Para coordenador do MTST, denúncia de senador que disputou primárias com Hillary Clinton reforça as manifestações feitas no Brasil, durante a Olimpíada, quando o país está sob os holofotes do mundo
A denúncia do senador por Vermont Bernie Sanders, que disputou com Hillary Clinton a indicação do Partido Democrata para as eleições presidenciais nos Estados Unidos, em novembro, é significativa e reforça as denúncias contra o golpe no Brasil num momento de Jogos Olímpicos em que o país está sob os holofotes do mundo. “São iniciativas importantes todas as que ajudem a denunciar o golpe internacionalmente e façam com que a comunidade internacional questione e não reconheça o governo ilegítimo do Brasil”, diz o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo sem medo, Guilherme Boulos.
“A declaração do Bernie Sanders vai nesse sentido, assim como as mobilizações feitas aqui no Brasil, durante as Olimpíadas, também têm a mesma finalidade”, diz.
Ontem (8), o ex-pré-candidato preferido da esquerda democrata, que tem a simpatia de um público jovem e esclarecido que exige mudanças no sistema político norte-americano, disse estar “profundamente preocupado com os atuais esforços para destituir a presidente democraticamente eleita do Brasil”.
Segundo ele, “para muitos brasileiros e observadores o controverso processo de impeachment mais parece um golpe de Estado”. O senador democrata denunciou o governo de Michel Temer dizendo: “Após suspender a primeira presidente mulher do Brasil com argumentos duvidosos, sem um mandato para governar, o novo governo interino extinguiu o ministério das mulheres, da igualdade racial e dos direitos humanos”.
Desde o início do processo de impeachment de Dilma Rousseff, Sanders foi a voz mais importante de seu país a se pronunciar contra a situação. O presidente Barack Obama não se manifestou a respeito, mas seu governo adota a posição de que os Estados Unidos não devem se intrometer nas questões brasileiras.
Na opinião do coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Luis Fernando Ayerbe, Sanders se cacifou muito no processo de escolha do candidato democrata, mesmo tendo perdido a indicação para Hillary. Com esse cacife, “ele está tomando atitudes as quais buscam forçar posições mais progressistas por parte da campanha democrata, e busca também forçar posições progressistas de Obama, que, segundo Sanders, deveria se posicionar contra o impeachment da Dilma”, diz. “Sanders está utilizando politicamente a importância do apoio da esquerda ao Partido Democrata com relação à eleição, para lançar propostas mais ousadas.”
Na opinião de Ayerbe, Obama não vai assumir a linha proposta por Sanders. “A posição que o presidente vai adotar, que já adotou, é que as instituições brasileiras resolvam suas questões. Não é porque Sanders pediu, que Obama vai acatar”, avalia. É duvidoso mesmo que Hillary assuma a posição defendida pelo senador, diz, já que o Brasil não é um tema que polarize as opiniões do eleitorado norte-americano.
Para Boulos, independentemente de o senador democrata estar tentando atingir o eleitorado interno nos Estados Unidos, levando-o mais à esquerda, a importância da fala de Sanders continua grande. “Ele tem as razões dele para falar. A questão é o significado político que isso tem para nós. É uma voz importante no cenário internacional, caracterizando o processo no Brasil como um processo golpista. Isso nos ajuda a quebrar bloqueios”, afirma.