Por Penélope Toledo*
Duas equipes se enfrentam, uma alvinegra e a uma rubro-negra. Portanto, a arquibancada está pintada, em parte, de branco e preto, em parte, de vermelho e preto. Correto? Não, errado.
Com a moda dos terceiros uniformes com cores diferentes das tradicionais dos clubes, o que se vê nas torcidas é um imenso colorido. É um tal de camisa laranja, amarelo fluorescente (marca-texto), verde-limão, azul-bebê, marrom, roxa, vinho, cinza etc que, olhando apenas para as arquibancadas, fica impossível arriscar um palpite sobre quais os times que estão em campo.
Trata-se de uma moda importada da Europa, onde é comum o terceiro uniforme “diferente” e com grande renovação dos modelos. Não se pode afirmar com precisão quando chegou ao Brasil, mas um marco foi a camisa na cor verde-limão lançada pelo Palmeiras em 2007. De lá para cá, se multiplicou, alcançando, inclusive, os clubes “menores”, como o Ferroviário de Araraquara.
Financeiramente, contribui para ampliar as receitas dos clubes, já que são mais modelos de camisas para a coleção dos/as torcedores/as. Mais que isto, é uma estratégia de marketing para atrair a atenção e para fidelizar o consumo dos produtos oficiais. A camisa laranja do Fluminense, por exemplo, é campeã de vendas – e na Argentina, o uniforme rosa foi o mais vendido da história do Boca Juniors!
Entretanto, futebol não é só receita. Existe um forte componente de identidade cultural, cuja cor se associa, no imaginário coletivo, ao clube. São aquelas cores tradicionais que representam a sua história, que são defendidas dentro de campo, que remetem os/as torcedores/as aos momentos de glórias e superações, que traduzem a personalidade do clube e sua relação com a torcida.
É claro que tudo o que contribui para melhorar a autonomia financeira dos clubes e, consequentemente, sua independência com relação aos patrocinadores, emissoras de televisão e venda precoce de jogadores, é bem-vindo. Mas nada impõe que isto seja feito sem cautela. É fundamental que os dirigentes compreendam que na arquibancada também está uma parte bonita do clube e do espetáculo futebolístico. E o dinheiro não pode falar mais alto.
*Penélope Toledo é jornalista e participa do Coletivo de Futebol, Mídia e Democracia e do Movimento Torcedores Pela Democracia.