Por Bajonas Teixeira de Brito Junior, colunista de política do Cafezinho
Das cinco acusações que serviram de estacas para montar a lona do circo midiático do golpe, duas já foram desmentidas, ou melhor, desmontadas:
Lula não é dono do tríplex do Guarujá.
A conversa de Lula e Dilma flagrada em escuta telefônica ilegal, divulgada também ilegalmente, não serve à nenhuma acusação.
Não vai demorar muito para as outras três serem removidas também, da mesma maneira, com o mesmo silêncio, ou no máximo um mero murmúrio da grande mídia, como se jamais tivessem existido e figurado em letras garrafais em manchetes de jornal e homes dos portais.
Lula não é dono do sítio em Atibaia.
Lula não conspirou com Delcídio do Amaral para comprar o silêncio de Nestor Cerveró contra a Lava Jato na intenção de obstruir a justiça.
Lula não fez tráfico de influência.
Quando isso ocorrer, novos relatórios da Polícia Federal, como o último que atesta que Lula não é o dono do tríplex, vão ser divulgados na íntegra, em PDFs acessíveis à qualquer mortal. E o serão porque nenhum mortal que se preze se dará, se não for obrigado, ao trabalho de ler essa subliteratura policial.
Muitos esbravejarão, como sempre, que tudo isso é um absurdo, que esse país não pode continuar assim. Que a mídia e a justiça não podem caluniar, massacrar, linchar um inocente sem provas, etc. E ainda, como sói de ser, os indignados perguntarão com expressão patética e olhos esbugalhados: “E quem vai indenizar Lula?”
Ora, ninguém vai indenizar Lula. E não vai porque o que acaba de acontecer não é nenhum absurdo. Ao contrário. Esse episódio, em meio a tantos outros exatamente iguais, tão recorrentes no dia a dia do Brasil, deve ser considerado normal e não “um absurdo”. Absurdo, é achar que nesse país, a essas alturas, alguma coisa pode ser designada como “um absurdo”.
Mas, isso que estamos dizendo que é normal, esses fatos que fazem a nossa originalidade, não seria em qualquer outro lugar, considerado um absurdo? Sim. Certamente. Mas o Brasil não é qualquer outro lugar. O Brasil é o Brasil.
O que faz nossa ‘normalidade’ é a imensa impotência dos grupos instalados fora do núcleo das elites políticas e de poder. Impotência que decorre em parte do sistema político, de sua história excludente, que baniu qualquer respeito por instrumentos abstratos da vontade coletiva, por exemplo, constituições, códigos penais, etc. Se a vontade que construiu esses códigos, não era coletiva, mas sim a vontade de uma elite restrita, como pedir que se respeite a vontade coletiva?
O respeito às leis não significa nada além de respeito à vontade de uma maioria social, suficientemente ampla para se fazer ouvir, e impor consequências dignas de nota, àqueles que ousem desrespeitá-la. Se não existe essa tal maioria, se até a minoria que existe e reclama contra os “absurdos” não é suficientemente sólida, então a lei é só um ídolo de pés de barro. Então a lei é apenas um conjunto de sinais de fumaça, que os ventos mais fortes redesenham a cada instante.
Essas instituições raquíticas, anêmicas de sangue popular, são teias de aranha nas mãos dos poderosos, e mais ainda quando eles arquitetam juntos, convergindo em torno de fins comuns. E tem sido esse justamente o caso do impeachment, da perseguição a Lula e da pulverização do PT. Se mesmo a “casa das leis”, como se vê nas últimas denúncias de compra do cargo de presidente na Câmara Federal, como parece ser o caso de Eduardo Cunha, tem seus deputados em grande parte “sustentados”, que respeito se pode honestamente esperar pelas ‘leis’ feitas por eles?
No Brasil o “pays légal” é a cara do país “pays réel”, e esse país real, o país que realmente conta, é uma figura monstruosa e deformada. Ele é, por exemplo, o país da FIESP que esbraveja contra a corrupção com um diretor que deve sete bilhões de reais aos cofres públicos.
