Questionado por site de notícias, Datafolha admite imprecisão em pesquisa sobre Temer

Brasília - O presidente interino Michel Temer se reúne com ministros da área econômica e líderes do governo, para, discussão de medidas para incentivar o crescimento da economia (Antonio Cruz/Agência Brasil

no PSOL

O Instituto Datafolha admitiu, nesta quarta-feira (20), que houve imprecisão na análise dos dados sobre pesquisa que mostrou a preferência do brasileiro em relação à permanência de Michel Temer na presidência da República. A pesquisa foi divulgada no sábado (16) na Folha Online e no domingo (17) no jornal Folha de São Paulo, cuja matéria trazia um título que inicialmente dizia “Datafolha aponta que metade dos brasileiros prefere Temer a Dilma”, depois foi editado para “Para 50% dos brasileiros, Temer deve ficar; 32% pedem a volta de Dilma”.

O reconhecimento do instituto de pesquisa foi depois que o site de notícias Intercept, do jornalista Glenn Greenwald, questionou a forma como os dados foram divulgados e disse que o jornal havia cometido uma “fraude jornalística”.

“Ontem [19], os dados completos e as perguntas complementares [da pequisa] foram divulgados. Tornou-se evidente que, seja por desonestidade ou incompetência extrema, a Folha cometeu uma fraude jornalística. Apenas 3% dos entrevistados disseram que desejavam a realização de novas eleições, e apenas 4% disseram que não queriam nem Temer nem Dilma como presidentes, porque nenhuma dessas opções de resposta encontrava-se disponível na pesquisa”, diz o site de notícias.

No texto em que faz os questionamentos, o Intercept divulgou trechos de uma entrevista feita com Luciana Schong, do Datafolha, que disse que “qualquer análise desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seriam imprecisos, sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas”. Luciana afirmou à agência de notícias que foi a Folha, e não o instituto de pesquisa, que estabeleceu as perguntas a serem feitas aos entrevistados e reconheceu “o aspecto enganoso na afirmação de que 3% dos brasileiros querem novas eleições”, “já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados”, quando a pergunta foi sobre a permanência de Temer ou a volta de Dilma.

A Intercept observa que a Folha de S.Paulo não divulgou as perguntas realizadas, nem os dados de suporte, impossibilitando, assim, segundo o site, a verificação dos fatos que sustentam as afirmações. A matéria da Folha afirma que 3% dos entrevistados disseram que desejavam novas eleições, e 4% que não queriam nem Temer nem Dilma como presidentes, porque nenhuma dessas opções de resposta encontrava-se disponível na pesquisa. O site considerou incorreta a afirmação de que 3% dos brasileiros acreditam que “novas eleições são o melhor para o país”, pois a pesquisa não colocou essa pergunta aos entrevistados.

Ao perguntar se Temer fica, quando a única opção restante é Dilma ficar, para o site de notícias é “incorreto dizer que 50% dos brasileiros acreditam que a permanência de Temer seja melhor para o país” até o fim do mandato de Dilma. Só é possível afirmar que “50% da população desejam a permanência de Temer se a única outra opção for o retorno de Dilma”, disse o Intercept. O site entrevistou a professora de ciência política da Unicamp Andréa Freitas, para quem: “como as novas eleições são uma opção viável, deveriam ter sido incluídas como uma das opções”.

33% não conhece Temer
O líder do PSOL, deputado Ivan Valente (SP), comentou a divulgação feita pela Folha. Segundo ele, a grande imprensa interpreta e apresenta os fatos de acordo com as suas preferências políticas. “Isso seria menos grave, em primeiro lugar, se a posição ideológica fosse mais assumida e, segundo, se outras opiniões também circulassem como contraponto. De modo geral, não é o caso, vista a concentração de informação nos monopólios dos meios de comunicação”, avalia.

O deputado destacou a omissão quanto ao dado de que 33% dos entrevistados não conhece o presidente interino. “Algo que valeria maior destaque: 33% dos entrevistados simplesmente não sabem quem é o atual presidente da República. Visto os escândalos de corrupção que assolam o governo, as medidas impopulares que estão sendo prometidas e a incrível falta de carisma de Temer, se conhecessem de fato o presidente interino, podemos supor que seus índices de popularidade seriam ainda piores”.

Em relação à informação de que 50% dos entrevistados defende a permanência de Temer, Valente também argumenta que a informação é insuficiente quando se analisa as outras perguntas e os demais dados. “Também seria pior, muito provavelmente, ‘a cereja do bolo’ da pesquisa: o gráfico na capa, que apresenta 50% defendendo que Temer deve continuar na presidência. Esse número supostamente legitimaria o afastamento de Dilma. Considerando que 33% não sabem que Temer é presidente, seria mais honesto destacar esse recorte, onde os 50% representam os entrevistados que ao menos conhecem o nome do interino. E infelizmente não há como medir qual seria a opinião dos brasileiros, caso a maioria soubesse realmente tudo o que está em jogo”.

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