto enquanto não derrubarmos esse governo golpista do Temer”, disse Stédile.
O presidente Lula iniciou seu discurso contando como foi a criação do Assentamento: “Eu vim aqui em 2003, com o Zeca; naquele tempo foi um ato de coragem de vocês de ocupar e do então governador Zeca de assumir a responsabilidade, que deveria ser do Governo Federal da época, para que vocês conseguissem montar o assentamento aqui”.
“O mesmo jornalista que diz que eu tenho um tríplex no Guarujá, escreveu uma matéria em 2003 dizendo que ‘aquela que era a fazenda mais produtiva do Brasil, virou uma favela do MST’ e eu vim aqui para provar que isso é uma mentira preconceituosa contra os trabalhadores rurais desse país, que finalmente conquistaram o direito de viver e trabalhar em sua terra”, afirmou.
“Eles não imaginavam que existiria um movimento tão forte com o MST; e jamais imaginaram que um trabalhador chegasse a presidência da República para fazer em oito anos o que eles não fizeram em 500”
Lula seguiu elogiando a força do trabalhador quando se une: “Ele não querem que o povo mais pobre desse país aprenda a decidir politicamente nas eleições. Eles estavam acostumados a que a gente só batesse palmas para eles. O que eles não imaginavam é que existiria um movimento tão forte com o MST; e jamais imaginaram que um trabalhador chegasse a presidência da República para fazer em oito anos o que eles não fizeram em 500. É a única explicação que eu tenho para o ódio deles”.
Sobre a gestão do governador Zeca do PT, elogiou: “Eu tenho consciência do tanto que melhorou esse estado quando um bancário foi eleito governador. Eu sei como muda quando elegemos alguém comprometido com o povo trabalhador”.
Golpe
Sobre o processo de impeachment que a presidenta Dilma Rousseff está enfrentando, o ex-presidente foi enfático: “Não se enganem, eles não cassaram a Dilma: eles cassaram o voto de vocês. E querem cassar o direito de vocês decidirem” afirmou. E acrescentou: “A democracia custou muito caro a este país. A nossa geração lutou muito por isso”.
“Eles não cassaram a Dilma: cassaram o voto de vocês. E querem cassar o direito de vocês decidirem”
Para o interino golpista, Lula mandou um recado: “Temer, você tem direito de ser presidente. Mas se você quer mesmo ser presidente, dispute uma eleição democraticamente, e não venha dar um golpe no povo brasileiro”.
Reforma agrária
Elogiando as mudanças que aconteceram nos últimos anos, Lula disse: “Eu preciso começar a mostrar para o Brasil o outro lado da história”. “Antigamente nesta terra tinha o tal ‘rei da soja’. Tinha pouco trabalhador – e muita soja. Qual a diferença de hoje? Continua com muita soja. A diferença é que essa terra não em só soja. Tem feijão, peixe, arroz, milho… E a principal diferença é que essa terra não é mais de um homem só, que nunca sujou a mão de terra. Essa terra pertence a mais de 3 mil famílias que vivem e plantam nesta terra”, contou.
“Tenho certeza que fiz um governo bom para os trabalhadores, e também para os ricos. Os trabalhadores continuam gostando de mim. Os ricos agora estão torcendo para o golpista do Temer”
Lula fez uma avaliação de sua trajetória política: “Eu estou com 70 anos de idade, eu tenho certeza que fiz um governo bom para os trabalhadores. Tenho certeza que também fiz um governo bom para os ricos. E eu sempre disse que eu sei de onde vim e para onde eu vou voltar. Os trabalhadores continuam gostando de mim. Os ricos agora estão torcendo para o golpista do Temer”.
Criminalização do PT
Sobre a perseguição que ele e o Partido dos Trabalhadores tem sofrido, lamentou: “Eles querem criminalizar o PT, para que o PT não volte a governar esse país”. E aponta alguns dos motivos: “Eles acham que eu errei em colocar pobre na universidade. Eles acham que eu errei quando temei em provar que era possível colocar a juventude brasileira nas escolas técnicas. Quando fizemos uma lei para obrigar que cada prefeito desse país colocasse 30% de um produtor local na merenda escolar. Quando resolvemos criar o programa de aquisição de alimento para que o pobre pudesse vender sua produção para a Conab”.
Lula também mencionou a campanha midiática que é feita contra ele: “Todo santo dia eles falam mal de mim na televisão”. Mas afirmou, confiante: “O problema é a quantidade de ‘Lulas’ que estão aqui ainda sem saber falar. A quantidade de ‘Lulas’ que vocês produziram aqui no assentamento”.
Brasil para os brasileiros
O ex-presidente criticou a política entreguista de Michel Temer: “Eu não tenho nada contra os EUA, mas nós aprendemos a andar com nossos pés brasileiros e nossa cabeça brasileira. Porque nós temos o orgulho de ser brasileiro. Eles [golpistas] tem vergonha”. E acrescentou: “Eles querem entregar o Brasil para os estrangeiros. E eu vim dizer: eles não vão conseguir”.
“Acabou o tempo que a gente andava de cabeça baixa neste país. Acabou e não vai voltar.”
E mandou um recado aos golpistas: “Acabou o tempo que a gente andava de cabeça baixa neste país. Acabou e não vai voltar. Nós queremos plantar para comer? Queremos! Mas também queremos estudar nas melhores escolas do país, porque nossos filhos tem os mesmos direitos dos deles”.
E, se dirigindo aos agricultores do assentamento, incentivou: “Continuem fazendo o que estão fazendo aqui. Porque nós que sonhamos um Brasil para todos, não vamos deixar nossos inimigos acabarem com ele.”
Lula e o Assentamento Itamarati
O Assentamento Itamarati foi criado em 2003 a partir da luta dos trabalhadores em articulação com o governo do ex-presidente Lula. Abriga cinco escolas públicas que atendem mais de 3100 estudantes filhos e filhas de assentados. A área de 57 mil hectares já chegou à posição de maior produtor de soja do país entre as décadas de 70 e 80.
Hoje, com diversos lotes de usufruto coletivo da terra, é referência na região para produção de alimentos saudáveis, tais como grãos, tubérculos, hortaliças, piscicultura, gado de corte e leiteiro e outros, que são comercializados localmente ou através de programas institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE).
“O presidente Lula optou junto com o MST por vir ao Itamarati primeiro porque é um grande complexo, o maior do país. Mas, sobretudo, porque desde o princípio ele constituiu o Itamarati” explica Marina Nunes, da direção nacional do MST.
Segundo o militante Jonas Carlos da Conceição, da direção nacional do MST, a principal ligação dele com essa área é que “foi o próprio Lula quem idealizou o processo que retirou a posse que se concentrava nas mãos de apenas um latifundiário e proporcionou o assentamento de mais de três mil famílias”.
“Lula idealizou o processo que retirou a posse que se concentrava nas mãos de apenas um latifundiário e proporcionou o assentamento de mais de três mil famílias aqui”
Para os militantes, o grande peso da região vai além da extensão territorial, mas está no tipo de desenvolvimento trazido com a Reforma Agrária Popular. “Além de ser o maior assentamento rural da América Latina, com mais de 17 mil pessoas vivendo em seu território, é um símbolo na produtividade, na educação do campo e no desenvolvimento e vida digna para a comunidade que aqui vive”, conclui Marina.
Com informações do site Lula.com.br