Enquanto, porém, continuarmos a deblaterar contra o ‘absurdo’, nos deixando arrastar pelo teatro da indignação, dissimulando o fato de que convivemos com ele todos os dias, e que por isso, é o que há de mais normal na nossa experiência política, não vamos nem compreender nem ter armas eficientes para combater esse estado de coisas.
Jair Bolsomito
14/07/2017 - 09h51
Bom dia, só passei para lembrar a vergonha que é esse texto. Abrss
Adelar Bazzanella
20/08/2016 - 21h34
Para muitos, a hora é de pegar fuzís, ir às ruas, caçar direitistas e golpistas, incendiar igrejas de crentes, revistas, jornais, tvs e rádios golpistas…..mas, esses, certamente não são brasileiros.
Adrian Barbosa
21/08/2016 - 00h03
Meu amigo, o seu discurso é bem estranho ao ambiente aqui no Brasil, em que a esquerda é pacífica e totalmente avessa à violência. Por isso, parece provocação, como a usada para prender os ‘terroristas’. Se não for, é idiotice e vontade de falar asneiras num local em que ninguém compartilha dessas idiotices. Tome tento meu filho.
Jar Borah
26/08/2016 - 19h57
Adrian , esperando até agora a revolução ….tacarem fogo no país .. não tô nem saindo de casa.
é tudo machão de internet
Jar Borah
26/08/2016 - 19h56
Olá Adelar .
Aqui de boas ….esperando tu e seus comparsas de fuzis ….armas em punho para a revolução .
Alias iniciem por Curitiba , seus presos políticos estão lá .
Não estou nem saindo de casa com medo do clamor das ruas e a revolta do povo lutando pelo Lula .
HA HA HA . cOVARDE , fANFARRÃO : CADÊ TU ???? KKKKKKK
Marcos Augusto Neves
20/08/2016 - 14h00
Atenção “escondidinhos” de plantão, creio que aqui é um espaço para opiniões fundamentadas, esse negócio de petralha, comunista, pão com salame já cansou, vão estudar para argumentar com algum resquício de inteligência.
Gringani Crestani
20/08/2016 - 12h44
Nossa, até neste blog aparecem aqueles que foram molestados na infância. Só alguém que foi currado, gostou, mas não consegue admitir, para vir aqui defecar contra Lula e Dilma.
wilson lins da silva filhol
20/08/2016 - 10h14
Esse irresponsável e bandido tem que ser preso junto com Dilmão
Galvão
20/08/2016 - 20h03
Na única vez que a sapata que é sua mãe fez sexo com um homem, ela engravidou e lhe pariu.
Watson
20/08/2016 - 09h30
Lula tem que ser preso e Dilma tem que ser banida do Brasil e os militantes tem que tomar no c*
Adelar Bazzanella
20/08/2016 - 21h35
O você tem de ser fuzilado.
Watson
21/08/2016 - 14h35
E você tem que tomar no seu c* Aproveite também e enfia uma mortadela no seu rabo
Messias Franca de Macedo
20/08/2016 - 06h38
Desmascarando a Globo &$ o “juiz” ‘mor(T)o’!
Isso que é coragem!
Homem vai à palestra do popstar Sérgio Moro e coloca na cara dele todas as perguntas que sempre quisemos fazer. Os coxinhas na plateia ficaram loucos.
https://www.facebook.com/desmascarandoglobo/videos/vb.1444471542451589/1803743326524407/?type=2&theater
Valeria
20/08/2016 - 01h23
Cada FARSA INVENTADA pela MIDIA MANIPULADORA CAIRÁ POR TERRA e somente as pessoas de raciocínio ilógico e teleguiadas pela midia invencionista vão continuar tentando desqualificar e distorcer os fatos, ainda bem que nem todos os brasileiros foram contaminados pelo virus alienador da Globo, Estadão e afins que em letras garrafais em seus portais e chamadas televisivas intermináveis na louca e desenfreada tentativa de queimar a imagem do Presidente Lula divulgavam e poluem as mentes dos brasileiros com suas “noticias” tendenciosas, partidárias, manipuladoras e sensacionalista e na hora de divulgar o relatorio final sobre a investigação não deram o devido “destaque” outrora dadoas especulações midiaticas! Esses meios de comunicação DEVEM DESCULPAS ao PRESIDENTE LULA e sua FAMILIA!
