(João Santana. Foto: Reprodução/TV Brasil)
Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
Aproxima-se a votação final do impeachment no Senado e a Lava Jato volta a exercer o seu papel no golpe: subsidiar a mídia cartelizada com manchetes envolvendo o PT para manter a mobilização da opinião pública contra o partido e assim pressionar os senadores a não se atreverem a sair do script golpista.
Aqui cabe um parêntese: uma das muitas evidências de que esse impeachment é uma grande farsa é o fato de que ele não tem nada a ver com a Lava Jato. A operação é usada pra mobilizar a população e os parlamentares contra o PT porque é impossível mobilizar alguém para derrubar a presidenta eleita com a justificativa oficial do impeachment – operações contábeis que não causaram prejuízo aos cofres públicos e foram realizadas sem qualquer questionamento por FHC, Lula, vários governadores e inclusive por Michel Temer no seu mandato interino, claro que agora com o aval do “órgão técnico” TCU -.
Pois bem, a verdadeira tortura de Estado empreendida pela Lava Jato sobre os réus, através da prisão preventiva por tempo indeterminado (na verdade, determinado: até que fechem um acordo de delação premiada que corrobore a linha acusatória) acaba de gerar mais um fruto promissor para a agenda do golpe.
João Santana e sua esposa e sócia, Mônica Moura, afirmaram ontem, em depoimento diante de Sérgio Moro, que receberam US$ 4,5 milhões em uma conta do exterior, oriundos de caixa 2, como quitação de uma dívida da campanha de Dilma em 2010. O casal confessou que mentiu à PF em fevereiro, quando disse que esses valores eram referentes a campanhas realizadas em outros países.
Perguntado por Moro sobre os motivos desse pagamento ter sido feito via caixa 2, já que a mesma pessoa havia doado oficialmente para a campanha petista, Santana elencou os motivos pelos quais o expediente é utilizado largamente, no Brasil e no exterior: os preços das campanhas são altos; os doadores não querem estabelecer uma relação explícita com os partidos e candidatos; há limites legais para doação; para evitar o “leilão” entre doadores.
A relação entre a fartura financeira de uma campanha e a possibilidade de o candidato ser eleito é direta. Assim, não surpreende que o caixa 2 seja prática generalizada. Quem não pratica tem uma desvantagem competitiva enorme, afinal, como referiu Santana, muitos doadores só doam se não houver registro oficial.
O caixa 2 deve ser combatido porque torna a disputa entre os candidatos ainda mais desigual, ferindo o princípio da democracia, que é o da igualdade. Urgente, portanto, pensarmos os melhores mecanismos pra que o caixa 2 deixe de ser corriqueiro. Financiamento público para possibilitar o controle efetivo dos recursos e voto em lista para garantir a igualdade entre os candidatos são boas ideias a serem testadas.
Uma pena que discutir as maneiras de melhorar o sistema político passe bem longe dos objetivos da mídia oligopolizada, o que faz com que esse debate não chegue à absoluta maioria dos brasileiros. A meta da imprensa conservadora no momento é uma só: sacramentar o golpe no Senado. E para isso ela conta com o timing político impecável dos seus fieis parceiros incrustados na burocracia estatal.