Foto: Christian Petersen/Getty Images
Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho
Sob o barulho ensurdecedor da multidão em volta, que lotava o ginásio e gritava, urrava, não parava quieta, Robson Donato Conceição, peso leve, até 60 kg, dançava em torno do francês Sofiane Oumiha, se esquivava e soltava o braço de novo, a segundos do fim da luta que vencia com certa folga, e que teve contagem regressiva aos berros, de todo o ginásio: dez, nove, oito e no fim a explosão de alegria confirmada dois, três minutos depois com o juiz erguendo o braço do primeiro pugilista brasileiro a conquistar um ouro olímpico.
Baiano de Salvador, Robson iniciou a “carreira” ainda criança, arrumando briga pelas ruas até que, aos 13 anos, começou a criar algum juízo e aceitou os conselhos da avó, a quem ajudava na feira, para ingressar num projeto social que ensinava o boxe a crianças. Em sua terceira Olimpíada, o pugilista eliminado na estreia em 2008 e 2012, conseguiu, ontem, levantar não só a torcida de quase todo o ginásio como de todo o País, em qualquer lugar que havia uma televisão ligada na hora da luta que, durante os três assaltos de quatro minutos, transformou o boxe em paixão nacional, assim como o salto com vara, ainda que nesse caso o comportamento da torcida brasileira tenha causado polêmica.
Favorito absoluto, último campeão olímpico, o francês Renaud Lavillenie reclamou muito da torcida brasileira, “do futebol”, que participou ativamente da final da prova do salto com vara ontem, no Estádio Olímpico Nilton Santos. Medalha de prata, ele chegou a comparar as vaias que recebeu antes de sua última tentativa com o que teria sofrido o americano Jesse Owens, precursor de Carl Lewis e Usain Bolt, durante a Olimpíada de 1936, em Berlim, sob os olhares de Adolph Hitler. Depois se arrependeu, disse que a comparação talvez fosse exagerada, mas manteve as críticas com relação às vaias, uma descortesia, um desrespeito ao real espírito olímpico, disse ele.
Tem até uma certa dose de razão, o francês mal humorado, se for levada em conta as peculiaridades da prova, a necessidade de concentração para o salto, com o silêncio total ou as tradicionais palmas ritmadas, mas como controlar toda a torcida presente diante do que vinha fazendo o brasileiro Thiago Braz, que até ali nunca tinha saltado além dos 5m92 e, na disputa pessoal pelo ouro com Lavillenie ultrapassou primeiro a marca dos 5m93 e, depois, quando o francês já havia marcado 5m98, bateu o recorde olímpico ao passar sobre o sarrafo a 6m03, garantindo a medalha de ouro, a primeira do Brasil na modalidade?
Nascido em Marília (SP), Thiago foi beneficiário do Bolsa Pódio, programa criado pela presidenta Dilma Rousseff, e foi levado a morar na Itália por seu técnico, o ucraniano Vitaly Petrov, ex-treinador de mitos da modalidade como Sergei Bubka e Yelena Isinbayeva, e que anunciou o fim de sua carreira com a vitória de seu mais recente pupilo. “Encerro minha carreira como campeão olímpico”, disse ele, depois da prova. Maior nome da modalidade em todos os tempos, entre os homens, o ucraniano Sergei Bubka, aliás, mediou uma reconciliação entre Thiago e Renaud após a disputa pela medalha de ouro. Os dois, parece, não se falavam por algum motivo que não ficou muito claro e saíram do encontro com o ídolo dizendo-se reconciliados. Pena que as reclamações excessivas de Renaud tenham ajudado a provocar outra vaia da torcida brasileira ao francês, essa sim lamentável, no pódio, no momento em que ele, recordista mundial com 6m16 (Bubka chegou a 6m15 no último de seus 17 recordes), campeão olímpico em 2012, recebia sua medalha de prata. Algo, realmente, totalmente desnecessário.
Mais emocionante ainda que a disputa no salto com vara, que na categoria feminina teve nova eliminação decepcionante de Fabiana Muhrer, foi a prova dos 1000 metros da canoa individual, em que o baiano Isaquias Queiroz disputou o ouro cabeça a cabeça com o alemão Sebastian Brendel até quase o fim da corrida na Lagoa Rodrigo de Freitas, mas acabou ficando com a prata. O bronze ficou com Serghei Tarnovski, da Moldávia. Isaquias é de Ubaitaba, que em tupi-guarani significa “Cidade das Canoas”. “Lá quem não rema não vive”, dizia, rindo, o atleta que, como Thiago, conquistou para o Brasil a primeira medalha na modalidade. No pódio, Isaquias chorou, se emocionou e prometeu mais. Ele ainda disputará duas provas: a canoa individual nos 200 metros e a canoa dupla nos 1000 metros.
