Foto: Christian Petersen/Getty Images
Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho
Sob o barulho ensurdecedor da multidão em volta, que lotava o ginásio e gritava, urrava, não parava quieta, Robson Donato Conceição, peso leve, até 60 kg, dançava em torno do francês Sofiane Oumiha, se esquivava e soltava o braço de novo, a segundos do fim da luta que vencia com certa folga, e que teve contagem regressiva aos berros, de todo o ginásio: dez, nove, oito e no fim a explosão de alegria confirmada dois, três minutos depois com o juiz erguendo o braço do primeiro pugilista brasileiro a conquistar um ouro olímpico.
Baiano de Salvador, Robson iniciou a “carreira” ainda criança, arrumando briga pelas ruas até que, aos 13 anos, começou a criar algum juízo e aceitou os conselhos da avó, a quem ajudava na feira, para ingressar num projeto social que ensinava o boxe a crianças. Em sua terceira Olimpíada, o pugilista eliminado na estreia em 2008 e 2012, conseguiu, ontem, levantar não só a torcida de quase todo o ginásio como de todo o País, em qualquer lugar que havia uma televisão ligada na hora da luta que, durante os três assaltos de quatro minutos, transformou o boxe em paixão nacional, assim como o salto com vara, ainda que nesse caso o comportamento da torcida brasileira tenha causado polêmica.
Tem até uma certa dose de razão, o francês mal humorado, se for levada em conta as peculiaridades da prova, a necessidade de concentração para o salto, com o silêncio total ou as tradicionais palmas ritmadas, mas como controlar toda a torcida presente diante do que vinha fazendo o brasileiro Thiago Braz, que até ali nunca tinha saltado além dos 5m92 e, na disputa pessoal pelo ouro com Lavillenie ultrapassou primeiro a marca dos 5m93 e, depois, quando o francês já havia marcado 5m98, bateu o recorde olímpico ao passar sobre o sarrafo a 6m03, garantindo a medalha de ouro, a primeira do Brasil na modalidade?
Nascido em Marília (SP), Thiago foi beneficiário do Bolsa Pódio, programa criado pela presidenta Dilma Rousseff, e foi levado a morar na Itália por seu técnico, o ucraniano Vitaly Petrov, ex-treinador de mitos da modalidade como Sergei Bubka e Yelena Isinbayeva, e que anunciou o fim de sua carreira com a vitória de seu mais recente pupilo. “Encerro minha carreira como campeão olímpico”, disse ele, depois da prova. Maior nome da modalidade em todos os tempos, entre os homens, o ucraniano Sergei Bubka, aliás, mediou uma reconciliação entre Thiago e Renaud após a disputa pela medalha de ouro. Os dois, parece, não se falavam por algum motivo que não ficou muito claro e saíram do encontro com o ídolo dizendo-se reconciliados. Pena que as reclamações excessivas de Renaud tenham ajudado a provocar outra vaia da torcida brasileira ao francês, essa sim lamentável, no pódio, no momento em que ele, recordista mundial com 6m16 (Bubka chegou a 6m15 no último de seus 17 recordes), campeão olímpico em 2012, recebia sua medalha de prata. Algo, realmente, totalmente desnecessário.
Para contrabalançar as medalhas inesperadas, tivemos também derrotas que não estavam assim tão previstas, como a do vôlei feminino, bicampeão olímpico, eliminado logo nas quartas-de-final, para a China, por 3 a 2; e no handebol das mulheres, campeãs mundiais, com ótima campanha na primeira fase e que caíram, também no primeiro mata-mata, diante da Holanda. No handebol masculino perdemos para a França, mas a classificação às quartas foi o melhor resultado da história, e a eliminação, diante dos campeões mundiais, já era esperada, assim como as do polo aquático feminino, também nas quartas, diante dos Estados Unidos, e masculino, na mesma fase, com derrota para a Croácia apesar de nosso grande goleiro sérvio. Já eliminação do basquete masculino, outrora bicampeão mundial, em 1959 e 1963, foi um pouco mais difícil de engolir, já que, como as mulheres brasileiras da modalidade, os rapazes deram adeus logo na primeira fase.
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