Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Por Tadeu Porto* (@tadeuporto), colunista do Blog O Cafezinho
Hoje o jornal O Globo noticiou, sem dar muitos destaques naturalmente, que Eduardo Cunha intermediou encontros entre o então vice-presidente Michel Temer e o ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo.
Nesse sentido se tem, no mínimo, uma relação institucional interessante. Por um lado, um empresário réu confesso que superfaturou obras e abusou de apoio político para ganhar licitações e enriquecer cada vez mais; por outro lado, um (preste a ser ex) legislador que tem contas ilegais na Suíça, mentiu para o país inteiro numa CPI e é considerado, por muitos, o político mais corrupto do país; e por outro mais, completando esse tripé, temos um membro do executivo, presidente interino, que é …… um santo.
Isto é, no ciclo vicioso das doações empresariais tem-se o empresário com dinheiro (Azevedo, réu confesso), o parlamentar para legislar projetos de interesse do capital (Cunha, [quase] culpado) e o ex-presidente do partido que recebeu o doário (Temer).
Em outras palavras, o pobre Michel Temer está parecendo a personagem da premiada atriz Reese Witherspoon no filme Segundas Intenções (Cruel Intentions, 1999): uma reles inocente que se vê envolvida num triângulo amoroso com dois sociopatas criminosos.
O ex-presidente do PMDB chegou ao poder, por um golpe, justamente para “passar o Brasil a limpo” e “acabar com toda essa corrupção sistêmica e institucional, iniciada em 2003”. E agora vê seu nome ligado a acusações – que os astros ainda mostrarão serem levianas – de propinas no Porto do Santos, doações ilegais e reuniões investigadas pela Polícia Federal.
Nesse momento, o Brasil assiste apreensivo esse episódio: não é possível que o homem de unificação, o escolhido para dizimar a corrupção das páginas da história brasileira apareça em tantas acusações. É certo que o vice-presidente não só tem um certo “dedo podre” para ministros – cada hora um diferente aparece em alguma investigação – como também deposita suas tarefas difíceis na fé errada, mas isso não deve passar de azar, afinal, um político que usa mesóclise nunca será corrupto [jamais! São coisas incompatíveis].
Fico aqui pensando com meus botões: será que Michel é tão corrupto quanto Eduardo ou Otávio? Ou ele apenas cumpre seu dever constitucional dentro da lei, recorrendo ao parlamentares e empreiteiros, mesmo que criminosos, somente quando é necessário para o bem do povo brasileiro?
Bom, prefiro acreditar em segundas opções. Todavia, sou um milhão de pessoas diferentes de um dia para o outro e, nessa sinfonia doce e amarga que é a vida, minha opinião pode mudar de repente, como a trilha sonora de um filme.
Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense