Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho
O ministro interino chega para a entrevista coletiva ostentando orgulhoso o casaco amarelo da delegação brasileira. O assunto é o desempenho do Brasil nas Olimpíadas em casa, no Rio de Janeiro, e no auditório do centro de mídia provisório ao lado da prefeitura, montado exclusivamente para o evento, o ministro sorri orgulhoso, fala dos programas de incentivo ao esporte criados e desenvolvidos pelos dois presidentes anteriores, eleitos pelo povo, mas cita nominalmente apenas o interino. Diz que “o presidente Temer” fez isso, aquilo, não mediu esforços para aquilo outro e demais lugares comuns do tipo, e o ministro interino até o último momento se colocou contra o impeachment da presidenta afastada, Dilma Rousseff, enquanto o pai dele, cacique do mesmo PMDB do Rio de Janeiro de Eduardo Cunha, Sérgio Cabral et caterva, já tinha há tempos se declarado a favor.
Temer, como se sabe, fugiu da cerimônia de encerramento dos Jogos, ontem. Na abertura, apesar dos planos para se aumentar o som, as vaias direcionadas a ele foram ouvidas por todos no estádio e pela tevê. Com medo de um novo vexame, o interino cometeu outro, ao quebrar pela primeira vez o protocolo olímpico que previa, como em toda Olimpíada, a passagem de bastão do chefe de governo do país da cidade-anfitriã para, no caso, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, representando Tóquio, próxima sede olímpica. Foi o presidente da Câmara quem assumiu essa função, sem antes deixar de se certificar de que não precisaria falar nada.
A Suécia, a Bélgica e o México já tinham. O Canadá, também. A Hungria tem três, a União Soviética, duas, e a Iugoslávia, a Tchecoslováquia, a Alemanha Oriental e a Polônia já ganharam a sua, assim como a Nigéria e Camarões. Dos oito países campeões mundiais de futebol, sete também ostentavam a medalha de ouro olímpica entre suas conquistas. Só o Brasil, pentacampeão, não tinha a dele. Até a decisão por pênaltis deste sábado.
Criado em 2008, no segundo mandato de Lula, o programa é uma parceria entre os ministérios da Defesa e do Esporte, inspirada em experiências bem sucedidas em países como a China, a Alemanha, a Rússia e a França. Com o alistamento voluntário, o atleta de ponta passa a receber soldo, plano de saúde, 13º salário e outros benefícios, entre eles o acompanhamento de nutricionista e fisioterapeuta. Como toda a delegação do judô, Rafaela Silva, primeira medalhista de ouro brasileira da Rio 2016, faz parte do programa como terceiro-sargento da Marinha. Thiago Braz, ouro no salto com vara e terceiro-sargento da Aeronáutica, também.
Horas antes da final do futebol no Maracanã, Isaquias entrou na água da Lagoa Rodrigo de Freitas ao lado do parceiro Erlon de Souza para tentar o ouro na prova dos 1000 metros da canoa dupla, em que os brasileiros são campeões mundiais. Os dois largaram bem e ficaram na frente quase até o fim da prova, quando os alemães Sebastian Brendel (que já havia derrotado Isaquias após disputa acirrada nos 1000 metros da canoa individual) e Jan Vandrey arrancaram de trás e venceram a prova.
Já a última grande vitória brasileira na Rio 2016 teve o sabor da tradição. Primeiro esporte coletivo a conquistar um ouro olímpico para o País, em 1992, em Barcelona, o vôlei masculino brasileiro sagrou-se tricampeão ontem com a vitória inapelável, por 3 sets a 0, sobre a Itália. O placar foi o mesmo da semifinal contra a Rússia, o que mostra que a seleção treinada por Bernardinho, capitaneada pelo líbero Serginho, único remanescente do segundo ouro, em 2004, em Atenas, é mesmo um time de chegada.
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