B Brito
19/08/2016 - 20h46
Label, sua colocação é interessante. Mas vejamos. Olha o exemplo da FIESP citado no artigo. O caso é normal, comum ou frequente? Entendo que o absurdo no Brasil é, infelizmente, tão diário que vicia na indignação, que termina reduzida a teatro. Essa indignação, sem se dar conta, compra a imagem de que vivemos num país ‘normal’. Essa é a primeira farsa. E ela obstrui o caminho para pensarmos a natureza real do país, olhar o negativo nos olhos. Por exemplo, a gente vai apelar para a Justiça e ter esperança nessa justiça? José Dirceu arrependeu-se amargamente dessa ilusão. O que ele disse depois? Que deveria ter feito a luta política desde o início. Pq não fez? Porque depositaram esperança nos advogados e na justiça. Hoje tem muita gente com esperança no Senado, como tinha antes com esperança no placar da Câmara. Quando vamos romper com essas ilusões? Só no momento em rompermos várias cumplicidades que nos amarram às elites brasileiras. Elas são traficantes de esperança. Acho que muita gente não se mobiliza, permanece passiva, porque tem fé, ainda acreditam que algum ‘poder’ vai dar um jeito nesse ABSURDO. A esperança é o pior vírus no Brasil hoje. Só começamos a pensar nos livrando das cumplicidades e das ilusões que implantam. A caçada a Lula deu lugar a uma luta política, desde de março. É isso que diferencia seu caso do de Dirceu. E só por isso não foi preso também. Mas esse luta seria muito maior, se a esperança fosse muito menor. Abç.
label vargas
19/08/2016 - 19h32
O uso da palavra normal( que está dentro da regra) acaba se confundindo com a palavra comum(frequente).E na verdade o absurdo na nossa sociedade é COMUM ,mas não é NORMAL.Qualificar o absurdo como NORMAL ,nos faz perder qualquer referência como grupo organizado ( sociedade).Discordo do autor quando nega validade a indignação,o fato dela estar presente num fato destes significa que ainda temos esperança.Se ele ,o absurdo ,ficar comum e normal,É O FIM.
Jar Borah
19/08/2016 - 18h41
pera ae . essa investigação não é o do TRIPLEX da OAS da operação Alethea ,
O indiciamento é de Nelci ,laranja do João Vaccari , tesoureiro do PT .
O TIPLEX DO Lula , dado pelo Léo Pinheiro como propina, é de outra investigação .
O desespero é tanto que se apegam a qualquer fio de esperança .
Alias, homologaram a delação do Léo .
Lula já fugiu pro Uruguai ?
Dulce
19/08/2016 - 19h17
Ei Borat, podia ser idiota mas não precisava ser debiloide. Mas o que esperar de um Borah? Borat você é uma grande comédia que deve acreditar que a dívida de 7 bilhões do seu papai da FIESP, Laodse de Abreu Duarte, é uma invenção do PT. Lambe botas da Globo.
Jar Borah
19/08/2016 - 19h47
a macaquinha amestrada do João Santana e da Monica Moura…Que votou no TEMER e agora tá de mi mi mi dizendo que é golpe , tá me chamando de debilóide ??? putz !!!
Imaginei que debiloide é asquela pessoa que na urna digitou 13 e elegeu junto o 15 e agora chama o vice presidente que elegeu de golpista . tsc tsc tsc .
Vou repetir o que disse para a sua amiga :
Quando Lula fugir para não ser preso, me chama de novo gata !!!! Chora que hidrata .
Faz assim , vai para a rua na defesa dele kkk. Junta-se as multidões que estão na rua o defendendo . Ihhhh !!! Multidão na rua ???? CadÊ ?? Não era a guerra civil ??? o país pegando fogo ???? KKK , vai lá em Curitiba protestar !!! Não o faça atrás do teclado. E´coisa de amesrado de marqueteiro
Dulce
19/08/2016 - 20h35
BORAT, toda vez que você abre a boca, você dá um tiro nos pés. Quem usa “KKK” e “Ihhhh” só entra aqui porque encontra a porta aperta. Xô!
