(Gilmar Mendes e Rodrigo Janot. Fotos: José Cruz e Antonio Cruz/Agência Brasil)
Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
No genial Avatar, de James Cameron, quando a cientista Grace (Sigourney Weaver) descobre que Jake (Sam Worthington) foi enviado para trabalhar com ela sem possuir qualquer experiência em laboratório, reclama: “Você vê? Você vê? Eles mijam em nós sem nem ao menos terem a cortesia de dizer que é chuva”.
A frase aplica-se perfeitamente à cara de pau de Rodrigo Janot e Gilmar Mendes no caso do rompimento das negociações de delação premiada com Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, anunciado pelo Procurador Geral da República.
Depois de anos (sim, anos, porque começaram ainda em 2014) de vazamentos jorrando pelo encanamento furadíssimo da Lava Jato sem maiores consequências fora a abertura de inquéritos para investigação que resultaram em nada, Janot e Mendes resolvem ficar indignados com o último deles.
Justamente o vazamento da delação da OAS, sobre a qual a Folha já informou, em um daqueles exercícios de jornalismo futurístico, que inocentaria Lula e envolveria Serra e Aécio (aqui, aqui e aqui).
Gilmar Mendes aparenta estar realmente contrariado com o vazamento que proporcionou o ataque da Veja ao seu aliado Dias Toffolli. Leiam esse trecho de matéria da Folha:
“Não quero fazer imputação, mas os dados indicam que a investigação [do vazamento] deve começar pelos próprios investigadores. Estão com mais liberdade do que o normal. (…) Eu diria que o vazamento não é de interesse dos delatores. Acho que é dos investigadores, como tem se repetido em outros casos”, afirmou Mendes.
De acordo com o ministro, há sinais de retaliação de procuradores a decisões de ministros do STF —Toffoli é autor, por exemplo, da decisão que tirou da cadeia o ex-ministro Paulo Bernardo, alvo da Operação Custo Brasil, o que contrariou integrantes da Lava Jato.
“Essas autoridades que estão investidas desse poder investigatório, que podem fazer qualquer coisa, e isso é inaceitável. Eles vão querer agora imputar [o vazamento] aos delatores, que ficam prejudicados? As probabilidades não indicam isso”, afirmou Mendes.
Perfeitas as colocações de Gilmar.
Uma pena que o julgador mais imparcial do Brasil tenha guardado um sepulcral silêncio quando os vazamentos atingiam os seus adversários políticos. Um deles foi parar na capa da Veja às vésperas das eleições, quase alterando o resultado do pleito, mas Mendes achou normal.
Foi assim com todos os outros vazamentos que atingiram petistas.
Para não sermos injustos, o ministro tucano já havia reclamado dos vazamentos sim: quando envolveram integrantes do PMDB. Risos.
Janot também não pensou em suspender as negociações de delação premiada em no mínimo outros 13 casos de vazamentos na Lava Jato, conforme levantamento de Patricia Faerman, no GGN.
Justo quando a coisa sai do script, com Léo Pinheiro inocentando Lula e envolvendo os caciques inimputáveis do PSDB, o PGR resolve anular a delação?
A cara de pau e a parcialidade de Rodrigo Janot e Gilmar Mendes estão tão escancarados que a hipótese de que toda essa sequência de fatos (vazamento da Lava Jato para a Veja – capa contra Toffoli sem indicação de qualquer crime – indignação de Gilmar – anulação da delação da OAS por Janot) se trata de um grande teatro, para justamente anular a delação que poderia complicar a narrativa do golpe, não pode ser descartada.
Em especial se não houver investigação séria sobre a autoria dos vazamentos, como bem aponta o Fernando Brito aqui.
Eles mijam em nós e não têm nem a cortesia de dizer que é chuva.