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Yelena, Yulia e a novela russa sem fim

Crédito: AP Photo/Keystone Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho Há delatoras e delatores, nesse caso muito provavelmente não premiados, denúncias gravíssimas que remontam a tramas de James Bond e respostas imediatas do dito vilão da história, com documentários produzidos às pressas, inclusive, pra mostrar que tudo não passa de um grande complô […]

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Crédito: AP Photo/Keystone

Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho

Há delatoras e delatores, nesse caso muito provavelmente não premiados, denúncias gravíssimas que remontam a tramas de James Bond e respostas imediatas do dito vilão da história, com documentários produzidos às pressas, inclusive, pra mostrar que tudo não passa de um grande complô internacional, ocidental, contra seus atletas campeões, e ontem houve o recuo do Comitê Olímpico Internacional (COI), que não baniu toda a Rússia da Olimpíada do Rio de Janeiro. Diante do pedido de banimento feito pela Agência Mundial Antidoping (Wada), que acusou o governo russo de acobertar e estimular um grande esquema de doping nos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014, o COI delegou a cada federação internacional, de cada modalidade, a decisão de banir ou não os russos da competição, como já fez a Associação Internacional das Federações de Atletismo (Iaaf), o que tirou a bicampeã olímpica do salto com vara Yelena Isinbayeva, de novo, dos primeiros Jogos Olímpicos da história em território sulamericano.

Primeiro Isinbayeva não vinha mais, depois abriu-se uma brecha e a presença da estrela da delegação russa já era quase dada como certa quando agora, mais uma vez, ela não vem mais, ainda que reste a ínfima esperança do recurso que a atleta tentará no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Mãe de uma menina de dois anos, com muita vontade de dedicar pela primeira vez uma medalha olímpica à filha, Yelena até já fez sua despedida emocionada, escrevendo o seguinte nas redes sociais:

É o fim da nossa luta para ir ao Rio de Janeiro. Não vou voltar ao degrau mais alto do pódio nos Jogos Olímpicos. Não vou ouvir o hino nacional russo em minha honra. Não vou mais prestigiar os fãs com os meus voos por cima da barra. Magoa-me esta injustiça. Ninguém se levantou e defendeu nossos direitos. É triste. São lágrimas de impotência perante esta ilegalidade. As lágrimas são de consciência de que fiz tudo pelo atletismo. Estava aqui antes dos 10 anos. Os meus recordes mundiais, vitórias… Tornei-me a número um do mundo. A minha vitória em Cheboksary ainda é a melhor marca do ano na temporada. O que eu poderia dar ao mundo no Rio, as emoções… Quero chorar por mim.

Isinbayeva também não escondeu sua decepção com o que considerou uma defesa pífia por parte do governo russo, e a raiva por ficar de fora, direcionada inclusive aos adversários estrangeiros. “Nossa força sempre os assustou. Que todos os atletas estrangeiros pseudo-limpos respirem aliviados e ganhem suas pseudo-medalhas de ouro em nossa ausência”, escreveu ela, de novo nas redes sociais. Já nas críticas à corredora e conterrânea Yulia Stepanova, especialista dos 800 metros que junto com o marido, Vitaly Stepanov, ex-funcionário da agência antidoping russa, delatou o esquema usado pela Wada para pedir o banimento de toda a Rússia dos Jogos, a recordista mundial do salto com vara foi ainda mais contundente.
Stepanova russaEnvolvida com doping no passado, Stepanova recebeu em 2013 uma punição de dois anos de suspensão pela Iaaf. Por ter delatado o esquema que, segundo a Wada, incluía trocas de frascos de urina com a participação até da agência de espionagem russa FSB, antiga KGB, Stepanova nutria a esperança de competir no Rio sob a bandeira olímpica, hipótese jamais aventada por Isinbayeva, que desde o início dessa celeuma deixou bem claro que jamais competiria por outra bandeira que não fosse a russa. No domingo, porém, o COI frustrou as expectativas  da corredora e a incluiu no rol dos banidos de todo o atletismo russo, e Yelena não perdoou: “ao menos se tomou uma sábia decisão sobre o atletismo”, disse a bicampeã olímpica, que não se conteve e foi além: “ela deveria ser suspensa por toda a vida”.

O diretor-geral da Wada, Olivier Niggli, criticou a decisão do COI de delegar às federações internacionais o banimento, ou não, dos russos. Disse que a medida vai levar a potenciais problemas e reduzir a proteção aos atletas limpos. Já o vice-presidente do COI, John Coates, disse o oposto, que a decisão de não banir todos os russos visou exatamente proteger quem nunca se envolveu com doping, o que não foi o caso, infelizmente, de Yelena Isinbayeva, maior de sua época em sua modalidade, nunca envolvida com qualquer substância proibida e, no entanto, banida, pelo menos por enquanto, assim como a delatora de toda a história nessa novela russa que, às vésperas da Olimpíada, parece não ter fim.

luis.edmundo@terra.com.br

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Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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Comentários

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Antonio Passos

26/07/2016 - 12h18

A hipocrisia não é um privilégio brasileiro, ele é apenas mais sofisticado em culturas mais avançadas. Não existe nenhum atleta de alto nível que não use drogas. A diferença é que o doping russo é descoberto antes, o americano só anos mais tarde. Depois que a bandeira americana já tremulou e a propaganda já foi feita.

Antonio Filho

26/07/2016 - 00h17

Qual é o lance? É uma tara? Até na hora de relatar a tristeza de uma atleta é preciso fazer proselitismo político, acusando um descontentamento com o governo russo que sequer foi expresso pela atleta? PQP! Essa canalhice tem que parar de algum jeito!


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