Jar Borah
19/08/2016 - 21h00
Ué , espaço de comentários deve ser apenas para grupinhos amestrados?
Nossa. Falam tanto em democracia e qualquer voz dissonante é debilóide ou coxinha .
Vou usar um kkkkkkkkkk toda ve que encontro defensor de quadrilha.
Falou da FIESP? A roubalheira do empresário ou de ladrões de banco isentam o Lula? Saibia não.
Bora traficar?
José
19/08/2016 - 23h27
Bobinho, o lula se tiver um mísero triplex no Guarujá, que já não grande coisa atualmente, é propina. O FHC que realmente comprou apês de luxo em Higienópolis, em Barcelona, em Nova York e dizem que até em Paris, fora as “fazendinhas que já passou para os filhos”, está acima de qualquer suspeita.., Mas, o FHC é amigo da Globo, que é quem faz a cabeça desses Boráts da vida.
Depois os macaquinhos amestrados são os petistas…
Jar Borah
20/08/2016 - 23h51
Não entendo até agora essa coisa de achar que todo mundo que critica Lula é eleitor de FHC.
Será que ensinaram no curso de adestramento de petista isso?
Então,. Seguindo seu raciocínio…. Bora traficar? Afinal, Fernando beira mar trafica não é mesmo? Então nosso tráfico deixará de ser crime? Que tal?
label vargas
19/08/2016 - 19h40
Não ele não fugiu pro uruguai,na verdade ,ele está se divertindo com tua mãe.
Jar Borah
19/08/2016 - 19h44
Putz….. xingou a mãe…oooo juiz!!!!! cartão vermelho para a macaquinha amestrada do João Santana e da Monica Moura…Que votou no TEMER e agora tá de mi mi mi dizendo que é golpe .kkkk
Quando Lula fugir para não ser preso, me chama de novo gata !!!! Chora que hidrata .
Faz assim , vai para a rua na defesa dele kkk. Junta-se as multidões que estão na rua o defendendo . Ihhhh !!! Multidão na rua ???? CadÊ ?? Não era a guerra civil ??? o país pegando fogo ???? KKK , vai lá em Curitiba protestar !!! Não o faça atrás do teclado. E´coisa de amesrado de marqueteiro
Adelar Bazzanella
20/08/2016 - 22h37
Pega o quipá, vai pra sinagogoga e aproveita, e vai para a puta que te pariu!
Jar Borah
21/08/2016 - 12h04
Nossa ! Machão de internet !!!achei que era só lenda semitismo na internet .
Não sou judeu, mas os respeito.
Você só lamento. Um lixo racista defensor de bandido devemos aguardar o quê?
Faça um favor , nem me responde.
Pega mal para mim, tenho reputação a zelar
Ah . Pega Morales, Corrêa e Castro e enfia na bunda, junto com sua presidANTA e seu calango de 9 dedos favorito.
Adelar Bazzanella
20/08/2016 - 21h36
Você vota aqui ou em Israhell:?
Jar Borah
20/08/2016 - 23h54
Não dou legitimidade a quadrilhas do PSDB, PT e PMDB. Se essa é a resposta que quer ouvir
Dilson Magno
19/08/2016 - 18h30
O JOGO DOS SETE ERROS – 1964-2016
Por José Carlos Moreira da Silva Filho
STF Golpe de 1964
Na madrugada do dia 2 de abril, o Presidente do STF, Álvaro Ribeiro Moutinho da Costa, normalizou o golpe ao dizer que a tomada do poder pelos militares e a derrubada do Presidente João Goulart, eleito pelo voto popular, estavam de acordo com a Constituição, além de ter comparecido à posse de Ranieri Mazzili, então Presidente da Câmara que passou a ocupar provisoriamente a Presidência da República. A afirmação e a atitude desse juiz não resistiram ao exame mais básico sobre o que dizia a Constituição de 1946. Jango estava em solo nacional quando o Congresso declarou vaga a Presidência da República, logo o cargo não havia sido abandonado como afirmaram. Após Castello Branco assumir a presidência, Moutinho da Costa afirmou que se fazia necessária em momentos de crise a relativização das garantias e dos princípios democráticos.