Medalhista de ouro nos Jogos de Londres, também a primeira do País na ginástica artística, Arthur Zanetti foi outro que comemorou intensamente a prata conquistada nas argolas, sua especialidade, nessa Rio 2016. Para ele, o segundo lugar em casa valeu tanto ou mais que “a vitória nas Olimpíadas de 2012. “As pessoas ficam muito focadas no ouro, em ser o primeiro, mas só de estar aqui disputando já é uma vitória e tanto. Com uma medalha de prata, então, vou rir até o fim do ano”. Campeão mundial, o atleta grego Eleftherios Petrounias ficou com o ouro dessa vez, enquanto o bronze ficou com o russo Denis Ablyazin.
E pra fechar a série de medalhas em esportes nunca antes badalados nacionalmente, em termos olímpicos, Poliana Okimoto venceu pela persistência e conquistou, enfim, sua medalha, de bronze, na maratona aquática, ela que ficou em sétimo na sua primeira Olimpíada, em Pequim, saiu carregada do Rio Serpentine nos Jogos de Londres 2012, com hipotermia, e aos 33 anos, em casa, no mar de Copacabana, chegou em quarto lugar, mas foi presenteada pela desclassificação da francesa Aurelie Muller, que segundo os juízes teria dado uma braçada numa adversária durante a prova.
Para contrabalançar as medalhas inesperadas, tivemos também derrotas que não estavam assim tão previstas, como a do vôlei feminino, bicampeão olímpico, eliminado logo nas quartas-de-final, para a China, por 3 a 2; e no handebol das mulheres, campeãs mundiais, com ótima campanha na primeira fase e que caíram, também no primeiro mata-mata, diante da Holanda. No handebol masculino perdemos para a França, mas a classificação às quartas foi o melhor resultado da história, e a eliminação, diante dos campeões mundiais, já era esperada, assim como as do polo aquático feminino, também nas quartas, diante dos Estados Unidos, e masculino, na mesma fase, com derrota para a Croácia apesar de nosso grande goleiro sérvio. Já eliminação do basquete masculino, outrora bicampeão mundial, em 1959 e 1963, foi um pouco mais difícil de engolir, já que, como as mulheres brasileiras da modalidade, os rapazes deram adeus logo na primeira fase.
luis.edmundo@terra.com.br
RosLucc
18/08/2016 - 17h41
Além desses heróis do esporte, vamos dar palmas para o grande cidadão do Brasil, o guarda do posto de gasolina que defendeu o seu posto e apontou a arma para os bandoleiros de fora querendo depredar, mijar, sair sem pagar e ainda passar por heróis. Não tem nada mais simbólico que isso no atual momento. Isso simboliza tanto a problemática brasileira que esse homem tem que ir para a história. Esse cara é mais forte que um presidente babaca e sua trupe, aliás, é o contrário dele. Guarda para presidente.
Enio Silva
18/08/2016 - 17h15
Vídeo de ouro: Rafaela é Dilma!
http://www.conversaafiada.com.br/brasil/video-de-ouro-rafaela-e-dilma
Por que o Brasil vai bater o record de medalhas
http://www.conversaafiada.com.br/brasil/por-que-o-brasil-vai-bater-o-record-de-medalhas
Robson Conceição critica redução da idade penal e pede mais programas sociais para crianças e adolescentes: “Não acho justo puni-los”
http://www.viomundo.com.br/politica/um-dia-apos-o-ouro-olimpico-robson-conceicao-critica-reducao-da-idade-penal-e-pede-mais-programas-sociais-para-criancas-e-adolescentes-nao-acho-justo-puni-los.html
Dilson Magno
18/08/2016 - 09h49
Por que o Brasil vai bater o record de medalhas no descumprimento a democracia, essas medalhas que os corruptos da direita ganharam são dadas pelo tinhoso para que resistam ao fogo do inferno.
Antonio Passos
18/08/2016 - 00h54
Eu acho apenas folclore essa história de um esporte exigir concentração e outros não. Nos EUA a torcida do basquete agita canudos atrás da tabela, para atrapalhar o adversário nos lances livres. Porque isso não é falta de educação ? Costumes nada mais. Berrar pra tirar a concentração de um jogador que vai bater um pênalti numa final de Copa pode, andar na arquibancada quando o tenista vai sacar não. É brincadeira né. Em determinados esportes o atleta pode ser infernizado, em outros deve ser tratado como príncipe. Porque ?
Antonio Passos
18/08/2016 - 00h47
As Olimpíadas estão sendo um sucesso, como já o fora a Copa (que a seleção da Globo fez tudo para estragar). Com todas as pequenas (e tolas) falhas, o saldo é extraordinariamente positivo. Nem a portentosa uruca que a classe “de mal com a vida” jogou, com seu pessimismo abissal, conseguiu evitar a festa. Aliás por falar em “de mal com a vida”, vale destacar o surto anti olímpico que acometeu o Paulo Nogueira do DCM, que achou a abertura uma “miséria” e chamou nossa torcida de mal educada. No fundo eu acho que tudo não passa de inveja de paulista. Rsss