Presidenta Dilma Rousseff durante encontro com Ator Danny Glover no Palácio da Alvorada (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
Um grupo de artistas e intelectuais estrangeiros divulgou nesta quarta (24) uma carta de protesto contra o impeachment de Dilma Rousseff, unindo-se a outras iniciativas recentes nos EUA de apoio público à presidenta.
A lista dos 22 signatários reúne nomes como o ator Viggo Mortensen, de “O Senhor dos Anéis”, o músico Brian Eno, o cantor Harry Belafonte e o cineasta Oliver Stone.
“Nos solidarizamos com nossos colegas artistas e com todos aqueles que lutam por democracia e justiça em todo o Brasil”, diz a carta, redigida em inglês e português.
O texto afirma que a base jurídica para o afastamento de Dilma “é amplamente questionável” e que há “evidências convincentes” de que a principal motivação dos promotores do impeachment foi abafar investigações de corrupção nas quais estão envolvidos.
O abaixo-assinado segue outras manifestações semelhantes de repúdio ao impeachment de Dilma nos EUA, como a carta endossada em julho por 43 membros da Câmara dos Deputados e um comunicado do senador Bernie Sanders, no início do mês.
Sanders, que perdeu a candidatura presidencial democrata para Hillary Clinton após uma disputa acirrada, disse que o impeachment parece um “golpe de Estado” e pediu que o governo dos EUA se posicione contra o processo.
Em sua mensagem, os artistas apelam aos senadores que irão votar no julgamento do impeachment que respeitem o resultado da eleição presidencial de 2014 e alertam para os riscos regionais caso ele seja aprovado.
“Se este ataque contra suas instituições democráticas for bem-sucedido, as ondas de choque negativas irão reverberar em toda a região”, diz a carta, que também tem as assinaturas dos atores Susan Sarandon e Danny Glover, do linguista Noam Chomsky e da escritora Eve Ensler (autora de “Monólogos da Vagina”).
Os outros signatários são Tariq Ali (escritor), Alan Cumming (ator), Frances de la Tour (atriz), Deborah Eisenberg (escritora), Stephen Fry (ator), Daniel Hunt (cineasta), Naomi Klein (escritora), Ken Loach (cineasta), Tom Morello (músico), Michael Ondaatje (escritor), Arundhati Roy (escritora), John Sayles (diretor e roteirista), Wallace Shawn (ator) e Vivianne Westwood (estilista).
Ao mesmo tempo, um grupo de organizações nos EUA divulgou uma declaração no mesmo tom, na qual afirma que a democracia brasileira está “em grave risco”. Entre as 44 organizações signatárias estão movimentos de classe, como a poderosa central sindical AFL-CIO, que tem mais de 12 milhões de membros, e grupos sociais diversos.
“Em maio passado, o Congresso brasileiro orquestrou um golpe legislativo, afastando a presidenta Dilma Rousseff em meio a acusações forjadas de má gestão fiscal. Deputados e senadores usaram um discurso de ódio sexista, invocando crenças religiosas e até mesmo elogiado o torturador da presidenta Rousseff (durante o período em que foi presa na ditadura anterior) em sua campanha de difamação”, diz a declaração.
Acrescenta que “de acordo com os movimentos sociais brasileiros”, a violência contra manifestantes aumentou depois da posse do governo interino.
“Apelamos ao secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e ao governo Obama, para que defendam a democracia constitucional do Brasil, que se oponham à campanha de impeachment lançada contra a presidenta Dilma Rousseff, e que se recusem a reconhecer o governo ilegítimo de Temer”, concluiu.
Leia o texto na íntegra:
“Nos solidarizamos com nossos colegas artistas e com todos aqueles que lutam pela democracia e justiça em todo o Brasil.
Estamos preocupados com o impeachment de motivação política da presidenta, o qual instalou um governo provisório não eleito. A base jurídica para o impeachment em curso é amplamente questionável e existem evidências convincentes mostrando que os principais promotores da campanha do impeachment estão tentando remover a presidenta com o objetivo de parar investigações de corrupção nas quais eles próprios estão implicados.
Lamentamos que o governo interino no Brasil tenha substituído um ministério diversificado, dirigido pela primeira presidente mulher, por um ministério compostos por homens brancos, em um país onde a maioria se identifica como negros ou pardos. Tal governo também eliminou o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Visto que o Brasil é o quinto país mais populoso do mundo, estes acontecimentos são de grande importância para todos os que se preocupam com igualdade e direitos civis.
Esperamos que os senadores brasileiros respeitem o processo eleitoral de 2014, quando mais de 100 milhões de pessoas votaram. O Brasil emergiu de uma ditadura há apenas 30 anos, e esses eventos podem atrasar o progresso do país em termos de inclusão social e econômica por décadas. O Brasil é uma grande potência regional e tem a maior economia da América Latina. Se este ataque contra suas instituições democráticas for bem sucedido, as ondas de choque negativas irão reverberar em toda a região.
Tariq Ali – Writer, journalist and filmmaker
Harry Belafonte – Civil rights activist, singer and actor
Noam Chomsky – Professor Emeritus of Linguistics at MIT, theorist and intellectual
Alan Cumming – Actor and author
Frances de la Tour – Actor
Deborah Eisenberg – Writer, actor and teacher
Brian Eno – Composer, singer, visual artist and record producer
Eve Ensler – Playwright, author of The Vagina Monologues
Stephen Fry – Broadcaster, actor, director.
Danny Glover – Actor and film director
Daniel Hunt – Music producer and filmmaker
Naomi Klein – Writer and filmmaker
Ken Loach – Filmmaker
Tom Morello – Musician
Viggo Mortensen – Actor and musician
Michael Ondaatje – Novelist and poet
Arundhati Roy – Author and activist
Susan Sarandon – Actor
John Sayles – Screenwriter, director and novelist
Wallace Shawn – Actor, playwright and comedian
Oliver Stone – Filmmaker
Vivienne Westwood – Fashion designer”
Com informações da Folhapress e do Diário de Pernambuco