Golpe de 2016
Na noite do dia 20 de abril, no Jornal Nacional, o Ministro decano do STF, Celso de Mello, secundado pelos Ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, afirmou que o processo de “impeachment” da Presidente da República Dilma Roussef, eleita pelo voto popular, estava perfeitamente de acordo com a Constituição. A afirmação desses Ministros é contrariada pelo que diz a Constituição de 1988, que prevê a possibilidade da deposição do Presidente da República pela via do impedimento apenas se ele houver praticado crime de responsabilidade. Dilma não praticou crime de responsabilidade. O atraso no repasse aos bancos públicos de recursos do Tesouro Nacional (“pedaladas”) não configura conduta criminosa, nem crime orçamentário, nem crime à luz da Lei de Responsabilidade Fiscal e muito menos crime de responsabilidade. Em entrevista dada ao Estadão após a aprovação do processo de impedimento de Dilma Roussef pela Câmara dos Deputados, o ex-Ministro do STF Carlos Ayres Britto afirmou que em meio à crise política o país vive um momento de “pausa democrática” para que o país possa se reorganizar, uma espécie de “freio de arrumação” afirmou o ex-Ministro.
CONGRESSO NACIONAL
Golpe de 1964
No dia 2 de abril de 1964 o Senador Auro de Moura Andrade preside sessão do Congresso Nacional na qual declara vaga a presidência da República mesmo o Presidente João Goulart estando em território nacional e mesmo não tendo Jango renunciado à Presidência. Assume provisoriamente o Presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli da No dia 11 de abril, o Marechal Castello Branco é eleito Presidente da República pela via do voto indireto praticado pelo Congresso Nacional, obtendo 361 votos favoráveis, com 72 abstenções, 37 ausências e 5 votos contrários. Tais fatos revelam que o golpe civil-militar também revestiu-se do caráter de um golpe parlamentar, na medida em que o Congresso Nacional violou flagrantemente a Constituição de 1946 ao chancelar a deposição de um Presidente eleito pelo voto popular, sem a ocorrência de nenhuma das causas previstas no texto constitucional para sua deposição e, em seguida, promoveu eleições indiretas para Presidente da República sem que houvesse qualquer previsão constitucional neste sentido.
Golpe de 2016
No dia 2 de dezembro de 2015 o Presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha aceitou pedido de impedimento contra a Presidente Dilma Rousseff. Contudo, o pedido não apresentou a existência da prática de crime de responsabilidade por parte da Presidente, única causa prevista na Constituição de 1988 como justificativa para o seu impedimento. O pedido foi aceito como vingança, pois ocorreu momentos depois que os deputados do PT declararam que votariam contra o Presidente da Câmara na Comissão de Ética da casa legislativa. No dia 17 de abril de 2016 ocorre sessão plenária de votação do parecer favorável, aprovado pela Comissão Especial constituída, ao impedimento da Presidente. O pedido é aprovado pela Câmara com 367 votos a favor, 137 contra, 7 abstenções e 2 ausências. Nas manifestações dos parlamentares para justificar o voto pouco se tratou da acusação da prática de crime de responsabilidade pela Presidente. O que a esmagadora maioria dos deputados disseram foram homenagens a membros da família, acusações de corrupção à Presidente (não mencionadas no pedido cuja aceitação se votava) e até homenagens a notórios torturadores da ditadura civil-militar, espetáculo que chocou a sociedade, até mesmo aqueles favoráveis à deposição da Presidente. A aprovação do pedido na Câmara representou o momento culminante para o afastamento da Presidente pelo Senado Federal, tornando-o praticamente irreversível sob o ponto de vista político. O golpe ainda em curso, portanto, tem um caráter inegavelmente parlamentar.
