por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
Chegou a sexta-feira, dia mais esperado da semana para quem não trabalha no sábado.
Para os editores e jornalistas dos portais da mídia golpista, porém, a sexta não difere muito dos outros dias.
É apenas mais um dia para se fazer o de sempre: defender os interesses da plutocracia – o editorial de hoje de O Globo critica o imposto sobre grandes fortunas, o que não deve ter nada a ver com o fato de a fortuna somada dos irmãos Marinho ser a maior do Brasil -, ignorar (ou elogiar) as aberrações cometidas pelo governo de Michel Temer e, é claro, atacar o PT. A chama do golpe não pode morrer.
Na Folha temos a volta do sítio de Atibaia, com álbum de fotos aéreas do sítio, inclusive dos luxuosos pedalinhos. Segundo a reportagem, um laudo da PF aponta indícios de que Lula e Marisa Letícia orientaram reformas no sítio, feitas pela OAS.
Mas é em uma notícia sobre a futura delação de executivos da Odebrecht, no Globo, que encontramos uma informação importante sobre a história do sítio. Segundo a matéria, Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, questionado por procuradores do MPF sobre as reformas no sítio de Atibaia e no apartamento do Guarujá, reconheceu as benfeitorias mas não as associou com vantagem obtida pela empresa junto ao governo federal.
No Estadão há uma matéria sobre a delação de Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, na qual ele fala de reuniões com petistas. Destaco alguns trechos interessantes:
O empreiteiro diz que perguntou a Berzoini, a Vaccari e a Paulo Ferreira se haveria uma contrapartida. “Perguntei se isso ia representar algum benefício para a empresa, falou (sic) que não tinha obrigação de nada, que não iriam atuar no sentido de nos ajudar a conquistar mais coisas, não iriam atuar a favor da gente, era simplesmente uma atitude de apoiamento a um partido político que estava no governo.”
(…)
Nossa vontade, da construtora Andrade Gutierrez, era de não fazer (doações).”
E por que fizeram?, questionou o juiz.
O empreiteiro deu risada. “Por não ter vantagem nenhuma eu tenho impressão que foi uma coisa inexplicável do ponto de vista das relações até empresariais. Porque se não tivemos vantagem. Parte do que foi contribuído foi tirado de resultado, porque eram contratos já definidos, não havia razão. No caso do acordo do Berzoini não tivemos vantagem em nenhum momento. Foi oferecido um tranpolim de relacionamento.”
A tese de que as doações legais ao PT seriam na verdade propina relacionada a contratos na Petrobras não se sustenta caso essas declarações de Otávio Azevedo não sejam desmentidas com provas pela acusação.
Do contrário, seria a primeira propina da história da humanidade em que não há contrapartida.
Os delatores certamente entenderam o jogo da Lava Jato: delate de acordo com a linha acusatória e ganhe seu prêmio. Mesmo assim, não conseguem apontar o ato ilegal de favorecimento por parte do PT ou do governo que caracterizaria crime.
Claro que é bastante questionável a relação de Lula e do PT com as empreiteiras.
Essa relação simboliza a estratégia de conciliação de classes adotada pelo partido desde que chegou ao poder. O PT mergulhou no jogo da política tradicional sem pudores. Quando Lula tinha a popularidade e as condições econômicas adequadas para promover mudanças estruturais, como reforma política e tributária, não o fez. Ao mesmo tempo em que promoveu inclusão social importantíssima, em larga escala, proporcionou às classes abastadas aumentarem seus ganhos.
Mas esses questionamentos partem, obviamente, da esquerda. O problema da direita com o PT é outro: estamos vivendo uma crise econômica e o partido não é confiável.
Apesar de todas as concessões aos adversários, de uma política econômica francamente neoliberal em vários aspectos, o PT não é confiável para entregar o prato que o mordomo Temer entrega sem pestanejar: a conta da crise deve ser paga pelos pobres e pela classe média.
Imposto sobre o patrimônio nem pensar, mas reforma da previdência, por que não?
O governo ilegítimo quer aposentadoria aos 70 anos.
A expectativa de vida da população brasileira, segundo o IBGE, é de 75,2 anos.
Não pense em crise, trabalhe. Até morrer.