Foto: Washington Alves/Light Press/Cruzeiro
Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho
Basta a polêmica, algum assunto que extrapole o campo de jogo na rodada de fim de semana e temos de novo, mais uma vez, a oportunidade de comprovar o pensamento único da nossa grande mídia em sua editoria mais vibrante, divertida, descontraída: o esporte. O assunto do fim de semana envolveu a declaração infeliz, descontrolada, do atacante colombiano Riascos, que desrespeitou profundamente a camisa que ele mesmo vestia, bicampeã sulamericana, quando falou o que falou à Rádio Itatiaia. Das bancadas dos programas de debate, todos muito parecidos, só saíram as críticas merecidas ao destempero de Riascos. Nada, nem um porém na direção do presidente do Cruzeiro que, por birra contra o presidente do Vasco, abriu mão de economizar R$ 250 mil mensais por um jogador reserva e, de quebra, criou as condições para que a história registre, desde ontem, essa ofensa desnecessária ao time campeão brasileiro em cima do Santos de Pelé, primeiro dando de 6 no Mineirão, e depois, fora de casa, virando de 2 a 0 pra 3 a 2.
Conhecido dos torcedores brasileiros, mineiros principalmente, desde o pênalti perdido com o Tijuana, do México, no último minuto das quartas-de-final da Libertadores de 2013, contra o Atlético Mineiro, em que marcou um gol no jogo de ida e outro no de volta, Riascos teve 100% de seus direitos econômicos adquiridos pelo Cruzeiro em janeiro de 2015. Assinou por três anos, mas na metade do primeiro deles já estava emprestado ao Vasco, onde até fez gols em seus primeiros jogos, inclusive o da primeira vitória do time no campeonato em que viria a ser rebaixado, contra o Flamengo. Mas as derrotas continuaram, o Vasco caiu para a lanterna da competição e o colombiano ganhou da torcida o apelido de Fiascos, depois da goleada de 4 a 0 para o São Paulo, em Brasília, em que perdeu três gols absolutamente feitos, um seguido do outro.
Ao lado do amigo Zinho, colega do Tetra em 1994, Jorginho entrou no lugar do treinador Celso Roth. O Vasco reagiu, subiu na tabela e Riascos virou titular absoluto. A boa campanha na reta final do campeonato não impediu o rebaixamento, mas o time foi mantido e, com a ajuda de outro auxiliar de Jorginho, o ex-atacante Valdir Bigode, discreto e eficiente em sua época, Riascos virou o artilheiro da equipe, com gols fundamentais na campanha do bicampeonato estadual invicto. Continuou a protagonizar lances bizarros, sim, alguns deles simplesmente incompreensíveis, mas estava feliz a ponto de pegar o filho na torcida pra comemorar um gol. Fez ainda o gol do título da Taça Guanabara contra o Fluminense, marcou contra o Botafogo e, contra o Flamengo, além de gols importantes, chegou a lembrar Garrincha.
O Vasco, que pagava mais ou menos a metade do salário de Riascos, ofereceu pagar todos os R$ 250 mensais para prorrogar o empréstimo do atacante que, até pelo lado folclórico, havia caído nas graças da torcida. Com o time carioca jogando a Série B, sem chance de enfrentar o Cruzeiro a não ser num hipotético encontro na Copa do Brasil, a negociação chegou a ser dada como certa até quase o fim do empréstimo, quando o presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares, resolveu exercer o direito de propriedade do clube e chamou de volta o atacante, avisando que não era o momento de “fazer bondade” com os outros clubes.
Nos bastidores, comentava-se que o recuo de Gilvan se deveu a desentendimentos com Eurico Miranda, presidente do Vasco, em relação à Primeira Liga, a competição organizada este ano por clubes da Região Sul, de Minas e a dupla Fla-Flu, do Rio, na mesma época em que foram realizados os campeonatos estaduais, em clara afronta às federações dos estados. Gilvan é também o presidente da Primeira Liga e Eurico é aliado da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, ferrenho defensor dos estaduais. Da rixa teria saído a recusa em prorrogar o empréstimo de Riascos ao Vasco, decisão que, agora, se mostrou a pior possível, em todos os níveis.
Gilvan não pensou no lado financeiro do negócio, na economia de R$ 250 mil mensais com um reserva pouco utilizado e no possível futuro lucro com uma venda eventual, caso o atacante continuasse a se destacar pelo Vasco. Seu erro maior, no entanto, foi não pensar no fator humano. Feliz no Rio, de bem com o time e com a torcida, Riascos foi obrigado a voltar ao clube onde já não tinha dado certo. Na reserva, pressionado, certamente muito chateado com a volta indesejada, Riascos cometeu seu erro maior e atingiu seu próprio time. Pediu desculpas depois nas redes sociais, mas o estrago já estava feito.
E nas bancadas dos programas de debates esportivos, em todos os canais o jogador foi criticado pelo destempero, justamente até, mas só ele. Nenhuma palavra contra o cartola, nem um ai contra o presidente que, valendo-se de seu direito legítimo, permitiu, com sua decisão equivocada, esse vexame histórico ao grande Cruzeiro, tetracampeão brasileiro.
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