MÍDIA
Golpe de 1964
Ao longo do ano de 1964, antes que o golpe de Estado fosse dado, Roberto Marinho conspirava com políticos, empresários e militares golpistas e seu Jornal O Globo, assim como quase todos os outros jornais da grande mídia (e entre eles a Folha de São Paulo e o Estadão, além de revistas como O Cruzeiro, de Assis Chateaubriand), estampava sucessivas manchetes que incitavam ao golpe. O Editorial do dia 2 de abril de 1964 festejou o golpe de Estado sob o argumento de que se salvava a democracia e se tratava de movimento apartidário, com apelos para que o Congresso votasse com rapidez as medidas necessárias, como a eleição indireta para Presidente e que tudo transcorria de acordo com a Constituição e com a legalidade. Roberto Marinho continuou conspirando com os líderes do golpe para que o mandato de Castello Branco fosse prorrogado e as eleições de 1965 canceladas. Em editorial do dia 31 de agosto de 2013, o Jornal O Globo reconhece que foi um erro ter apoiado o golpe de 1964, ainda que no mesmo texto procure justificar o seu erro.
Golpe de 2016
Ao longo do ano de 2016, antes que o golpe de Estado fosse dado, João Roberto Marinho conspirava com políticos, empresários, procuradores e juízes golpistas e seu Jornal O Globo estampava sucessivas manchetes e editoriais de apoio ao golpe parlamentar, assim como fizeram também quase todos os jornais da grande mídia (e entre eles a Folha de São Paulo, o Estadão e a Revista Veja) . A Rede Globo de Televisão teve papel decisivo e protagonista por meio principalmente dos seus programas de notícias e jornalismo. O Jornal Nacional dedicou edições inteiras para noticiar e analisar vazamentos seletivos e escutas ilegais enviadas diretamente pelo juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato. Também deu destaque para investigações ainda em andamento do Ministério Público Federal voltadas contra o Ex-Presidente Lula, seu partido e o governo da Presidente Dilma, ao mesmo passo em que dava pouco espaço e importância às denúncias e delações envolvendo empresários que apoiavam a oposição e políticos da oposição, entre eles o candidato do PSDB derrotado em 2014, Aécio Neves. Construiu-se um trabalho em equipe entre MPF, Judiciário Federal e a mídia golpista (em especial a Rede Globo, mas também com participação adesiva da Rede Bandeirantes, da Record e, em menor medida, do SBT). O auge do espetáculo midiático ocorreu na noite de 16 de março quando Moro envia grampos ilegais feitos na própria Presidência da República diretamente à Rede Globo de Televisão, contendo conversas particulares e privadas que são expostas à execração pública em pleno Jornal Nacional, que passa a estimular a população de Brasília a invadir o Palácio do Planalto. O crime praticado por Moro é ignorado pelo Conselho Nacional de Justiça e pelo STF, contentando-se este último com um simples pedido de desculpas. A Rede Globo não admite que seja um golpe a deposição da Presidente em 2016 e não reconhece que sua cobertura é tendenciosa e parcial. Serão precisos mais 49 anos para reconheça o seu erro?
FORÇAS DE SEGURANÇA
Golpe de 1964
O alto oficialato das Forças Armadas, alguns nomeados diretamente pelo Presidente João Goulart, conspiram contra o próprio governo do qual fazem parte. A facção militar antigetulista assume a hegemonia e praticamente anula o chamado “dispositivo militar” com o qual Jango poderia contar, e que se revela inoperante e incapaz de conter a traição interna ao governo eleito no seio das Forças Armadas. Os tanques são colocados nas ruas e o golpe parlamentar obtém a segurança das armas para prosseguir.
Golpe de 2016
Amplos setores da Polícia Federal, em trabalho conjunto com o Judiciário e o Ministério Público Federal, levam adiante Operações de investigação, prisões e de execução de mandados de busca e apreensão que se voltam prioritariamente contra o próprio governo da Presidente eleita e seu Partido, assumindo explicitamente um viés seletivo apoiado basicamente em delações de corrupção obtidas a partir de prisões provisórias sem prazo para acabarem, além de praticarem inúmeras ações ilegais e irregulares como vazamentos para a imprensa, prisões baseadas em indícios frágeis e escutas ilegais. O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, então comandante da Polícia Federal, revela-se incapaz de coibir tais abusos e ilegalidades e esconde-se atrás de um discurso pretensamente republicano, indo no mesmo sentido o STF, que convalida todos os atos da Operação Lava Jato. Os policias e delegados responsáveis por essas Operações abrangidas pela Lava-Jato anunciam em redes sociais sua filiação política à oposição derrotada nas urnas. As caminhonetes da Polícia Federal e seus agentes são colocados nas ruas e o golpe parlamentar obtém a segurança do Estado policialesco e autoritário para prosseguir.
MOVIMENTOS DE CLASSE MÉDIA
Golpe de 1964
Setores da classe média brasileira, estimulados pela Igreja, empresários e meios de comunicação, vão às ruas pedir a deposição do Presidente eleito. Tais mobilizações ficaram conhecidas pelo nome de “Marchas com Deus, pela Família e pela Propriedade” e receberam farto financiamento de empresários brasileiros, em especial da FIESP, de empresários estadunidenses e do próprio governo dos Estados Unidos, através do IPES e do IBAD, institutos de fachada que serviam como canal de financiamento para parlamentares, para propagandas e filmetes exibidos na televisão e nos cinemas, para centenas de programas de rádio e para as marchas de classe média, todos contrários ao governo João Goulart. O perfil das pessoas que compunham essas marchas eram de pessoas brancas, com educação formal completa e de nível de renda médio a alto. As principais bandeiras empunhadas por esses manifestantes, além da saída de João Goulart, eram o combate à corrupção, ao comunismo e o apelo à intervenção das Forças Armadas.
Golpe de 2016
Setores da classe média brasileira, estimulados por empresários e meios de comunicação, vão às ruas pedir a deposição da Presidente eleita. Tais mobilizações procuraram explicitamente reeditar as “Marchas com Deus, pela Família e pela Propriedade” e receberam farto financiamento de empresários brasileiros, em especial da FIESP, e de milionários estadunidenses como os irmãos Koch, financiadores da organização “students for liberty” e empresários que atuam na exploração de óleo, gás e refino do petróleo. Tal financiamento se deu especialmente através de organizações como o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua. O perfil das pessoas que compunham essas marchas era de pessoas brancas, com educação formal completa e de nível de renda médio a alto. As principais bandeiras empunhadas por esses manifestantes, além da saída de Dilma Rousseff, era o combate à corrupção, ao comunismo e o apelo à intervenção das Forças Armadas.
PARTICIPAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS
Golpe de 1964
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, os EUA manteve estreito contato com as Forças Armadas brasileiras provendo treinamento militar e formação com base na Doutrina de Segurança Nacional, buscando igualmente transmitir técnicas de tortura e interrogatório e estratégias de guerra interna para combater o comunismo. Os EUA atuou também financiando ações golpistas internas, via IPES e IBAD, já que o governo João Goulart empreendia medidas que batiam de frente com os interesses estadunidenses, como limitação de remessa de lucros das empresas estrangeiras situadas no país, legislação protecionista ao trabalhador e à atividade sindical, alinhamento comercial com a China, e ampliação do monopólio da Petrobrás. Os EUA enviaram tropas e navios à costa brasileira para apoiar o golpe de Estado caso o Presidente João Goulart decidisse reagir com as forças que lhe eram fiéis. E por fim, os EUA foram o primeiro país a reconhecer o governo usurpador instalado após o golpe de Estado.
Golpe de 2016
Desde pelo menos 2009, os EUA manteve estreito contato com setores do judiciário e do ministério público federal do Brasil, incluindo o juiz Sergio Moro e procuradores da força tarefa da Operação Lava Jato, provendo treinamento e formação em torno do combate à corrupção e de medidas de “contra-terrorismo”, buscando transmitir técnicas de negociação de delações, interrogatórios e outras práticas que relativizam os direitos e garantias fundamentais dos investigados, no melhor estilo “law & order”. Por meio de convênios de cooperação internacional entre o MPF e o governo dos EUA, documentos relacionados à Operação Lava Jato são compartilhados. Os EUA também atuaram financiando grupos dissidentes ao governo Dilma Rousseff, já que este empreendia medidas que batiam de frente com os interesses estadunidenses, como a manutenção da exclusividade ou preferência da Petrobrás para explorar o pré-sal, e o alinhamento comercial e político a países como China e Rússia, com os quais criou uma alternativa de financiamento e hegemonia internacional, juntamente com a Índia e a África do Sul, conhecida como os BRICS. Os EUA também realizou, por meio do programa NSA denunciado por Edward Snowden, ampla espionagem de emails e comunicações envolvendo todo o governo brasileiro e em particular a Presidência da República.
GOVERNO DEPOSTO
Golpe de 1964
O governo do Presidente João Goulart possuía um amplo programa de reformas sociais para diminuir a desigualdade no país. Batizado de “Reformas de Base” o programa visava realizar a Reforma Agrária, limitar a remessa de lucros de empresas estrangeiras no Brasil, ampliar o monopólio da Petrobrás, garantir o direito de voto aos analfabetos e aos militares de baixa patente, legalizar o Partido Comunista, implementar programas nacionais de alfabetização com formação para a cidadania, facilitar o crédito para a aquisição da casa própria, valorizar o magistério e o ensino público em todos os níveis, promover a reforma fiscal para a carga tributária ser distribuída de forma mais justa, proporcional e igualitária, ampliar o acesso ao crédito aos pequenos e médios produtores, e nacionalizar os serviços de energia elétrica, refino do petróleo e químico-farmacêutico. O pretexto para o golpe foi a ofensa à hierarquia militar quando Jango apoiou pleito de militares da Marinha de baixa patente por direitos básicos como o de poder se casar sem necessitar de autorização do superior hierárquico. Tal pretexto não estava previsto na Constituição de 1946 como causa legítima de deposição do Presidente eleito.
Golpe de 2016
O governo da Presidente Dilma Rousseff deu continuidade a um extenso programa de políticas públicas populares que vinham dos governos Lula e também do seu primeiro mandato, e que eram relativas a programas de distribuição de renda mínima, ações afirmativas de cotas para negros e indígenas nas Universidades, crédito para estudantes de baixa renda poderem cursar o ensino superior privado, valorização do magistério e ampliação de vagas no ensino superior, aumento de quantidades e valores de bolsas de estudos, ampliação de escolas técnicas, programas de facilitação do crédito para camadas de baixa renda adquirirem a casa própria, acesso ao crédito para pequenos e médios produtores, ampliação do número de médicos em localidades carentes, valorização de inúmeras pautas vinculadas aos direitos humanos, garantia da exclusividade ou preferência da Petrobrás na exploração do pré-sal, combate a propostas de terceirização do trabalho e ampliação dos direitos trabalhistas dos empregados domésticos. O pretexto para o golpe foi a prática das já referidas “pedaladas fiscais”. Tal pretexto não está previsto na Constituição de 1988 como causa legítima de deposição da Presidente eleita.
Neste jogo, os erros são poucos e as semelhanças são muitas, e revelam que o Brasil não soube fazer a sua transição democrática, tendo apenas adormecido e adiado problemas e conflitos mal resolvidos que retornaram no golpe de 2016 no mesmo mês de abril e 52 anos depois do golpe de 1964.
PS: O apoio da Ordem dos Advogados do Brasil aos golpes de 1964 e 2016, embora seja outra grande semelhança com pouquíssimos erros, não será incluído neste jogo, pois é uma maneira de refletir o desprezo e a insignificância com que a iniciativa da OAB foi tratada pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, um dos mais destacados artífices do golpe de 2016.
Agradeço à minha mulher Maria Tereza Flores Pereira, Doutora em Administração de Empresas pela UFRGS e Professora Adjunta da Escola de Administração da UFRGS, pela inestimável ajuda na organização das ideias e na revisão do texto.
Dilbert
19/08/2016 - 18h25
Não vem ao caso, by Moro.